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Durante 30 anos a socióloga Marlene Vaz, uma das mais respeitadas autoridades do país no estudo da violência sexual contra crianças e adolescentes, foi uma ferrenha crítica dos caminhoneiros e suas relações com as meninas. Até que, em 2004, num de seus vários estudos, desta vez no Sul da Bahia, ela se deparou com o outro lado do espelho: o caminhoneiro enquanto ser humano. Tudo mudou. "Descobri que de nada adiantaria apontar o crime, punir e informar ao caminhoneiro sobre os direitos sexuais das meninas se sua auto-estima estivesse em baixa", diz.

A luta de Marlene se deu meio por acaso. Foi em 1974, quando supervisionava uma pesquisa econômica para o IBGE em Candeias (BA), perto de uma refinaria de petróleo. Acabou fazendo um relatório sobre o tráfico de meninas, levadas para lá por caminhoneiros para serem exploradas sexualmente. Dali em diante, Marlene trocou as estatísticas para se dedicar a uma causa mais humana: o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes.

Os estudos desta socióloga baiana ganharam projeção internacional e ela se tornou referência no assunto. Agora, um novo viés. "Depois de anos combatendo caminhoneiros e só enxergando um lado do espelho, a face sofrida de minhas meninas prostituídas, hoje vislumbro o outro lado do espelho e vejo a face dos caminhoneiros", explica. O Programa Na Mão Certa, lançado nesta semana pelo WCF-Brasil, é um reflexo dessas três décadas de trabalho, desta vez voltado não só para as vítimas, mas também para um público potencialmente explorador.

"Teremos que arregaçar as mangas e fazer brilhar os dois lados do espelho, porque somente assim teremos caminhoneiros protetores dos direitos das crianças e adolescentes e meninas cidadãs plenas de direitos", diz. Para isso, ela avisa, é preciso que profissionais e empresas que lidam com os estradeiros mudem o conceito e a forma de tratá-los, demonstrem como ele é importante na geração de renda do país, tudo para elevar sua auto-estima pessoal e profissional. Também é preciso ouvi-los e não apenas comunicá-los sobre mudanças que dizem respeito a eles. (MK)

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