• Carregando...
Paulo Strack desistiu de operar o calcanhar pelo SUS após quase um mês de espera e resolveu pagar pela operação | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Paulo Strack desistiu de operar o calcanhar pelo SUS após quase um mês de espera e resolveu pagar pela operação| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Em 20% dos casos, espera supera 90 dias

Cíntia Junges, especial para a Gazeta do Povo

Em Curitiba, todos os pacientes que precisam de consultas eletivas enfrentam longa espera pelo atendimento. Mas o serviço que exige maior tempo é a ortopedia. Segundo a superintendente de gestão da Secretaria Municipal da Saúde, Anna Paula Penteado, 20% das consultas agendadas na rede pública de saúde da capital ultrapassam 90 dias de espera. Já da unidade básica de saúde até a consulta com o especialista, a espera pode durar de quatro a seis meses, e não são raros os casos em que pacientes encaminhados para a ortopedia geral precisam retornar à fila de espera por atendimento nas subespecialidades médicas, como cirurgião de mão, de pé, entre outras.

Apesar da alta procura, a ausência dos pacientes nas consultas é algo frequente. Em média, 30% das pessoas que agendam não comparecem na data marcada. Na área de ortopedia, por exemplo, de agosto a novembro de 2010 foram agendadas 3.338 consultas, mas somente 2.063 foram realizadas.

Greve

Com a paralisação de parte dos servidores do Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, a espera por consultas, exames e outros procedimentos se agravou. Segundo a diretora de assistência do HC, Mariângela Pedroso, os atendimentos ambulatoriais foram mantidos e as consultas agendadas estão sendo feitas, já que os médicos não aderiram à greve. Porém, com exames e cirurgias suspensas, os pacientes têm sido prejudicados, pois não conseguem prosseguir com o tratamento. "Já encaminhamos uma proposta aos gestores municipais para fazermos consultas de triagem em ortopedia. Isso deve diminuir consideravelmente a fila de espera."

Maus-tratos

Usuários aguardam nos corredores por cirurgia

Maringá - Fábio Guillen, da Gazeta Maringá

No Hospital Universitário (HU) de Maringá e em outros três hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade, pacientes chegam a ficar semanas em macas, nos corredores, até serem submetidos à cirurgias. Na quarta-feira passada, nove pacientes estavam nesta situação – número que já chegou a 40, quando a crise no setor atingiu o seu auge.

No município, o tempo de espera pela cirurgia ortopédica é de três meses. O HU – a maior porta de entrada do SUS na Região Noroeste do estado – se tornou alvo de ações na Justiça em função da demora na realização e encaminhamentos de cirurgias ortopédicas. A direção do hospital chegou a pedir o descredenciamento para esse tipo de operação, alegando insuficiência de leitos e equipamentos. No entanto, o pedido foi negado pela 15ª Regional de Saúde pelo fato de o hospital ter assinado convênio com o SUS, o que não poderia ser revogado.

A CPI dos Leitos da Assembléia Legislativa, que passou pela cidade, apontou má gestão na distribuição das vagas. "Leitos existem, o que falta é a administração das vagas na cidade. Todas as vezes que a CPI vai a Maringá conseguimos vagas em outros hospitais para as pessoas que estão nas filas do HU. Por que as pessoas não conseguem sem a intervenção da CPI?", questiona o coordenador-geral da CPI dos Leitos do SUS no Paraná, Jefferson Abade.

Morte investigada

A CPI denunciou ao Ministério Público do Paraná, ao Conselho Regional de Medicina e à Secretaria de Estado da Saúde, o caso de uma idosa de 81 anos que morreu após a realização de uma cirurgia ortopédica no Hospital Metropolitano, em Sarandi, após esperar 16 dias pelo procedimento no corredor do HU de Maringá.

Maria da Conceição Bernardino faleceu minutos depois de sair da sala de cirurgia. "Se ela morreu por causa da espera pela vaga que já existia, queremos que os culpados sejam punidos", afirmou o presidente da CPI, deputado estadual Leonaldo Paranhos (PSC).

  • Antônio Kuvasney está sem trabalhar desde abril por causa de uma lesão

A ortopedia é a quinta especialidade com maior número de profissionais no Paraná. São 723 médicos, conforme registros do Conselho Regional de Medicina (CRM). Mesmo assim, a assistência a vítimas de torções ou traumas ósseos é apontada como o maior gargalo do sistema público de saúde do estado. Por causa da demora para marcar consultas, pacientes são obrigados a esperar até um ano pelo tratamento, que geralmente exige exames, retornos e cirurgias.

São casos como o da aposentada Sebastiana Fidelix Cristelli, 83 anos, que ficou 23 dias no corredor do Hospital Universitário de Maringá (HU) – com a perna fraturada – à espera de uma cirurgia. E o do motorista Antônio Kuvasney, 62 anos, residente em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, que está desde abril sem trabalhar por causa de um problema no quadril. Ele teve o primeiro atendimento relativamente rápido – 30 dias –, mas esperou mais quatro meses pela segunda consulta e ainda terá de fazer novos retornos até resolver seu problema. Para piorar, não conseguiu o auxílio-doença no INSS.

O presidente do CRM, Carlos Roberto Goytacaz Rocha, que é especialista em ortopedia e traumatologia, diz que o problema não é a falta de profissionais, mas a demanda excessiva, a gestão ineficiente e os investimentos insuficientes. Só no Hospital do Trabalhador, um dos três pronto-socorros que prestam atendimento de trauma na região de Curitiba, 290 pessoas por dia são atendidas –50% delas vítimas de traumas, em média.

Complicadores

A alta demanda faz com que a maioria dos profissionais fique nos pronto-atendimentos, faltando equipe para o atendimento ambulatorial, destinado a acompanhar os pacientes que não apresentam risco de morte. "Quando eu me formei, há 40 anos, os traumas ortopédicos graves eram os de guerra, o que a gente só via nos livros. Hoje, com os automóveis que andam a 180 quilômetros por hora, as lesões de guerra estão nas ruas", resume.

Além disso, Rocha fala que, em Curitiba, os especialistas que atuam no atendimento público têm que conviver com a falta de condições de trabalho – o que vai da carência de materiais básicos à ausência de centro cirúrgico – e também com a remuneração baixa. Situação que também se aplica ao interior. Como consequência, muitos migram para o serviço particular ou para convênios.

Vinícius Filipak, diretor de Políticas de Urgência e Emergência da Secretaria de Estado da Saúde, admite que no Paraná, como em todo o Brasil, os recursos disponíveis para a área não são suficientes. Para ele, a situação só será controlada com a conscientização da sociedade. "Para estabelecermos um equilíbrio entre oferta e procura [por atendimento ortopédico], precisamos de um trabalho interinstitucional, que envolva também a fiscalização da Lei Seca, fechamento de bares a partir de determinado horário e campanhas de trânsito, enfim, um conjunto de medidas."

Brasil

O Ministério da Saúde não dispõe de um sistema de informações sobre quais são os gargalos no atendimento público no país. Porém, informa que está em andamento um levantamento nacional que pretende mapear as principais necessidades regionais por profissionais de saúde. A pesquisa, que não tem data para ser concluída, deverá subsidiar a elaboração de um planejamento que permitirá uma distribuição mais igualitária dos profissionais nas diferentes regiões.

Paciente cansa de esperar e paga cirurgia

Juliana Gonçalves, Derek Kubaski e Denise Paro, das sucursais

O tempo de espera por procedimentos na área de ortopedia pode chegar a um ano no Paraná. Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, quem precisa receber uma prótese total de ombro, por exemplo, tem que ficar na fila por até 12 meses. Na região, o Hospital Vicentino é o único credenciado pelo SUS a realizar esse tipo de procedimento. A lista de espera tem mais de 200 pacientes.

A demora se repete no atendimento de traumas que exigem cirurgias de média complexidade, nesse caso, encaminhados ao Hospital Municipal Amadeu Puppi. Porém, mesmo em situações emergenciais, a espera pode ser de quase um mês. Foi o que ocorreu com o mecânico Paulo Roberto Strack. Em fevereiro deste ano, ele escorregou do telhado de casa e fraturou o calcanhar. Strack ficou 21 dias internado no Hospital Municipal à espera de uma cirugia. Nesse período, recebeu apenas medicação para suportar a dor.

Cansado de aguardar, desistiu do SUS. Fez um empréstimo de R$ 4,8 mil e realizou a operação em uma clínica particular de Ponta Grossa, 26 dias depois do acidente. Strack conta que já gastou R$ 1 mil com fisioterapia e medicação.

Fila

Cento e setenta e três dias é, em média, o tempo de espera em Londrina. Há quatro tipos de cirurgias de alta complexidade que exigem mais paciência da população, entre elas ortopedia. No topo da lista estão as cirurgias gerais, que incluem as torácicas, proctológicas, vasculares e endócrinas. Em seguida, pela ordem, a espera maior é por cirurgias ginecológicas, ortopédicas e otorrinolaringológicas.

Um levantamento dos últimos três anos, feito pela Secretaria Municipal de Saúde, mostra que hoje 16 mil pacientes aguardam para fazer cirurgias eletivas em diferentes especialidades.

Medida

Em Foz do Iguaçu, o reduzido número de leitos, aliado ao alto índice de criminalidade e de acidentes no trânsito, estrangulam o sistema de atendimento e fazem com que a fila de espera passe de três meses. O secretário de Saúde, Alexandre Kraemer, diz que para resolver o problema o município contratou os serviços do Hospital Cataratas. Dessa forma, segundo ele, a fila que chegava a oito meses caiu para três. Até o final do ano, a prefeitura pretende normalizar o atendimento.

* * * * *

Interatividade

Há mais alguma especialidade que você tem dificuldade para agendar consulta? Qual e por quê?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]