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Ela ainda é o principal cartão postal da cidade. O bondinho, as atividades para as crianças nas manhãs de sábado, os comícios, as manifestações e acima de tudo o calçadão sempre chamaram a atenção dos curitibanos e também de quem não é da cidade. A cada ano, entretanto, a Rua XV de Novembro perde um pouco de visibilidade para outros pontos turísticos, como o Jardim Botânico, a Rua 24 Horas e a Ópera de Arame – surgidos na década de 90.

Para comerciantes e especialistas, a perda de espaço se deve em grande parte a uma mudança no perfil do comércio. Se em outros tempos havia mais cafés, confeitarias e livrarias, hoje o que mais encontra-se principalmente shoppings populares, lanchonetes de fast-food e lojas de telefonia celular. Para quem ainda resiste no mais tradicional palco de debates curitibano, o local "perdeu o charme" dos tempos passados.

É o caso de José Melquides, um dos gerentes do Bar Mignon, criado em 1925. "Antigamente as lojas ficavam abertas até as 10 horas da noite. Hoje, não tem mais nada", diz Melquides, que acompanhou a criação do calçadão, em 1971. "Chegávamos a vender dois mil pães por dia. Hoje, quando vendemos 500 é muito."

Dair da Costa Terzado, proprietária da Confeitaria das Famílias, uma das mais antigas da cidade, confirma que os fregueses estão desaparecendo. "Está indo todo mundo para o shopping", reclama. "Precisamos de mais policiamento, tem muito maloqueiro por aqui. Chegam a tirar o doce do freguês."

Para o arquiteto Ariel Stelle, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a Rua XV precisa de eventos e de uma mudança no perfil do comércio. Entre as idéias estão a criação de uma feira noturna e mudanças no perfil do comércio local. "Há um excesso de pequenos shoppings. Não há lojas que atendam diversas faixas de renda", diz ele.

A necessidade de revisão no perfil do comércio também é apontada pelo arquiteto Luís Salvador Gnoato. "O Centro sobrevive com usuários da região metropolitana, que não têm esse tipo de comércio em suas áreas. Hoje, se alguém levar um turista até a Rua XV, não vai encontrar nada para fazer."

Se muitos comerciantes deixam a Rua XV, em outros pontos do Centro pode ser observado um processo inverso. É o caso da Rua Barão do Rio Branco, uma das mais antigas da cidade. Há cerca de quatro meses, a inauguração da Casa do Barão, um restaurante com opções culturais (livraria, por exemplo), "renovou o ar" da rua. Tanto que empresários do local se uniram e criaram o Movimento Amigos da Barão. A primeira luta é contra a instalação de um terminal rodoviário nas proximidades.

"As casas da Barão do Rio Branco são tombadas pelo patrimônio histórico e não podem sofrer com a tremulação", diz Eleonona Gomes, uma da proprietárias da Casa do Barão. "Um terminal rodoviário por aqui seria um balde de água fria nas ações em que estamos fazendo." Segundo ela, vários empresários já manifestaram a intenção de se instalar no local.

Outro exemplo de bom investimento no Centro da cidade é o bar Ao Distinto Cavalheiro, na Rua Saldanha Marinho. Criado há quatro anos em uma região que antes era considerada perigosa, o estabelecimento cresceu. Tanto que, há três meses, ganhou espaço para mais 20 clientes. O proprietário, Odil Miranda Ribeiro, comemora. Mas faz um alerta: "São raros os negócios que podem se enquadrar ao perfil do Centro."

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