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Brasília e Peixoto de Azevedo – Sentiram um impacto, ouviram um barulho e não viram nada. Depois, olhando pela janela, verificaram a existência de pequenas avarias na asa. Este é, segundo a Polícia Civil de Mato Grosso, o resumo dos depoimentos da tripulação (piloto e co-piloto) e dos cinco passageiros do Legacy 600, produzido pela Embraer. O jato colidiu com Boeing 737-800 da Gol, na sexta-feira, causando a queda da aeronave que transportava 155 pessoas (149 passageiros e 6 tripulantes). O acidente ocorreu no norte de Mato Grosso. O Legacy conseguiu pousar na base aérea da Serra do Cachimbo.

"Eles dizem que não viram nada. Mas isso é absolutamente normal. Imagine dois aviões a 800 km/h. Eles se encontram a 1.600 km/h. Nestas condições, você só vê mesmo uma sombra e ouve um barulho", afirmou Milton Zuanazzi, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Denise Abreu, diretora da agência, confirmou ontem que as duas aeronaves efetivamente se colidiram. Mas, segundo ela, ainda não é possível prever um prazo para o esclarecimento do acidente. Denise praticamente descartou a possibilidade de falha no controle do espaço aéreo brasileiro. Zuanazzi afirmou que o sistema anticolisão do Legacy estava funcionando, mas não pôde informar se o mesmo equipamento estava ativo no Boeing da Gol.

A Força Aérea Brasileira divulgou ontem imagens do Legacy, na qual se vê uma parte da asa esquerda quebrada.

Ela, provavelmente, rasgou a estrutura do Boeing. O jato fora recém comprado pela empresa Excel Air Services. Partiu da sede da Embraer em São José dos Campos (SP) com destino aos Estados Unidos e escala prevista em Manaus, para reabastecimento. Conforme o relato dos ocupantes do jato – seis americanos e um brasileiro – as conseqüências da colisão com o Boeing se resumiram a um certo desequilíbrio na aeronave, logo controlado, e danos em duas peças: o aprofundador, localizado na cauda do avião, e o mindlet situado na ponta da asa esquerda (sua função é auxiliar na estabilidade do aparelho). "Eles relatam terem sentido um impacto e deduziram que podiam ter colidido com outra aeronave, mas dizem não ter visto nada", diz o delegado Anderson Garcia, que tomou o depoimento do piloto do avião, Joe Lepore, e do co-piloto, Jan Palladino.

Os sete ocupantes foram ouvidos anteontem à noite em Cuiabá, no âmbito do inquérito civil que apura as causas do acidente. Segundo Garcia, a decisão de pousar na base militar foi uma "precaução" diante das avarias visíveis pelas janelas.

Piloto e co-piloto também informaram que a rota que seguiam, a 37 mil pés de altitude (aproximadamente 10 km), foi autorizada pela torre de controle de São José dos Campos e que não se desviaram dela.

Todos foram ouvidos na condição de vítimas do acidente. A Polícia Civil de Mato Grosso vai requisitar o plano de vôo do Legacy e analisar o conteúdo da caixa preta das duas aeronaves. Elas registram as alterações ocorridas durante o vôo.

A aeronave, que está retida na base militar da Serra do Cachimbo, será periciada. Os resultados serão confrontados com os depoimentos. O prazo para conclusão do inquérito é de 30 dias, mas pode ser prorrogado.

Conforme o relato do píloto, o Legacy decolou de São José dos Campos às 14h47. A colisão teria ocorrido por volta das 17 horas. Trinta minutos depois, o jato fez o pouso de emergência.

A aeronave estava no piloto automático, como é a praxe, e passou a ser conduzida manualmente após o impacto. Piloto e co-piloto informaram que a visibilidade era boa e que estavam recebendo normalmente as comunicações do controle de tráfego aéreo.

Por orientação da embaixada americana, nenhum ocupante do jato concedeu entrevista. Após os depoimentos, o grupo seguiu para São José dos Campos. Todos estão liberados para retornar aos Estados Unidos. No caso de um eventual processo, piloto e co-piloto poderiam responder questionamentos por carta rogatória. Uma eventual sentença teria que ser homologada pela Suprema Corte americana e poderia ser cumprida nos Estados Unidos.

Dinheiro

Por conta dos rumores de que o Legacy transportava dinheiro, a Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal em Mato Grosso, fez uma revista no avião que trouxe o grupo da base militar na Serra do Cachimbo até Cuiabá, mas nada foi encontrado.

Além do piloto e do co-piloto, estavam a bordo do Legacy dois proprietários da Excel Air Service (Ralph Michielli e David Rimmer), que vieram ao Brasil comprar o avião, dois funcionários da Embraer ligados à área comercial (Henry Yanble e o brasileiro Daniel Bachmann) e o jornalista do jornal "New York Times", Joe Schrkei, que produzia uma reportagem sobre a empresa brasileira.

O jornalista contou que ouvia as gravações colhidas para uma matéria com fones de ouvido, sentiu o impacto e percebeu os danos pela janela.

Mas ficou tranqüilo assim que a aeronave se estabilizou.

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