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Brasília – Habituado a esgotar todos os prazos para pensar com os próprios botões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete deixar ministros e políticos aliados em alta ansiedade nos próximos 60 dias. A um passo de conquistar hoje o segundo mandato, após 122 dias de uma campanha temperada por denúncias de corrupção em dois turnos, o presidente dá sinais de que no provável novo governo o velho estilo Lula de decidir entrará em ação. "Eu ainda tenho dois meses para pensar num governo que só começa no dia 1.º de janeiro de 2007", diz ele, para desespero de petistas, comunistas, peemedebistas e outros tantos "istas" à espera da definição de seus destinos na Esplanada.

Lula tem um jeito pouco ortodoxo de tomar decisões. No Palácio do Planalto, o método ficou conhecido como "raciocínio dialógico". "É a partir dos diálogos e das opiniões contra e a favor que ele faz a síntese", conta o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, seu amigo há mais de duas décadas e um dos poucos sobreviventes do terremoto político que abalou o governo. Um veredicto do presidente começa quando ele passa a ouvir os mais próximos. Sempre foi assim, desde que comandava o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1975-1980). Depois, vai à caça dos contraditórios. Nessa fase, que pode durar de uma semana a meses de agonia, ele próprio faz a sabatina e o papel de advogado do diabo.

É comum Lula torcer o nariz para uma idéia que lhe é apresentada pela primeira vez, principalmente se for sob o rótulo de prato feito, o remédio para todos os males: desconfiado, quer saber por que deveria ser assim e não assado e quais os efeitos do caminho do meio. No fim das contas, dono do tempo e da caneta, costuma resolver tudo sozinho, muitas vezes depois de consultar a primeira-dama, Marisa Letícia.

No diagnóstico dos mais ferrenhos adversários, Lula é um político autoritário e deslumbrado, que se livra dos companheiros para salvar a própria pele. Na versão dos que com ele convivem, Lula é um presidente que, por ser líder de massas, não gosta dos rapapés da articulação política de gabinete nem da burocracia do dia-a-dia.

Entre a fúria da oposição e a visão romântica dos companheiros de jornada, que vêem em Lula uma espécie de super-herói, porta-voz mundial dos fracos e oprimidos, provavelmente exista um homem transformado pelo poder. Aos 61 anos, pragmático e embrutecido pelas crises, o presidente somente volta a ser o velho Lula nas viagens e no contato com o povo, seu "oxigênio" para escapar da solidão do Planalto.

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