Bilionário George Soros, fundador da Open Society Foundations.| Foto: Divulgação/Open Society
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Em 2021, a Open Society Foundations, do megabilionário George Soros, despejou R$ 107 milhões em ongs brasileiras – nenhuma delas com princípios que possam ser considerados de direita. Como mostrou a Gazeta do Povo, a lista de beneficiados inclui organizações que defendem o desencarceramento de presos, a pauta LGBT e a legalização das drogas.

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A entidade criada por George Soros não é a única. Embora com um orçamento menor do que a Open Society, outras organizações internacionais poderosas agem de forma parecida: a Fundação Ford e a Oak Foundation, por exemplo, distribuem centenas de milhões de dólares anualmente ao redor do globo, inclusive no Brasil.

Pelas leis brasileiras, o recebimento dos recursos não é proibido. Mas a falta de transparência sobre a fonte dos recursos e o volume significativo de dólares enviado a ongs que não sobreviveriam sem esses aportes criam um problema grave: a distorção do debate público em um país no qual causas defendidas pela Open Society, como a defesa do aborto e das drogas, nunca foram populares.

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O protagonismo da Open Society e de organizações similares também provoca um questionamento: onde estão os George Soros de direita? A resposta curta é: eles não existem.

Diferença conceitual

Não necessariamente os ultrarricos com tendências progressistas são mais caridosos que os seus contrapartes de direita. A diferença é o destino dos recursos. A esquerda contemporânea, que por vezes se intitula “liberal” e (pelo menos no Ocidente) deixou para trás o marxismo ortodoxo, tem uma visão internacionalista. A direita é mais nacionalista. Por isso, em vez de esquerda x direita, talvez seja mais apropriado falar em um confronto entre nacional e global.

George Soros, a Fundação Ford e a Fundação Oak atuam globalmente. Isso porque os progressistas acreditam que algumas causas (os direitos LGBT, por exemplo) devem ser promovidas em todos os países. Já a grande maioria dos grupos que se identificam como conservadores prioriza o local. Faz sentido: um dos pilares do conservadorismo é o apreço pelas tradições específicas, acompanhada de uma rejeição pela homogeneidade global.

Nos EUA, caridade com foco local

Nos Estados Unidos, por exemplo, não faltam doadores para organizações de direita. A Heritage Foundation, principal centro de pesquisas conservador do país, teve em 2021 um orçamento de US$ 82, 5 milhões. Nenhum centavo saiu dos cofres públicos. O valor foi inteiramente bancado por pequenos e grandes doadores privados.

Também nos Estados Unidos, os irmãos americanos Charles e David Koch, que juntos têm um patrimônio de mais de US$ 100 bilhões, são conhecidos por financiarem organizações e candidatos de direita. Eles mantêm o Stand Together, uma fundação que distribui recursos a organizações não-governamentais de forma semelhante à Open Society de George Soros. Mas a diferença é que os irmãos Koch priorizam o treinamento de jovens líderes com o propósito de defender a causa da liberdade.

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Os irmãos Koch, entretanto, também defendem a legalização das drogas e a redução do encarceramento, além de apoiarem a remoção das barreiras à imigração. Ou seja: se por um lado eles apoiam causas caras aos liberais e conservadores, como o livre mercado e a liberdade de expressão, por outro eles parecem se alinhar aos progressistas. Por isso, eles podem ser mais adequadamente classificados como libertários do que como conservadores.

Outro grande financiador de movimentos de direita, este sim conservador, é David Green, fundador da mega cadeia de lojas Hobby Lobby, que vendem objetos para o lar. Dono de uma fortuna de US$ 14 bilhões, ele ajudou a criar o Museu da Bíblia, um prédio moderno no centro da capital americana que se propõe a apresentar o Livro Sagrado de uma forma interativa. Ele também financia faculdades cristãs (uma delas recebeu uma doação de US$ 20 milhões em 2021) e entidades que defendem a liberdade religiosa, cada vez mais ameaçada nos Estados Unidos por causa da radicalização do movimento LGBT. Green financia ainda um programa que leva universitários americanos para conhecer Israel.

Entre os grandes empresários americanos que se notabilizaram por contribuir para causas à direita também estão Steve Forbes, fundador da revista Forbes, e a família Cathy, dona da cadeia de fast-food Chick-fil-A.

Todos eles têm algo em comum: o foco de suas doações são os Estados Unidos. Não há registro de David Green financiando projetos na América Latina ou na África, por exemplo. Por isso, não é possível descrevê-lo como um "George Soros de direita".

No Brasil, falta estratégia e visão de longo prazo

No Brasil, existem exemplos semelhantes aos dos empresários americanos: Salim Mattar, dono da Localiza, e Helio Beltrão, fundador do Instituto Mises, ajudam a financiar organizações de perfil liberal ou conservador. O mesmo vale para os Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder, donos da Multilaser.

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Mas nenhum desses empresários à direita tem um poder de fogo comparável ao de George Soros, tampouco atua de forma estruturada para financiar organizações que se alinhem com sua visão política. Geralmente, as doações são feitas na condição de cidadãos privados, e não por meio de fundações com estrutura própria.

Para Giuliano Miotto, presidente do Instituto Liberdade e Justiça, ainda falta visão de longo prazo aos empresários. “Muitos empresários brasileiros que investem dinheiro em candidatos a cargos políticos ainda não conseguiram entender a importância de se investir em projetos focados no médio e longo prazos, ou para a formação de massa crítica pensante”, diz ele.

Ainda segundo Miotto, a alocação dos recursos não favorece o surgimento de novas organizações de direita. "Os poucos recursos que são investidos em ideias conservadoras ou liberais acabam fluindo para o financiamento de meia dúzia de institutos que já possuem uma estrutura maior ou, o que é pior, para campanhas de candidatos políticos com esses discursos ou para influenciadores com centenas de milhares de seguidores", afirma.

Exceção à regra, Atlas Network tem poder de fogo reduzido

Apesar de o próprio caráter das ideias conservadoras impedir que haja um “George Soros de direita”, que distribua recursos globalmente, existe uma organização que se aproxima ligeiramente da Open Society: a Atlas Network.

Criada pelo empresário britânico Antony Fisher em 1981, a entidade com sede em Washington mantém uma extensa rede de parceiros ao redor do planeta. Mas as doações são bem mais modestas do que as de George Soros (geralmente, na casa das dezenas de milhares de dólares). A diferença de escala é enorme: em 2020, o orçamento total da Atlas para 2020 foi de US$ 12,9 milhões. No mesmo ano, a Open Society gastou US$ 1,3 bilhão. 

A Atlas afirma que a sua missão é "aumentar a prosperidade global ao fortalecer uma rede de organizações parceiras independentes que promovem a liberdade individual e são comprometidas em identificar e remover barreiras ao florescimento humano".

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No Brasil, a entidade já ajudou a financiar organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Students for Liberty Brasil.

Projeto de lei anti-Soros

Uma das críticas a Soros é o fato de sua atuação desequilibrar o debate sobre temas importantes em países nos quais atua. Isso acontece no Brasil, onde entidades financiadas pelo bilionário ocupam um espaço desproporcional na discussão sobre políticas públicas. Por outro lado, como impedir que isso aconteça sem violar os direitos de organizações não-governamentais?

No ano passado, o então deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR) apresentou um projeto de lei que tenta dar mais transparência nesse quesito. O PL 736/2022 propõe que ongs sejam obrigadas a prestar contas semestralmente de tudo o que foi recebido de fora do Brasil. O texto também cria um cadastro de todas as ongs brasileiras financiadas com recursos estrangeiros.

“Não queremos isolar o Brasil das boas iniciativas internacionais, mas queremos proteger o nosso país de interesses internacionais. Por isso é fundamental que o brasileiro conheça quem financia os bravos militantes que defendem o direito de assassinar bebês ou instrumentalizar indígenas”, afirmou Martins à Gazeta do Povo.

A proposta, entretanto, não avançou na Câmara até agora.

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