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Compartilhamento de carro e outras ideias ajudarma a mudar o trânsito de Paris, diz Víctor Etgens, especialista em mobilidade. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Compartilhamento de carro e outras ideias ajudarma a mudar o trânsito de Paris, diz Víctor Etgens, especialista em mobilidade.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Curitiba tem 1,45 milhão de automóveis, a grande maioria carros de passeio que passam em média duas horas por dia em movimento e ficam parados no restante do tempo. Um grupo de empreendedores viu nesse tempo perdido em estacionamentos uma oportunidade de negócios para eles e para os donos dos veículos, além de contribuir para otimizar o uso do carro nos ambientes urbanos cada vez mais congestionados. Assim nasceu, em Curitiba, a Fleety, uma empresa de compartilhamento de veículos que permite ao proprietário ganhar dinheiro no período em que não o está usando.

Em discussão

O case da startup Fleety será apresentado nesta sexta-feira, no segundo dia do seminário internacional “Uso do automóvel na cidade”, da prefeitura de Curitiba, Universidade Positivo, o GRPCom, ACP e Renault do Brasil. Saiba mais no site do evento

Uma ideia só não faz diferença

Compartilhar o próprio carro ou usar a carona solidária tornaram-se tão comuns entre os franceses que hoje o trânsito de Paris flui melhor do que há duas décadas. As restrições a carros na área central levaram as pessoas para os transportes públicos ou alternativos. As impressões são do brasileiro Víctor Etgens, uma autoridade no assunto.

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Uber, uma carona paga e polêmica

O Uber, aplicativo de celular criado há quatro anos nos Estados Unidos, tem provocado polêmica em vários países por funcionar como uma carona paga ao conectar diretamente passageiros a motoristas. Taxistas saíram às ruas no Brasil, na Índia, na Espanha, na Inglaterra e na Tailândia reclamando de concorrência desleal e violação das leis locais, já que um cidadão que atue como chofer não tem autorização para fazer esse serviço.

O Uber começou no Brasil em junho de 2014, no Rio. Um mês depois estava em São Paulo, em seguida em Belo Horizonte e Brasília. O serviço ainda funciona com uma quantidade limitada de carros. A prefeitura paulista cogitou barrar o serviço, mas não passou disso. O Brasil ainda não dispõe de uma legislação para regular essa prestação de serviço.

A proposta da Fleety é um consumo mais inteligente do carro, permitindo ao dono recuperar parte dos custos com IPVA, seguro, combustível, estacionamento, manutenção e outras despesas camufladas no orçamento sem que a pessoa se dê conta. A empresa faz a intermediação, via site, entre o locatário e o locador. “É uma oportunidade de o proprietário se rentabilizar com esse veículo, que hoje é um ônus”, diz o CEO da Fleety, André Marim.

Em seis meses de operação, a startup tem três mil usuários cadastrados e mais de 200 carros ofertados em sua plataforma on-line. Curitiba, onde a ideia foi posta em prática em setembro, responde por 60% desse mercado, mas a região metropolitana de São Paulo já chegou a 40% em um mês e meio de funcionamento. Até o fim de fevereiro a empresa contabilizava 235 negócios e mais de duas mil horas de locação. André vê um crescimento exponencial do negócio, que praticamente tem dobrado de um mês para o outro. Há, portanto, um mercado promissor no país.

A Fleety tem média de um carro para 15 pessoas cadastradas em sua plataforma on-line, mas em mercados maduros, a exemplo do americano e do europeu, chega a um para 40 pessoas. São muitos os atrativos para o proprietário e o locador. O pagamento com cartão de crédito elimina a inadimplência. A transação inclui um seguro que cobre colisões, roubos, morte, invalidez. A Fleety provê o seguro sem custo adicional para o dono, que não precisa usar o seu próprio seguro. Em geral, esse seguro é mais completo do que o proporcionado pelas locadoras de veículos.

A empresa cobra 20% sobre o valor da transação, para oferecer o serviço em si, o seguro, a assistência 24 horas durante a locação. A taxa já está incluída no valor da hora locada. Dos carros disponíveis atualmente, a maioria custa em média R$ 12 ou R$ 13 por hora locada, mas há muitos top de linha. O portfólio vai do Uno Mille básico a R$ 5 por hora até a Grand Cherokee a R$ 50 por hora. Nesse meio também há carros por demanda, como utilitários e esportivos. A Fleety só não cadastra carros com mais de 10 anos de fabricação ou com mais de 100 km rodados.

Como funciona

Saiba como usar o Fleety:

Cadastro no site

É o primeiro passo tanto para quem quer alugar um carro para si quanto para quem quer disponibilizar o seu.

Achar um carro

Pesquise na tela de “busca” e use os filtros para ir direto ao modelo que deseja. Ao achar um veículo, olhe as avaliações feitas por outros usuários. Em caso de dúvidas, mande uma mensagem para o proprietário pelo serviço de mensagem da Fleety.

Reserve o veículo

São três passos: escreva uma mensagem ao proprietário falando do motivo da locação, insira os dados de pagamento e aguarde a resposta do proprietário.

Solicitaram seu veículo?

Você pode pesquisar sobre a pessoa que quer alugar o seu veículo. Olhe no perfil dela as avaliações, veja se tem amigos em comum e mande uma mensagem se precisar de mais alguma informação.

Usando o veículo

No dia e horário combinado, vá até o local de retirada do veículo. A Fleety incentiva a interação dos usuários, por isso recomenda o contato entre locador e locatário para que conferir juntos o veículo e esclarecer as dúvidas.

Ao término da locação, o proprietário avalia o locatário na plataforma on-line e vice-versa. “Isso gera um ranking dentro da plataforma”, explica André. Futuros locatários e locadores poderão se basear nesses comentários para decidir se fecham negócio com alguém. A Fleety faz a intermediação, mas incentiva a interação dos usuários, por isso recomenda um contato pessoal entre ambos antes de fechar a locação. Metade dos cadastrados tem entre 25 e 35 anos. Os donos se dividem em proporções iguais entre homem e mulher. Entre os locatários, 70% são homens.

Uma mudança cultural em curso

O CEO da Fleety vê uma mudança cultural em curso na relação dos brasileiros com os carros. Nas décadas de 80 e 90, diz ele, o carro tinha um caráter de status, um bem quase intangível que se valorizava nos anos seguintes à retirada da concessionária. Hoje os carros tendem a perder logo o valor monetário e as novas gerações os têm visto mais como um serviço e não tanto como uma posse.

“O que tínhamos era uma idolatria do carro. Hoje ele passa muito mais por uma necessidade de serviço. É o que a gente chama de mobilidade como serviço”, explica André. Para ele, os jovens contemporâneos pensam mais “eu preciso para me deslocar” e nem tanto “eu preciso para gerar um status”.

André diz notar essa mudança cultural ao analisar o perfil das pessoas cadastradas no Fleety, que cada vez mais veem o carro como uma ferramenta de deslocamento. “Compartilhar não significa deixar de amar o seu carro. A plataforma se dispõe a amar tanto quanto e oferece toda a segurança na hora da locação.”

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