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Trabalhei alguns anos com ronda policial, cobrindo assassinatos e acidentes variados, mas confesso que nenhum destes casos me deixava abalada emocionalmente. Eram os resgates – e quando as vítimas estavam vivas e sofrendo – que me deixavam tocada. Neste cenário nenhuma outra cobertura me abalou tanto quanto a queda do Edifício Atlântico.

Imaginar que as pessoas estavam sofrendo sob os escombros e até ouvir os pedidos de socorro era uma tortura. E dentro de toda aquela tragédia, duas cenas marcaram com mais força. A primeira delas é de uma mulher que voltava de uma caminhada na praia. Lembro de acompanhar a cara de espanto, quando ela chegou na rua e se deparou com o prédio em ruínas. Ela vinha em ritmo acelerado e, aos poucos foi diminuindo, seu rosto se transformando, levou as mãos à cabeça, até cair sentada no meio-fio, sem condições de esboçar qualquer palavra. A outra cena envolvia um senhor, já na terceira idade, que esperava com grande ansiedade a retirada de sobreviventes e corpos. Aproximei-me e perguntei se ele era parente de alguém que estava na construção. Ele relatou então que filho, nora e os dois netos estavam no prédio. E falou os nomes dos quatro. Na lista de mortos retirados encontrei os quatro nomes e, sem coragem de lhe dizer algo, despedi-me e fiquei um pouco mais distante disso.

Meu autocontrole durou o tempo necessário para que eu terminasse as entrevistas. Já no retorno para Curitiba, fiz algo que meus professores de Jornalismo recomendavam que nunca se fizesse: chorei, e muito. Escrevi a matéria e fui embora. Mais uma vez, caí nos prantos.

É por isso que quando vejo o Haiti (ou outras tragédias) não consigo deixar de lembrar do Edifício Atlântico e do sofrimento de todos os envolvidos. É uma experiência que marca para sempre.

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