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O modal ferroviário deve receber R$ 92 bilhões em investimentos no país nos próximos 25 anos | Hugo Harada/Gazeta do Povo
O modal ferroviário deve receber R$ 92 bilhões em investimentos no país nos próximos 25 anos| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Investimentos caíram 60% desde 1970

Entre os anos 1970 e 1980, o país chegou a investir 5,42% do PIB em infraestrutura, mas o número caiu para uma média de 2,16% na última década. No ano passado, esse indicador ficou em 2,05%, segundo um estudo feito pelo economista Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.

O Brasil ocupa a pior posição em relação à qualidade do transporte em um grupo de 14 países, entre os quais estão Chile, Argentina, Colômbia e México, segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na infraestrutura de transporte, o Brasil também perde para as principais potências emergentes: China, Índia, Rússia e África do Sul.

O Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) calcula em R$ 985,4 bilhões a defasagem entre a infraestrutura de transporte do Brasil e a dos Estados Unidos. O que significa que, investindo R$ 100 bilhões por ano, o país levaria quase uma década para alcançar o padrão atual americano, segundo João Guilherme Araújo, diretor de desenvolvimento do Ilos. Somente para o setor de portos o país precisa investir cerca de R$ 40 bilhões.

Investir em infraestrutura não apenas aumenta a competitivade de empresas e países como estimula o crescimento da economia. "Estimativas de mercado dão conta que os investimentos em infraestrutura podem gerar um efeito incremental no PIB entre 0,5% e 0,6%", diz.

"PAC das Concessões" levará país de volta à decada de 1950

O modelo de infraestrutura adotado pelo país também caminhou no sentido inverso ao dos países desenvolvidos, nos quais há uma participação maior do modal ferroviário. Desde a privatização da malha ferroviária, há 15 anos, a participação das ferrovias no transporte brasileiro cresceu muito pouco, passando de 18% para 22%, segundo cálculos do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). As rodovias representam 62%, a cabotagem, 15% e os dutos, em torno de 1%.

Com o novo pacote de investimentos, o Brasil voltará ao número de quilômetros de ferrovias do fim dos anos 1950. Em 1958, o Brasil detinha 38 mil quilômetros de ferrovias. Hoje são 28 mil quilômetros de trilhos e com os investimentos serão mais 11 mil quilômetros. Para João Guilherme Araújo, diretor de desenvolvimento do Ilos, o programa, além de reforçar a expansão da malha ferroviária, terá de, obrigatoriamente, estabelecer integração na ponta do escoamento. "Toda ferrovia precisa terminar em um porto."

Estima-se que a falta de investimentos em infraestrutura inibem o crescimento entre 0,5% a 0,6% do PIB do Brasil. Os investidores estabelecem uma espécie de deságio, ou prêmio negativo, quando vão investir no Brasil devido aos gargalos de logística. O custo da logística sobre o PIB é de 10,6% no Brasil, contra 7,7% nos Estados Unidos.

O pacote de concessões lançado pelo governo federal, apesar de ser considerado um passo importante para acelerar os investimentos em logística, dificilmente será suficiente para modernizar a infraestrutura no país. Segundo especialistas, os R$ 133 bilhões que serão investidos nos próximos 25 anos representam apenas 5% do necessário para o país eliminar gargalos.

As estimativas apontam para uma necessidade de investimento em infraestrutura entre R$ 80 bilhões e R$ 125 bilhões por ano no Brasil. Pelas contas do economista Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B, o país precisa no mínimo dobrar a participação desses investimentos sobre o Produto Interno Bruto (PIB).

A proporção, que no ano passado ficou em 2,05%, precisaria chegar próximo de 4%. "Isso significaria investir cerca de R$ 100 bilhões por ano em áreas como transporte, telecomunicações, saneamento e energia", diz. No total, seriam R$ 2,5 trilhões em 25 anos. "O montante para rodovias e ferrovias representa apenas 5% desse total. Mesmo com os novos investimentos que deverão ser anunciados (nas áreas de portos, aeroportos e energia), dificilmente chegaremos ao montante ideal", diz.

Cinco anos

Lançado há 15 dias, o chamado "PAC das Concessões" prevê aplicar R$ 42 bilhões em 7,5 mil quilômetros de rodovias e R$ 92 bilhões em 10 mil quilômetros de ferrovias em 25 anos. A maior parte dos recursos – R$ 79,5 bilhões – será investida em cinco anos, o que significa entre R$ 16 bilhões a R$ 20 billhões por ano. A segunda fase do pacote deve ser lançada até o fim de setembro. "O volume previsto no pacote até agora representa apenas 0,1% do PIB ao ano em três décadas, o que é insuficiente para estimular a economia", diz o presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), Gilmar Mendes Lourenço.

Apesar de o volume ainda estar bem aquém do necessário, o pacote de concessões representou um avanço, principalmente por reduzir o papel do governo, segundo analistas. "Ele trouxe a questão da logística para a agenda do país. O modelo, que atribui à iniciativa privada a execução das obras, também é acertado", diz João Guilherme Araújo, diretor de desenvolvimento do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).

"Ficou claro para o governo, principalmente a partir das últimas experiências, com o PAC 1 e 2, que ele tem dificuldade de ordem fiscal e em executar, com qualidade, as obras", concorda Frischtak.

O estado brasileiro não tem dinheiro para investir em infraestrutura. Dos 2,05% do PIB destinados a essa área no ano passado, cerca de 1% saiu dos cofres do governo. Na China, por outro lado, o governo investe 10% do PIB no setor.

Apetite

Apesar dessas dúvidas e de a taxa de retorno dos projetos – entre 6% e 6,5% ao ano – ter sido considerada baixa pelas empresas, os investidores devem demonstrar apetite na disputa pelos lotes que irão a leilão. Para os investidores nacionais e internacionais, o Brasil representa a combinação de demanda forte para os próximos anos com baixo risco e segurança institucional. "Além disso, as empresas poderão contar com financiamento competitivo do BNDES, com a recente queda nas taxas de juros", avalia Frischtak, da Inter.B.

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