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Robson Rodrigues, jogador semiprofissional de futebol, caminha mais de um quilômetro todos os dias para pegar o ônibus que o leva para treinar | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Robson Rodrigues, jogador semiprofissional de futebol, caminha mais de um quilômetro todos os dias para pegar o ônibus que o leva para treinar| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

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A distância entre o ponto de ônibus e sua residência é adequada?

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Quase 93,2% dos curitibanos moram pertinho de ao menos uma das 250 linhas de ônibus disponíveis na capital paranaense. Um estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) mostra que 1,6 milhão de pessoas vivem a menos de 250 metros dos pontos – distância usada pelo órgão para aferir o acesso da população ao serviço. Apesar disso, cerca de 120 mil pessoas ainda precisam caminhar bastante para embarcar em um ônibus.

INFOGRÁFICO: Confira o mapa que mostra os piores desempenhos por bairro

Os piores desempenhos foram observados nas regionais Bairro Novo e Santa Felicidade, onde 13% dos moradores residem distante das linhas. As outras sete regionais mantiveram índices inferiores a 10%. O Centro – que tem só 1% da população longe dos ônibus – e Portão – com 2% – obtiveram os melhores resultados.

As linhas estão mais afastadas da população em bairros periféricos que fazem limite com cidades da região metropolitana. Por exemplo, no Umbará – que integra a regional Bairro Novo – 61% das pessoas moram longe dos ônibus. No Butiatuvinha – na regional Santa Felicidade – 27% dos moradores estão a mais de 250 metros de um ponto.

De acordo com o Ippuc, os bairros onde é mais difícil ter acesso ao transporte coletivo ainda preservam características urbanísticas de quando faziam parte da zona rural de Curitiba. São áreas com poucos habitantes e de baixa densidade demográfica. Umbará e Butiatuvinha, por exemplo, têm respectivamente 8,3 e 12,3 habitantes por hectare, volume bem inferior à média da cidade, de 40,3 pessoas por hectare.

O levantamento aponta que nos bairros onde é mais difícil chegar aos ônibus existem menos oferta de linhas. Em geral, são apenas poucos alimentadores – linhas que ligam um terminal ao interior do bairro –, que não dão conta de cobrir todas as áreas do bairro.

Avaliação

A Urbanização Curitiba S.A. (Urbs), que administra o sistema de transporte coletivo, avalia os números de forma positiva, mas entende que é possível melhorar o acesso ao serviço. "Se compararmos essa realidade a de outras capitais, podemos dizer que Curitiba está em boa situação. Mas, por outro lado, temos pontos que demandam melhorias e é nisso que temos que nos focar", diz o presidente do órgão, Roberto Gregório da Silva Júnior.

A alteração do trajeto ou a implantação de novas linhas dependem de estudos técnicos dos locais onde se reivindicam mais ônibus. Fatores como demanda e custo são esmiuçados na análise, para apontar se a mudança é viável.

"A gente tem que fazer uma avaliação da relação custo/benefício. Muitas vezes ampliar uma linha implica em um custo, que pode acabar sendo pago por todos os usuários do sistema de transporte coletivo", explica.

No pontoDistância e insegurança complicam a vida dos usuários

O sonho de Robson Rodrigues, de 20 anos, é se profissionalizar como jogador de futebol. O aquecimento para os treinos começa na caminhada de mais de um quilômetro, entre a casa dele e o ponto de ônibus mais próximo, onde embarca rumo ao campo do Trieste Futebol Clube. Ele é um dos 3,5 mil moradores do Butiatuvinha que moram longe das linhas de ônibus.

"O bom é que já chego aquecido. Em compensação, quando chove, perco o treino. Não dá pra arriscar chegar ensopado no ponto e pegar uma gripe", diz o atleta. Na regional Santa Felicidade, que engloba o Butiatuvinha, 20,4 mil pessoas precisam andar mais de 250 metros para chegar aos pontos.

Na regional Bairro Novo, 18,8 mil moradores estão distantes do sistema. Mais da metade – 11,3 mil – vivem no Umbará. Uma das localidades do bairro, a Vila Guilherme, é um dos retratos das dificuldades. Os moradores têm à disposição apenas duas linhas: a Futurama (que leva ao terminal Pinheirinho) e a Futurama/Sítio Cercado (que conduz ao bairro vizinho). A oferta reduzida faz que os moradores se desloquem mais para chegar aos pontos.

É o caso da dona de casa Bernadete Santos. Semanalmente, ela depende de ônibus para ir ao Hospital Erasto Gaertner, onde faz tratamento contra um câncer no intestino. Sozinha, ela vence a pé o percurso de 1,2 quilômetro até a linha. Às vezes, a dor a acompanha no caminho. "Semana retrasada, eu cheguei no ponto e o ônibus já tinha passado. Cheguei tarde no hospital e acabei perdendo a consulta", conta.

Para alguns, caminhar até as linhas é motivo de insegurança. No Umbará, não faltam histórias sobre assaltos de trabalhadores que iam aos pontos ou que voltavam para a casa. Por conta dis­so, a aposentada Lucélia Borges não deixa as filhas, de 18 e 19 anos, retornarem sozinhas para a casa. "Elas me ligam quando estão chegando e eu vou até o ponto para esperá-las. Por causa desses roubos, a gente fica com medo", afirma.

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