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Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento | Reprodução - G1
Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento| Foto: Reprodução - G1

Difícil ignorar a sensação de ternura ao examinar uma miniatura. Os detalhes, os tamanhos mínimos, os materiais, a fidelidade ao tema original, tudo é minuciosamente esquadrinhado pelo olhar do observador. Se a contemplação já é fascinante, confeccionar essa fração do universo desperta as mais diversas emoções. A artista plástica Rita de Cássia Baduy Pires trabalha há 18 anos entre mesas, cadeiras, estantes, sofás, plantas e uma série de objetos que fazem parte do cotidiano, onde cada centímetro do mobiliário corresponde a 20 na vida real. Se tudo que mantém no seu estúdio fosse do tamanho original, ela estaria instalada em um galpão na CIC e não numa sala comercial no Centro da cidade.

A escala de 1:20 foi o tamanho escolhido por Rita para traduzir o mundo a sua volta. É quase a metade da escala oficial adotada pelos miniaturistas, de 1:12. E foi nesta dimensão, tão pequena e delicada, que Rita homenageou – em proporção inversa – 12 comércios antigos de Curitiba, em um projeto que consumiu dois anos de trabalho e muita nostalgia. A coleção Espaços Curitibanos mostra os detalhes de estabelecimentos comerciais com mais de 50 anos de funcionamento, vendendo de comida a tecidos, de calçados a livros usados. A escolha criteriosa passou por avaliações bastante subjetivas. "Primeiro pensei em comércios antigos, sem que necessariamente ainda estivessem de portas abertas. Mas depois quis dar a referência original para quem visse as miniaturas e pudesse entrar no ambiente real", avalia.

Tudo é simbolismo no primeiro projeto artístico de Rita, realizado fora das encomendas que recebe no estúdio e na barraca da feirinha de artesanato no Largo da Ordem. Formada em psicologia, ela também cursou a Faculdade de Artes do Paraná. Partiu para a pós-graduação na área de museologia, de onde veio inspiração e material para a monografia que desenvolve. "Os comércios antigos funcionam como pequenos museus, que mantêm um acervo precioso de parte da história da cidade. Minha tese quer verificar se a preservação do tradicional é uma herança européia que os curitibanos têm", explica.

Não por acaso, os comércios escolhidos também dizem muito da artista, que acabou de completar 50 anos. Na adolescência, comprava tecidos na Casa Hilú e sapatos na Casa Schier. Curte os biscoitos da Villa Anna – desde quando ainda se chamavam Glória –, e volta e meia toma um chope no Bar Stuart. A lista dos homenageados – nada é réplica, já que não têm o compromisso da maquete, apesar da riqueza de detalhes – inclui ainda a Alfaiataria Riachuelo, o Armazém Santa Ana, a Caruso Empadaria, a Confeitaria das Famílias, a Feira dos Livros Usados, o Mercadinho São Jorge e a Padaria América. "Há muito mais para mostrar. Mas esses são um recorte do meu dia-a-dia na cidade. Depois que eu terminei, percebi que tinha feito o meu trecho, minha linha, um trajeto bastante familiar", afirma.

As escolhas de Rita foram pautadas, ainda que inconscientemente, pela referência que cada uma dessas lojas traz a ela. "Isso é patrimônio urbano. É algo cheio de afeto, de história, que diz respeito ao relacionamento que a sociedade tem com estes espaços", aponta a arquiteta e professora de planejamento urbano, Maria Lucia Marques Dias, da Pró-Reitoria de Planejamento da Universidade Federal do Paraná.

Miniaturizar os comércios também foi uma opção interessante para o resgate da memória curitibana. "Ela capta momentos da cidade que a tornam mais palatável, agradável de viver. São fragmentos que dizem que a vida urbana tem dezenas de compensações, apesar da violência, do trânsito, da poluição, da correria diária. E faz tudo isso de forma lúdica, em miniaturas, convidando o espectador a brincar com esse ambiente familiar", explica.

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