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A Rua da Praia tem a maior concentração de palacetes e casarões do período colonial brasileiro | Felipe Lessa/Gazeta do Povo
A Rua da Praia tem a maior concentração de palacetes e casarões do período colonial brasileiro| Foto: Felipe Lessa/Gazeta do Povo
  • Centrinho histórico: pelo menos 400 imóveis fazem parte da região que será tombada pelo Iphan
  • Pelourinho: é um dos três únicos exemplares conservados do Brasil
  • Colégio dos Jesuítas: obra rara

As ruas estreitas de Paranaguá, muitas ainda revestidas de pedra, não perdem em nada para a importância histórica dada ao Pelourinho de Salvador, na Bahia. Assim como lá no Nordeste, por aqui também existe uma paisagem que merece atenção dos brasileiros: olhando com atenção para o aglomerado de casas antigas no centrinho parnanguara se descobre muito do período colonial brasileiro. O pelourinho daqui, por exemplo, é um dos únicos exemplares do Brasil que até hoje está conservado; os outros dois estão nos municípios de Al­­cân­­tara, no Maranhão; e Mariana, em Minas Gerais.

Assim como muitas cidades históricas, Paranaguá também tem a igreja que foi usada no perío­do colonial apenas pela oligarquia e a outra, que deveria ser frequentada somente por escravos. Sem falar dos palacetes e casarios ocupados pela aristocracia paranaense: todo este conjunto de cerca de 400 imóveis, que ficou conhecido como centrinho de Paranaguá, receberá o merecido reconhecimento. A arquitetura, incluindo as ruas e o Rio Itiberê, será nacionalmente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Um reconhecimento que elevará Paranaguá ao nível histórico de cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

Só para se ter uma ideia, o Nordeste tem hoje 23 cidades em que o centro histórico foi tombado pelo Iphan; no Sudeste são 24 (entre elas Rio de Janeiro e São Paulo). No Sul do Brasil, o reconhecimento é tão pequeno que existem apenas cinco municípios tombados – apenas um deles, a Lapa, no Paraná. "Isto acontece porque o Sul teve um desenvolvimento tardio. São raras as cidades que conseguiram preservar todo um traçado urbano que justifique o tombamento, como é o caso de Porto Alegre", explica a professora do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Luiza Marques Dias.

O tombamento ainda precisa ser aprovado pelo conselho consultivo do Iphan, o que deve acontecer nos próximos dias: será o resultado de um trabalho que começou na década de 80. "É comum um processo como este se arrastar por alguns anos, mas posso afirmar que a cidade será tombada porque a pesquisa foi muito bem feita", afirma o superintendente do Iphan do Paraná, José La Pastina Filho.

Imóveis

Lendas urbanas fazem parte de qualquer cidade histórica, e em Paranaguá não é diferente. Di­­zem os mais antigos que a Fonte Velha (ou da Camboa) foi usada como uma passagem secreta até uma possível igreja. "Pesqui­­sa­dores já tentaram caminhar pelo fosso da fonte para ver se encontravam a tal passagem. Nunca descobriram nada, mas é sempre bom cultivar a lenda", diz Maria Lu­­iza. A fonte faz parte do con­jun­­­­to arquitetônico do centrinho.

As igrejas são, sem dúvida, uma atração à parte no litoral paranaense. Enquanto a imponência da Matriz é uma prova de que ela era frequentada pela oligarquia do período colonial brasileiro, a Igreja São Benedito era uma "exclusividade" dos escravos – não se permitia aos negros frequentar a mesma igreja dos brancos. Há ainda o Colégio dos Jesuítas, que marca o período de passagem destes sacerdotes pelo Paraná e mostra que, apesar de hoje o Estado ser laico, ele já teve o catolicismo como religião oficial.

Estilo de vida

Como toda a história está concentrada em um lugar só, é possível ver em Paranaguá como a população vivia durante os séculos 16 e 17, quando a erva-mate ainda era a base da economia. A aristocracia paranaense e os senhores de engenho moravam em um conjunto de palacetes (em estilo de sobrado) construídos às margens das ruas e que hoje formam um paredão de concreto colorido. No térreo era instalado o comércio e, no segundo andar, a moradia. "Não eram palácios luxuosos como em ou­­tros lugares do Brasil, até porque o Paraná era província de São Paulo e, por isso, a maior ri­­que­­za estava concentrada lá. Mas a arquitetura é um exemplar dos casarios do período colonial brasileiro", explica Maria Luiza.

As margens do Rio Itiberê – que ficam dentro da cidade – também farão parte da paisagem tombada pelo patrimônio: o rio foi usa­­do, no passado, como uma al­­ternativa de navegação para os pe­­quenos barcos. O palácio Mathias Böhn, construído no século 18 na beirada do rio, é um dos imóveis de destaque do local que serviu como pontapé inicial para o funcionamento do Porto de Para­­naguá.

Já o pelourinho parnanguara é uma fonte histórica rara que existe no Brasil: ele simboliza que naquela cidade eram julgadas as questões mais importantes do Estado no passado. "Mostra o poder político de Paranaguá, de que ali havia o acerto com a Justiça. A cidade foi importante até a elevação de Curitiba como sede provincial do estado", explica Maria Luiza. Infelizmente, para a história ser ainda mais valorizada pela população, falta em Paranaguá um incentivo para a restauração dos imóveis históricos: muitos sofreram com a ação do tempo e nunca foram restaurados.

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