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Ônibus que liga Curitiba a Pinhais, vazio: integração com a RMC pressiona o custo do sistema | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Ônibus que liga Curitiba a Pinhais, vazio: integração com a RMC pressiona o custo do sistema| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

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Após repasses de R$ 8,5 mi, Comec não descarta renovar convênio

Nos primeiros dois meses de vigência do convênio entre a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), o governo do estado repassou R$ 8,5 milhões para cobrir o déficit de operação gerado pela operação das linhas metropolitanas. Os valores mensais são definidos com base nas planilhas de custos e arrecadação apresentadas pela Urbs.

A projeção de receitas e despesas para 2012 e 2013, que consta no documento assinado entre Urbs e Comec, mostra que, em média, enquanto as linhas urbanas arrecadam mais do que o custo da operação, as linhas metropolitanas geram um déficit mensal na faixa dos R$ 5 milhões. Apesar de o convênio ser válido somente até maio do ano que vem, a Comec admite que pode renovar os repasses por mais tempo.

"Quando o convênio foi fechado, o prazo de um ano foi estabelecido porque, nesse período, pretendíamos lançar o edital de licitação das linhas metropolitanas. Mas tivemos dificuldades, principalmente pelo fato de ser um ano eleitoral", afirma o coordenador da Região Metropolitana de Curitiba, Rui Hara.

Possibilidades

A Comec ainda trabalha com a previsão de lançar o edital até o fim deste ano. Enquanto o processo não segue adiante, Hara reforça que "todas as possibilidades estão em aberto", tanto a renovação ou abolição do convênio quanto a revisão do valor da passagem, para aproximá-la da tarifa técnica. Segundo estimativas da Urbs, caso a passagem fosse cobrada de maneira separada na RMC, passageiros das cidades vizinhas pagariam R$ 3,58.

Experiência

Na Europa, subsídio chega a pagar até 60% dos custos do transporte

No Brasil, os subsídios diretos ao transporte público não são comuns. Na maioria das cidades, os recursos para manter o sistema vêm exclusivamente da arrecadação com as tarifas. Já nos países desenvolvidos, especialmente na Europa, a situação se inverte.

Em algumas cidades, os subsídios chegam a pagar mais de 60% dos custos. É o caso de Amsterdã (Holanda), por exemplo. Em 2009, enquanto a arrecadação com tarifas chegou a US$ 173,6 milhões, o custo operacional foi de US$ 454,3 milhões – o rombo foi "tampado" com recursos públicos de US$ 280,7 milhões, o equivalente a 62% dos custos.

Em outras cidades, como Paris (França) e Madri (Espanha), conhecidas pelo transporte público eficiente, a diferença entre receita e despesas também é coberta pelo poder público. A origem dos subsídios é diversa, mas vem principalmente de cobranças voltadas ao uso do transporte individual, como altas taxas de licenciamento e impostos sobre a gasolina.

Há ainda medidas mais específicas. Na França, desde a década de 1970, empresas com mais de nove empregados pagam uma taxa para ajudar a manter o transporte público. O valor varia entre 0,5% e 2% sobre a folha de pagamentos. Atualmente, a cobrança é obrigatória para todas as cidades com mais de 10 mil habitantes.

Outra alternativa é o incentivo à construção de imóveis comerciais e residenciais em determinadas regiões das cidades, que acabam aumentando a demanda pelo transporte público naquelas áreas.

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O orçamento da prefeitura de Curitiba para 2013, enviado à Câmara Municipal há duas semanas, destaca uma conta que segue sem fechar há cinco anos. A previsão é que, no ano que vem, a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) amargue um déficit de R$ 48 milhões no gerenciamento do transporte público – valor calculado com base em quanto o sistema custa e quanto arrecada com tarifas.

O rombo leva em conta a discrepância entre a tarifa técnica – valor repassado para as empresas concessionárias, com base no custo real do sistema – e a passagem cobrada nos ônibus. Desde março, a tarifa técnica é de R$ 2,79, enquanto a passagem custa R$ 2,60. Pelos cálculos da Urbs, o déficit ocorre devido à operação da rede metropolitana, cuja despesa é maior do que a receita.

Para diminuir o impacto financeiro da integração com as cidades vizinhas, o governo do estado deve repassar à Urbs, no ano que vem, R$ 26,3 milhões. O convênio foi firmado em maio deste ano, por meio da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), e é valido durante 12 meses. Na outra ponta, a prefeitura prevê no orçamento o repasse de R$ 19,4 milhões à Urbs, que constam no documento como "receita intraorçamentária". Mesmo com os subsídios, o Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC), administrado pela Urbs, deve amargar ainda um saldo negativo de R$ 2,3 milhões.

O déficit entre custo do sistema e arrecadação em 2013, apesar de elevado, é menor do que o previsto pela Urbs para este ano. Segundo estimativas da empresa divulgadas nos últimos meses, o furo em 2012 chegará a R$ 58,7 milhões – R$ 10,7 milhões a mais do que o aguardado para o ano que vem.

A diminuição do déficit previsto é motivo de controvérsia. Para especialistas, o valor indica a possibilidade de um reajuste mais expressivo, que aproxime a tarifa cobrada da tarifa técnica. A diferença entre os dois valores, atualmente, é a maior dos últimos cinco anos.

A tese é corroborada pela expectativa de baixo crescimento no número de passageiros pagantes, que deve ficar na faixa dos 310 milhões por ano. Assim, sem uma arrecadação mais expressiva, sobram poucas opções para diminuir o rombo das contas, além do reajuste na tarifa e de mais subsídios públicos.

Falta transparência

A injeção de dinheiro público para subsidiar a tarifa não é unanimidade e esbarra em uma crítica comum ao gerenciamento do transporte em Curitiba: a falta de clareza no cálculo dos custos e de arrecadação do sistema. "Não há transparência na hora de fazer essa conta [do déficit]. Como validar informações que interferem na economia popular, no orçamento das famílias? Só um resumo de planilhas não quer dizer nada", critica o professor Garrone Reck, do Departamento de Transportes do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para o engenheiro civil Válter Fanini, assessor de políticas publicas do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PR), a redução dos custos, em tese, teria de vir acompanhada de um ganho real na produtividade do sistema, transportando mais passageiros em um espaço menor de tempo – o que não parece ser o caso de Curitiba. "É um absurdo gastar milhões [em subsídios] num transporte sem qualidade, com lotações expressivas, e concordar que esse cenário não pode ser alterado", opina.

Subsídio é opção mais viável a curto prazo, diz economista

O possível reajuste da tarifa de ônibus para Curitiba e Região Metropolitana deve ocorrer em março, após a negociação salarial dos funcionários do transporte coletivo. Segundo dados da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), os salários e benefícios correspondem a 45% do custo por quilometragem do sistema, que influencia diretamente na tarifa técnica (veja infográfico abaixo). Neste ano, o reajuste salarial foi de 10,5%. A inflação prevista para 2013, que deve balizar o reajuste mínimo concedido à categoria, deve ficar na faixa de 5,48%.

O ônus do rombo nas contas do sistema de transporte será uma das heranças herdadas pelo próximo prefeito de Curitiba. Até o momento, porém, o assunto foi pouco discutido e não consta nas principais propostas defendidas pelos candidatos Ratinho Júnior (PSC) e Gustavo Fruet (PDT).

Sem saída

Para o economista Wilhelm Meiners, professor da Universidade Positivo, a defasagem do sistema, a curto prazo, terá de ser combatida necessariamente com o repasse de verbas da própria prefeitura – já refém do uso de subsídios para equilibrar as contas. "Hoje, cerca de 15% dos passageiros têm descontos ou gratuidades. Alguém tem de pagar essa conta e é justo que a prefeitura faça isso. O problema é que, ano a ano, o déficit deve aumentar e o furo não vai ser resolvido, a longo prazo, enquanto não se adotar um novo sistema de transporte, mais eficiente", afirma.

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