Giovani ajeita Giulia na cadeirinha. Os R$ 350 gastos salvaram a vida da filha em um acidente grave: “Agora, não vou até a esquina sem ajeitar ela direitinho no carro”, diz o pai| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Equipamento deve ter selo do Inmetro

Desde o dia 25 de março, as cadeiras de transporte infantil só podem ser comercializadas com o selo de certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A obrigatoriedade deveria estar valendo desde outubro de 2008. Entretanto, sob o argumento de que o comércio teria prejuízo com o estoque já comprado, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) optou por prorrogar o início da obrigatoriedade.

Segundo a coordenadora de projetos da organização não governamental Criança Segura, Ingrid Stammer, o selo do Inmetro é a garantia de que o equipamento é realmente seguro. "O Inmetro só libera o selo para as cadeirinhas testadas e aprovadas. Antes da normatização, o consumidor não tinha garantia alguma de que o equipamento era realmente seguro", avalia.

Há três modelos básicos de cadeirinhas (veja infográfico). "Esses equipamentos devem ser usados porque o cinto de segurança não é projetado para pessoas abaixo de 1,45 metro de altura. Portanto, se a criança usar só o cinto, ela pode ser estrangulada em um acidente", explica Ingrid. (MXV)

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Cadeirinha obrigatória em 2010

A partir de 9 de junho de 2010, o uso das cadeirinhas no transporte de crianças será obrigatório, conforme determina a resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada em maio do ano passado. Ao entrar em vigência, o transporte de crianças fora dos padrões estabelecidos pela resolução será enquadrado como infração gravíssima, com multa de R$ 191,54 e retenção do veículo até o problema ser sanado. A obrigação não vale para veículos acima de 3,5 toneladas (como caminhões), de transporte coletivo, táxis e escolares.

Para o médico Rached Hajar Traya, chefe do pronto-socorro do Hospital do Trabalhador e membro da Sociedade Pan-Americana de Trauma, a obrigatoriedade das cadeiras de segurança é mais do que bem-vinda, mas deveria ter sido posta em prática há muito mais tempo. "Se a obrigatoriedade tivesse sido prevista já na promulgação do novo Código Nacional de Trânsito, em 1998, as vidas de muitas crianças teriam sido poupadas", critica o médico.

Mesmo assim, Traya só vê vantagens com a Resolução 277. Como comparativo, o médico cita a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança – prevista em 1998. "A ocorrência de muitas lesões, como de face, tórax e crânio, diminuiu consideravelmente. O mesmo vai acontecer com a obrigatoriedade das cadeirinhas em relação às crianças", afirma o cirurgião. (MXV)

Veja a forma de usar cada modelo de cadeira infantil conforme o tamanho e a idade da criança

Nove em cada dez crianças são transportadas de maneira inadequada nos veículos que trafegam nas estradas das regiões Norte, Centro-Oeste e Oeste do Paraná. Foi o que revelou um levantamento da concessionária de pedágio Viapar, demonstrando o nível de negligência dos pais.

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De 2 mil veículos com crianças que passaram pelas praças da empresa em Londrina, Paranavaí, Maringá, Apucarana, Campo Mourão e Cascavel em um mês, em 93% dos casos (1.860 carros) as crianças eram transportadas de forma inadequada. "O que mais constatamos eram pais levando crianças no colo no banco da frente ou deitadas no banco traseiro, correndo risco de serem arremessadas para fora do veículo em uma freada brusca", informa o gerente de operações da Viapar, o engenheiro civil Luciano Mendes. A concessionária vai reforçar as campanhas de conscientização do uso adequado das cadeiras para o transporte das crianças.

O trânsito é a principal causa de mortes por acidente de crianças entre 1 e 14 anos, com 2.176 óbitos em 2006, média de 6 por dia, conforme dados de 2006 do DataSUS – o sistema de estatística do Sistema Único de Saúde (SUS). Só na condição de passageiras dos veículos, 550 crianças morreram no mesmo ano, média de 1,5 óbito por dia.

O médico Marcelo Ribas, responsável pelo setor de traumatologia pediátrica do Hospital Vitta e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica, afirma que muitos pais ainda têm uma escala de valores distorcida. Gastam em equipamentos caros para o carro, como aparelhos de som, rodas, vidros e travas elétricas, mas consideram o preço das cadeiras muito alto. "Infelizmente, muitos pais preferem investir para deixar o carro bonito a investir em segurança. A pessoa gasta R$ 500, R$ 600 em um aparelho de som, mas acha um absurdo gastar o mesmo valor na cadeira, que pode impedir a morte do próprio filho", argumenta. Além do risco de morte, Ribas enfatiza que as lesões em crianças vítimas do trânsito, como fratura da coluna lombar e perfuração do intestino, podem deixar sérias sequelas.

O médico ressalta que o uso adequado das cadeirinhas – que desde o mês passado devem ter obrigatoriamente certificação do Inmetro e cujo uso a partir de junho de 2010 será obrigatório (leia textos ao lado) – reduz em até 71% o risco de morte, conforme estudos feitos nos Estados Unidos. Foi o que constatou pessoalmente a família do analista de processos Giovani Teles, 36 anos, de São José dos Pinhais.

No último domingo, quando voltavam de viagem de São Paulo, o carro da família com Giovani, a esposa Valdegilza, 36, e os filhos Victor, 9, e Giulia, 1 ano e 5 meses, se envolveu em um acidente na BR-116. Após bater em um caminhão, o veículo capotou três vezes. Apesar do dano no automóvel – o mecânico chegou a perguntar como ele e a família haviam saído vivos do acidente –, os quatro tiveram apenas ferimentos leves.

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O casal foi salvo pelo cinto de segurança e pelo airbag, Victor pelo cinto de segurança, enquanto Giulia, graças à cadeirinha, saiu apenas com uma batida leve na cabeça. "Antes do acidente, eu costumava fazer trajetos curtos sem prender minha filha na cadeirinha. Agora, não vou até a esquina sem ajeitar ela direitinho no carro", diz o pai. Teles, que pagou R$ 350 pela cadeira, a considera cara. Mas indispensável. "Depois desse acidente, acho que vale a pena pagar até R$ 1 milhão pela cadeirinha, só para poder ver nossos filhos vivos", contrapõe.

Uso correto

Mais do que ter uma cadeira é preciso usá-la de forma adequada conforme a idade e o tamanho da criança (veja infográfico). Do contrário, o equipamento pode não ter efeito algum.

A coordenadora de projetos da organização não governamental Criança Segura, Ingrid Stammer, afirma que mesmo com a cadeirinha, muitos pais ainda têm sensação de que o colo é o lugar mais seguro para a criança, o que é errado. Primeiro, porque ninguém nunca está preparado para o fator surpresa. "Nunca se sabe quando vai acontecer um acidente", aponta Ingrid. Segundo, porque uma criança de 10 quilos em uma colisão a 50 quilômetros por hora chega a ter impacto equivalente a meia tonelada quando lançada para frente. "É impossível um ser humano conseguir conter um impacto desse", enfatiza.

Ingrid ainda alerta que nunca se deve reutilizar a cadeira após um acidente. Ela explica que a força da batida pode enfraquecer ou danificar o equipamento. "Isso pode acontecer mesmo nos acidentes menores. O dano pode não ser visto a olho nu", aponta.

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Serviço

Dia 15 de abril, a ONG Criança Segura promove treinamento sobre o cuidado no transporte de crianças. A ação é voltada para pais e profissionais das áreas de transporte, saúde, educação, entre outras. Informações pelo telefone (41) 3023-7070, site www.criancasegura.org.br ou e-mail mariana@criancasegura.org.br.