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Entrevista

Daniel Carvalho, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

A família também precisa perder peso com a criança

Nos últimos 30 anos, houve um aumento de mais de 200% na incidência de sobrepeso entre crianças de 5 a 9 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo Daniel Carvalho, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o fator que mais contribui para o aumento da obesidade infantil é o hábito de alimentação de toda a família, que precisa perder peso com a criança.

O fato da mãe e do pai serem obesos influencia no sobrepeso da criança?

Sim, o problema pode vir associado a aspectos físicos dos pais. Faz parte do tratamento da criança obesa pesar a mãe, o pai, os avós ou responsáveis pelo cuidado da criança, que devem perder peso juntamente com ela. Todo mundo tem de participar.

A obesidade infantil costuma ter relação com fatores genéticos?

Existe, sim, o fator genético, mas o que contribui mais é o ambiente obesogênico familiar (os hábitos de consumo de alimento na família).

Que tipo de hábito favorece o sobrepeso?

Ter guloseimas, como biscoitos e salgadinhos, em casa. A criança não sabe discernir o que é bom para ela, por isso, os pais precisam explicar o que ela deve comer. Se os pais comem muito e engordam fácil, o filho provavelmente terá esse mesmo problema.

Que problemas de saúde a criança obesa pode desenvolver?

Ela pode ter diabete, hipertensão, dificuldades respiratórias que interrompem o sono e problemas relacionados ao crescimento.

O que os pais podem fazer para ajudar os filhos?

É importante agir, colocar a criança para fazer algum esporte. Não há medicação para criança, o tratamento precisa ser baseado em alimentação e atividade física.

Inconformado com o constante ganho de peso da filha de 6 anos, um pai de Londrina, no Norte do Pa­ra­­ná, registrou boletim de ocorrência contra a ex-mulher e os avós maternos da menina por maus-tratos. O casal está separado desde 2010 e disputa a guarda da filha – que mora com a mãe e os avós – na Justiça.

O pai diz que a menina não recebe alimentação adequada e, por isso, engorda. Aos 6 anos, pesa mais de 50 quilos (kg). A avaliação feita por uma nutricionista em janeiro e apresentada por ele à polícia diz que o peso ideal para a criança, que media 1,35 metro e pesava 49 kg à época, seria cerca de 20 kg.

"A cada 15 dias, quando vejo minha filha, percebo que ela está mais gorda. Cheguei a levar o caso ao Conselho Tutelar", afirma ele, que não quis ser identificado.

O pai diz que procurou a polícia antes, mas não conseguiu fazer boletim de ocorrência, porque disseram a ele que não é crime a criança estar acima do peso. Desta vez, ele apresentou à polícia a avaliação antropométrica da menina e artigos sobre a responsabilidade legal em relação aos filhos.

Ele nega que a denúncia tenha relação com a disputa da guarda. "Estou preocupado com a saúde dela. Ela já tem o colesterol alterado e sofre bullying na escola", diz.

Hereditário

A reportagem não conseguiu falar com a mãe da garota. O advogado dela, Vanderley Doin Pacheco, disse que a menina recebe a atenção médica necessária. "A mãe não é omissa. A questão é hereditária: várias pessoas das famílias materna e paterna têm sobrepeso. Além disso, o pai também é responsável pela saúde dela", disse.

Pacheco afirmou que os mesmos argumentos apresentados pelo pai à polícia foram usados no processo que corre em segredo de Justiça.

O delegado Cássio Wzorek, do 2.º Distrito Policial de Londrina, disse que convocou a mãe da menina. "Provavelmente será feito um termo circunstanciado de infração penal. Em seguida, encaminharei o material para o Juizado Especial Criminal, onde o casal deverá ser ouvido", disse.

A culpa dos pais

Você acha que os pais podem ser responsabilizados pela obesidade dos filhos?

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