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Bento XVI visitou Turim no fim de semana passado para ver o Sudário | VincenzoPinto/ APF
Bento XVI visitou Turim no fim de semana passado para ver o Sudário| Foto: VincenzoPinto/ APF

Em curitiba

Exposição já tem 20 mil visitantes

No primeiro mês da mostra "Quem é o Homem do Sudário", a exposição já recebeu 20 mil pessoas, segundo o padre João Vicente de Pádua, outro dos organizadores do evento, que continua até 30 de junho. Ele e o padre Celso Nogueira contam que existem exposições semelhantes, mas menores, em Roma e em Jerusalém, em prédios dos Legionários de Cristo. Um empresário curitibano, que prefere permanecer "nos bastidores", como ele próprio disse à reportagem, viu a mostra em Roma e decidiu trazê-la a Curitiba.

"Em Roma os painéis são mais acadêmicos, muito texto, pouca imagem, e o espaço também é menor que o usado no Palladium. Para fazer aqui redimensionamos tudo", conta o padre Celso. A estátua do Cristo morto foi feita especialmente para o evento de Curitiba e levou cinco meses para ficar pronta. (MAC)

Serviço

+Exposição "Quem é o Homem do Sudário": Shopping Palladium, piso L3. De segunda a sexta, das 11 às 23 horas; sábados, das 10 às 22 horas; domingos, das 14 às 20 horas. Até 30 de junho. R$ 5 (meia-entrada, R$ 2,50).

No domingo passado, Bento XVI esteve em Turim para rezar diante do Santo Sudário, que muitos católicos acreditam ser o pano que envolveu Jesus Cristo após sua morte. Na ocasião, ele descreveu o pano como um "ícone escrito com sangue", e acrescentou: "se milhares e milhares de pessoas vêm para venerá-lo, é porque nele não se vê apenas a escuridão, mas também a luz". Em Curitiba, uma exposição recria a trajetória do Sudário e exibe as conclusões científicas mais recentes sobre o objeto. O padre Celso Nogueira, dos Legio­nários de Cristo, ajudou a organizar a mostra, que termina em junho, e falou à Gazeta do Povo sobre o fascínio exercido por esse objeto tão peculiar.Por que o Sudário desperta tantas paixões, tanto por parte das pessoas que vão a Turim para vê-lo quanto por parte daqueles que se empenham em provar que ele é uma fraude?O Sudário polariza porque tem relação com a figura de Jesus, um personagem central na história do Ocidente. Tudo que tenha a ver com Cristo provoca polêmica, amores e ódios, como o próprio Jesus causou. Ao lado desses pesquisadores sinceros, cujas pesquisas trouxemos aqui e que veem o Sudário como objeto científico, independentemente de sua religião, existem também os exaltados, tanto os que veem milagre em tudo quanto os que procuram ridicularizar o Sudário. Por isso é importante trazer os dados. Se vamos discutir sobre o Sudário, então que a discussão seja feita tomando como base as informações científicas.

Já é possível afirmar com certeza absoluta que se trata do pano que envolveu o corpo de Jesus?

Os Evangelhos dizem que Cristo foi envolto em um lençol, e no século 6.º aparece esse pano, que corresponde exatamente às características muito peculiares da paixão de Cristo – coisas que não aconteciam com outros crucificados, como a coroação de espinhos e o fato de não terem quebrado as pernas do condenado. Assim, a probabilidade matemática de que esse pano tenha mesmo envolvido o corpo de Cristo é muito alta, mas sempre há espaço para dúvida. Por isso a exposição se chama "Quem é o homem do Sudário": você mesmo responde. Deixamos o espectador na posição de julgar.

O que dizer do teste de carbono-14 realizado na década de 1980, segundo o qual o Sudário foi feito na Idade Média?

A recomendação era retirar fiapos de várias partes do tecido, mas na hora de recolher a amostra foi usada uma parte muito desgastada do Sudário. Quando as amostras foram pesadas, percebeu-se que elas tinham o dobro do peso médio do Sudário. A equipe devia ter se perguntado, naquela hora, a razão daquela anomalia. Hoje sabemos que lá havia uma mistura de algodão e provavelmente goma arábica, um recerzido sutil. Isso está confirmado por análises microscópicas e químicas. Esses fatores colocam em dúvida os resultados.

O senhor é favorável a novos testes no Sudário?

Há muita coisa a ser estudada ainda. Em 1978, um grupo de cientistas fez a maior bateria de estudos no Sudário até hoje, e depois ainda mandou um pedido à Santa Sé, sugerindo cerca de 20 testes que precisavam ser feitos. Daquela lista, só o carbono-14 foi realizado, e daquele jeito que acabamos de comentar. Talvez fosse útil retomar essa proposta. Além disso, os aparelhos evoluíram muito em 30 anos, permitem análises menos invasivas e mais precisas. Agora parece que é possível fa­­zer o carbono-14 sem destruir as pe­­­ças. Isso abre portas para um futuro estudo no Sudário. Também se pode aprofundar o estudo da lignina, uma camada que recobre os fios de linho e que ainda existe em linhos medievais, mas já sumiu de linhos mais antigos, como os das múmias. E o Sudário não tem lignina.

Mas, com cada nova geração ques­­tionando a tecnologia anterior, não há o risco de entrar em uma espiral sem fim de testes?

Para mim, só é necessário refazer testes já feitos se houver pistas novas. Eu considero desnecessário realizar novos exames sobre o sangue no Sudário, porque tudo o que podia ser pesquisado sobre isso já foi analisado. Mas, por outro lado, agora se sabe que o Sudário tem informação holográfica. Ela pode nos dar algo que ainda não temos instrumentos para receber? Então, quando houver novas tecnologias capazes de fazer outras leituras de dados holográficos, é possível e desejável aplicá-las no Sudário.

O cientista italiano Luigi Garlas­chelli diz ter feito uma cópia do Sudário no ano passado. Como o senhor analisa essa experiência?

Garlaschelli tinha uma teoria de que a imagem havia sido pintada com um ocre vermelho que continha uma mistura de ácido. Depois da pintura, o ocre teria sido lavado e o ácido teria corroído as fibras, provocando o aparecimento da imagem. Garlaschelli tentou usar ocre e ácido, mas não funcionou. Então ele usou ácido puro, que corroeu o linho e deixou aquele tom amarelado. Mas o "sudário" de Garlaschelli não tem tridimensionalidade, não passa de uma cópia tosca feita com ácido. O problema nem é fazer uma imagem parecida à do Sudário; isso é até fácil.

Qual é, então, a peculiaridade do Sudário que não se consegue reproduzir em laboratório?

Cópia nenhuma resolve a relação entre a imagem do corpo e o sangue, porque no Sudário não existe imagem sob as manchas de sangue. Primeiro, o Sudário recebeu manchas de sangue, e só depois surgiu a imagem, feita de forma a não corroer nem queimar as manchas. E essa ordem cronológica é consistente com o relato da Bíblia: o pano envolve um homem morto, ensanguentado, e depois ele ressuscita.

Que pistas o Sudário dá sobre a ressurreição de Cristo?

Havia uma hipótese curiosa: a bomba atômica de Hiroshima deixou sombras permanentes de pessoas e objetos nas paredes. Assim, descobriu-se que uma explosão atômica cria imagens em negativo. Surgiu a ideia de que a imagem do Sudário vinha de um fenômeno atômico. Mas se a radiação saísse de dentro do corpo as manchas não teriam detalhe algum, ao contrário da imagem do Sudário. Então, não há muita base para a hipótese radioativa. Por outro lado, o que pode ser uma marca da ressurreição é o fato de o corpo não ter sofrido decomposição, pois isso teria corrompido o pano. E as manchas de sangue não foram alteradas quando se interrompeu o contato entre o corpo e o tecido. Se alguém tivesse arrancado o tecido do corpo, teria alterado as bordas das manchas, que têm halos de soro que só se formam com feridas reais. Então temos um corpo ferido, envolvido num lençol, e depois temos apenas o lençol vazio, como se o corpo tivesse saído e deixado o pano intacto. Mel Gibson se inspirou nesses estudos para a cena final de A Paixão de Cristo.

Das características peculiares do Sudário, quais as que o senhor considera mais extraordinárias?

Do ponto de vista científico, é a tridimensionalidade. Mas, de uma forma mais pessoal, o que me chama a atenção é o contraste entre o corpo e o rosto. O corpo aparece destroçado, com feridas de torturas horríveis. Mas o rosto é sereno, é um rosto de paz que não se espera de alguém que recebeu essa quantidade de maus-tratos. Além disso, se considerarmos que o pano sobreviveu a saques, pilhagens e incêndios, não se pode negar que ele tem uma história fascinante.

Leia mais

sobre o Sudário no blog Tubo de Ensaio (www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio), sobre ciência e religião.

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