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Eronides Cruz: 40 anos cuidando do P-47 | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Eronides Cruz: 40 anos cuidando do P-47| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Piloto de caça curitibano terá busto em museu

Na festa da próxima sexta-feira no Museu do Expedicionário, promovida pela Legião Paranaense do Expedicionário e pelo Cindacta II, o Thunderbolt não será a única estrela. Na ocasião também será inaugurado um busto do capitão Theobaldo Kopp, o único piloto curitibano no 1.º Grupo de Aviação de Caça. O busto ficará exposto na sala do GAvCa dentro do museu.

A Gazeta do Povo contou a história de Kopp na edição de 11 de outubro de 2008. O capitão voou 58 missões na Itá­­lia, tendo sido abatido pe­­los alemães em 7 de março de 1945. Ele conseguiu se esconder, com a ajuda de partisanos (a Resistência italiana), e voltou para a base brasileira antes do fim da guerra, mas não voltou a voar. Depois do conflito, Kopp se mudou de Curitiba, e faleceu em 1996. (MAC)

Serviço:

Solenidade de 40 anos do P-47 na praça e inauguração do busto de Theobaldo Kopp: sexta-feira, dia 23, às 17 horas, na Praça do Expedicionário, Alto da XV.

A4, D3 ou C1? Prefixo do avião nem sempre é identificação real

No trecho que o brigadeiro Rui Moreira Lima dedicou ao veterano Eronides Cruz em seu livro Senta a Pua!, o avião da Pra­­­­ça do Expedicionário é de­­signado como D3, o Thun­­derbolt pilotado por Luiz Felipe Perdigão. Especialistas em P-47 afirmam que na verdade o avião é o C1, do capitão Fortu­­nato Câmara. Mas, desde que foi pintado pela primeira vez, o P-47 curitibano exibe o prefixo A4, de Alberto Martins Torres, falecido em 2001.

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  • Veja que o P-47 que voou na Itália já sofreu algumas alterações estruturais

Para muitos curitibanos, a Praça do Expedicionário, no Alto da XV, é simplesmente "a praça do avião". E que avião – um P-47D Thun­­derbolt, que combateu na Segunda Guerra Mundial, pilotado por brasileiros. Na próxima sexta-feira, es­­se monumento único no Brasil completa 40 anos em seu lugar de honra. O país tem outras dessas relíquias de guerra, mas estão em museus ou bases aéreas. Nenhum P-47 está assim tão acessível ao público quanto o de Curitiba.

Eronides Cruz, veterano do 1.º Grupo de Aviação de Caça, sergipano radicado em Curitiba, percebeu, na década de 60, que a base da Aeronáutica no Bacacheri tinha dois P-47. "Um estava inteiro, e o outro já tinha começado a ser desmontado para a Escola de Especia­listas". E veio a ideia: por que não enfeitar a praça vazia, na frente da Casa do Expedicionário, com o avião que ainda seguia intacto?

Mas havia problemas logísticos, burocráticos e financeiros. A burocracia foi o de menos: o comando da base e a Legião Para­­naense do Expedicionário se en­­tenderam rapidamente e o avião foi doado. Veio o novo desafio, como levá-lo do Bacacheri ao Alto da XV? Uma fábrica de telas que tinha caminhões e guindastes para transporte pesado entrou em cena, junto com uma empresa de estruturas metálicas, que fez o suporte no qual o P-47 continua até hoje. Tudo pago em prestações a perder de vista, já que a Legião tinha dificuldades de caixa. "Na época sugeriram colocar o avião no chão. Eu não quis. Disse que, se fosse para o Thunderbolt virar parquinho, que ficasse no Bacacheri para ser desmontado", afirma Cruz. E, assim, em 23 de outubro de 1969, uma quinta-feira de chuva em que se comemorou o Dia do Aviador, o coronel Adélio Conti, presidente da Legião, e o brigadeiro Délio Jardim de Mattos, comandante da base do Bacacheri, inauguraram o P-47 em posição de voo.

Vandalismo

Sob o monumento, foram plantados arbustos para montar uma cena na qual o Thunderbolt sobrevoaria uma região de mata. E a natureza conspirou para tornar realidade o medo do veterano de que o avião virasse parquinho. Cruz já nem se lembra exatamente quando foi. "Acho que faz uns vinte anos", estima. Uma das árvores cresceu e permitiu que vândalos subissem no P-47. "Quebraram o canopi (a bolha de acrílico que protege o piloto), roubaram instrumentos e ainda encheram o interior de jornal e botaram fogo. Felizmente o avião não se incendiou", recorda. O que sobrou do painel foi para o Museu do Expedi­cionário. Cansado de pedir à prefeitura que cortasse a árvore, Cruz buscou a Força Aérea e derrubou ele mes­mo a "escada de vândalo".

Reformar o canopi deu mais tra­­balho que levar o avião do Ba­­cacheri para a praça. Uma empresa que fazia toldos para pontos de ônibus fez o molde. "O Centro Téc­­nico Aeroespacial de São José dos Campos (SP) fez duas peças, mas mandaram para o Rio de Ja­­neiro. Lá, ninguém sabia do paradeiro do nosso canopi. O CTA perdeu o molde e só achou anos de­­pois. No fim, uma empresa de La­­goa Santa, em Minas, fez o serviço", conta Cruz. Demorou, mas o Thun­­derbolt estava inteiro de novo.

Assédio

Um P-47 assim, em ótimo estado, em praça pública? Não faltou quem quisesse tirá-lo de lá: civil, militar, pessoa física ou jurídica. "Uma vez fui ao Rio falar com o di­­re­­tor do Museu Aeroes­­pacial. Ele me disse ‘avião assim não é para estar em praça, tem de estar em museu’ – o dele, de preferência", recorda Cruz. A TAM, quando mon­­tava o acervo para seu museu no interior paulista, fez uma proposta indecente: levar o Thun­derbolt e substituí-lo por uma réplica em material moderno, mais leve. A Legião nem deu bola.

E, quando Vicente Vasquez, um entusiasta da aviação de caça brasileira, veio a Curitiba, tirou fotos e as publicou na internet, foi a vez de colecionadores norte-americanos oferecerem algumas centenas de milhares de dólares. Nenhuma proposta foi suficiente para levar embora o P-47. "Amigos meus às vezes vêm fazer algum comentário e dizem ‘o seu avião isso, o seu avião aquilo’. Meu coisa nenhuma. Não é meu, não é da Legião, agora ele é dos curitibanos". E é melhor que cuidemos bem dele pelos próximos 40 anos – ou bem mais que isso.

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