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O homem esteve completamente submetido aos desígnios da natureza por milênios. Sem saber como compreendê-la e controlá-la, desenvolveu a religião e o pensamento mágico. A ação dos deuses explicava tudo. Oferendas, portanto, aplacariam a ira divina e evitariam ou cessariam os desastres naturais. Foi há relativamente pouco tempo na jornada humana, há 2.500 anos, que isso começou a mudar. Foi quando um grupo de gregos passou a questionar quais eram as razões reais dos fenômenos que presenciavam. Ali foram plantadas as primeiras sementes da razão e da ciência. Desde então, a humanidade avança cada vez mais na direção da compreensão da natureza.

O pensamento mágico, porém, ainda persiste. Expressa-se no fatalismo de muitas pessoas que pensam que acidentes e doenças fazem parte de um plano maior e que, portanto, nada há a fazer para evitá-los. É a ideia do destino inevitável que cabe a todos.

No Brasil, o pensamento mágico também aparece onde não tinha de estar: na administração pública, que deveria se pautar pela gestão científica e racional. É o caso, por exemplo, da declaração do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, de que Deus é brasileiro e vai mandar chuva para solucionar a crise hídrica e elétrica. É claro que se trata mais de retórica política do que crença efetiva no poder divino. Ainda assim, a lógica das soluções mágicas – dependente do acaso e, portanto, oposta à razão e à ciência – parece disseminada nas esferas governamentais.

Isso explica por que o país não está se preparando para eventos climáticos extremos que têm sido cada vez mais frequentes em todo o planeta – provavelmente causados pelo aquecimento global. Há muito tempo a ciência faz esse alerta. Mas a racionalidade não parece sensibilizar o poder público. Na ausência da razão, resta o pensamento mágico: Deus vai resolver, como disse o ministro. Caso contrário, sobra o improviso tipicamente brasileiro. Em última instância, quando nada dá certo, sempre é possível culpar a natureza.

A falta de chuvas na Região Sudeste, fator responsável pela falta de água em São Paulo e pelo risco de apagão no país, é apenas um exemplo de como as intempéries naturais são tratadas com viés fatalista no Brasil. As cidades tampouco estão preparadas para enfrentar fortes temporais, deslizamentos de terras, enchentes.

A ciência e a razão, por outro lado, são parceiras de primeira hora do planejamento. Sabendo com antecedência que algo ruim pode ocorrer, é possível adotar medidas de prevenção contra eventos extremos.

É o caso da nevasca que atinge a Costa Leste dos Estados Unidos. Os meteorologistas previram que sua magnitude poderia causar mortes. Governos e prefeituras tomaram todas as precauções necessárias. A tempestade não chegou com a intensidade prevista. Mas as medidas tomadas com antecedência garantiram que os efeitos negativos fossem substancialmente minorados. Foi uma vitória da razão sobre a natureza.

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