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Avião usado pelo Brasil durante a 2ª Guerra Mundial: saldo de 443 brasileiros mortos | Wikicommons/ U.S. Air Force
Avião usado pelo Brasil durante a 2ª Guerra Mundial: saldo de 443 brasileiros mortos| Foto: Wikicommons/ U.S. Air Force

Pracinhas

Como o Brasil aderiu à guerra

A 2ª Guerra se estendeu de setembro de 1939 a agosto de 1945. O torpedeamento de navios brasileiros, em 1942, fez a população ir às ruas no Rio de Janeiro para pedir um posicionamento do presidente Getúlio Vargas, que até então mantinha neutralidade devido às fortes relações comerciais com a Alemanha. Ele declarou guerra em agosto daquele ano. Dos 25 mil brasileiros, 443 morreram e cerca de 3 mil se feriram. O Paraná contribuiu com 1.542 combatentes, entre os quais 28 morreram.

Além do torpedeamento, houve ainda pressão norte-americana. "Os EUA queriam montar uma base no Nordeste e cobraram uma posição de Getúlio Vargas", ressalta o professor de História Osvaldo Siqueira. Em troca, o governo dos EUA financiou a instalação da Siderúrgica de Volta Redonda. O resultado foi o envio das tropas para lutar ao lado dos Aliados (EUA, Reino Unido e União Soviética) contra os países do Eixo.

Censura

Para circular pelo país, só com salvo-conduto

Durante a 2.ª Guerra Mundial, os imigrantes não poderiam sequer frequentar determinadas regiões da cidade, como as proximidades do terminal ferroviário. Para se deslocar dentro do país era necessário a requisição de um salvo-conduto. Suas correspondências foram censuradas e as estradas que davam acesso a Santa Catarina e São Paulo foram alvos de uma intensa vigilância. "O ser humano cria seus oponentes. E durante a guerra esses oponentes no Paraná foram os imigrantes", destaca o professor de História da Universidade Tuiuti, Osvaldo Siqueira.

Muitos imigrantes que tinham casas no litoral, além de não poder viajar, tiveram suas residências confiscadas e transformadas em postos do Exército. Só foram devolvidas muito tempo depois do fim do conflito. Várias portarias foram publicadas pela chefatura de polícia do Paraná a fim de evitar um possível levante de imigrantes do Eixo no estado. Esses documentos recomendavam a vigilância dos alemães, italianos e japoneses pela DOPS, para evitar atividades consideradas nocivas ao país.

Seção de Segurança Nacional

Foi criada em 1942 com a função de fiscalizar os brasileiros com origem estrangeira e combater ideologias contrarias ao Estado Novo de Vargas. "O apelo do Estado acabou saindo do controle e resultou em manifestações extremas de ódio contra o estrangeiro", afirma a historiadora Solange de Lima.

  • Clube Concórdia teve seu prédio entregue à Cruz Vermelha

Perseguições, invasões, depredações, prisões e uma vida completamente vigiada. Enquanto a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) deixava um saldo de 55 milhões de mortos no mundo, os imigrantes estrangeiros habitavam seus próprios bunkers em solo paranaense. Alguns passaram meses ou até anos sem falar uma palavra sequer para não serem reconhecidos pelo sotaque. Outros não tiveram tanta sorte e foram parar atrás das grades ou mantidos em pequenos "campos de concentração" improvisados.

Antes mesmo do governo de Getúlio Vargas ceder às pressões dos Estados Unidos e declarar guerra à Alemanha nazista em agosto de 1942 – e, consequentemente, às nações que formaram o chamado Eixo, como Japão e Itália – o clima até então tranquilo mudara no Paraná. Curitiba, nessa época, estava tomada de imigrantes europeus que chegaram desde o final do século 19.

Mas um torpedeamento de navios brasileiros por tropas alemães provocou revolta na população contra os países do Eixo e consequentemente contra quem havia nascido por lá. Em março de 1942, 10 mil pessoas se reuniram na Praça General Osório reverberando palavras contra o nazismo e, em seguida, saíram pelas ruas depredando estabelecimentos que pertenciam aos alemães, italianos ou japoneses. Foi o que bastou para que as relações entre vizinhos deixassem de ser cordiais.

O governo determinou que todo comércio de imigrantes dessas etnias fossem fiscalizados. Os rádios chegaram a ser lacrados para não sintonizarem emissoras estrangeiras. A liberdade tinha cedido espaço para uma guerra até então invisível aos brasileiros.

Com a declaração oficial de guerra, a situação só caminhou para o pior. A historiadora Solange de Lima afirma que além das sanções oficiais do Estado, parte da população aderiu à causa da "defesa nacional" movida por ressentimentos e intolerância étnica. "Essas ações foram legitimadas pelo Estado, que confiscava os bens de imigrantes e os intimando a comparecer a uma das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS)", explica.

Só português

Deste modo, eram detidos todos os estrangeiros que falassem sua língua materna e que tivessem rádios, armas, revistas e livros em outro idioma que não o português. Na capital do estado, a polícia chegou ao cúmulo de apreender até almofadas por terem sido bordadas com as cores da bandeira germânica. Os idiomas estrangeiros foram banidos das ruas paranaenses. Aqueles que os utilizassem eram denunciados e presos. "Imigrantes e descendentes passaram a ser vistos como inimigos nacionais, chamados pejorativamente de ‘eixistas’ e ‘quinta-colunas’. O controle de suas vidas tornou-se uma questão de segurança nacional", avalia Solange.

Clubes foram depredados e imigrantes, ameaçados

Em Curitiba, alguns clubes pertencentes aos estrangeiros foram ocupados, como é o caso do Clube Concórdia, que teve seu prédio entregue à Cruz Vermelha e seus móveis, ao Clube Atlético Paranaense. O Clube Rio Branco, por sua vez, foi entregue ao Tiro de Guerra n.19. Diversas associações de etnias que "formavam" o Eixo foram ocupadas. Antes dessa intervenção, porém, muitos clubes já haviam sido alvo de ataques populares, como o Clube Italiano Garibaldi. O consulado do Japão em Curitiba, inaugurado em 1938, foi fechado em 1942 por determinação do Estado.

Escolas de origem estrangeira foram fechadas e o ensino em idiomas que não o português foi proibido. O cônsul alemão em Curitiba, Walter Zimmermann, e os funcionários do Consulado foram deportados para a Alemanha.

As famílias japonesas que moravam no litoral tiveram suas casas saqueadas e até incendiadas. A acusação era de que faziam sinais com lampiões para submarinos japoneses. Os bens deixados em Paranaguá, Antonina e Morretes jamais foram devolvidos aos imigrantes orientais.

"Concentração"

A delegacia de Antonina, em 25 de setembro de 1942, retirou 85 migrantes da cidade, sendo 53 japoneses, 10 alemães e 22 italianos. Do litoral, o "trem dos evacuados" partiu para Curitiba. Na maior parte, os japoneses que não encontraram lugar para morar foram levados para a Granja Canguiri. As famílias que foram para lá viviam em galpões rurais, que já haviam sido ocupados por cavalos e bois anteriormente. Foi ali que esses japoneses viveram a partir de 1942 até o fim da guerra, em 1945. Não há, ainda, informações de tortura física, entretanto permaneceram confinados nesse local que ficou conhecido como "campo de concentração". Os adultos foram obrigados a trabalhar na produção agrícola e as crianças foram separadas de seus pais e levadas para a Escola Agrícola Militar de Castro.

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