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Confira alguns dados levantados pela pesquisa da SaferNet |
Confira alguns dados levantados pela pesquisa da SaferNet| Foto:

Como evitar os riscos

Entre os crimes que envolvem crianças e jovens estão aqueles contra a honra, distorção de imagens e incitação à violência. No entanto, ameaças consideradas mais graves como pedofilia, tráfico de seres humanos e de órgãos e seqüestro também ameaçam o público infantil. Segundo o delegado Demetrius Gonzaga de Oliveira, chefe do Núcleo de Combate ao Cibercrime da Polícia Civil do Paraná, a inocência das crianças facilita o crime, pois elas caem em armadilhas, pondo a si mesmas e a toda a família em perigo. "É preciso acabar com essa falsa noção de segurança", alerta. "Os pais devem deixar de acreditar que um jovem sozinho no quarto, navegando na internet, está fora de perigo. Os riscos existem e são inúmeros."

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SÃO PAULO - No Brasil, o maior receio dos pais quando seus filhos usam a internet é que eles sejam vítimas de um adulto "mal-intencionado". A maioria deles, porém, não impõe qualquer restrição aos filhos no uso da rede mundial de computadores. A informação faz parte de pesquisa inédita, feita pela ONG SaferNet, em parceria com o Ministério Público Federal.

Dos 1.326 internautas de todo o país que responderam a pergunta no site da SaferNet, 451 são pais e 875 crianças ou adolescentes de até 18 anos. A despeito da preocupação manifestada por 84% dos pais, 87% das crianças e jovens disseram que não têm qualquer restrição de navegação imposta pela família. Mais da metade (53%) disseram que já tiveram contato com conteúdos agressivos e que eles próprios consideram impróprios para sua idade e 10% afirmaram já ter sofrido algum tipo de chantagem online.

A maioria dos pais (63%) admitiu não adotar medidas restritivas para os filhos. E 40% informaram que seus filhos já foram vítimas de algum tipo de "incômodo" ou "constrangimento".

Para o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da SaferNet Brasil, os pais muitas vezes não sabem que regra adotar em relação ao uso da internet, e dizem desconhecer, inclusive, a melhor forma de utilizar a rede mundial.

"A gente percebeu que os pais não sabem que regras adotar. Eles mesmos dizem que têm dificuldades, não sabem como proceder. O que acontece, muitas vezes, é um constrangimento do pai diante do filho por não ter o conhecimento que esse filho tem de internet. Eles também têm dificuldade em considerar a internet um espaço público, como qualquer outro", ressalta Nejm.

Dentro das casas, a internet é tratada como algo "privado". Contrariando o que dizem os especialistas em prevenção de crimes pela internet, principalmente pedofilia, 64% das crianças e jovens disseram que acessam a internet em computador instalado em seu próprio quarto.

Os pais, por sua vez, não controlam nem o tempo que ficam diante do computador: 77% dos jovens disseram que não têm limite de tempo estabelecido pelos pais – 55% reconhecem que ficam "tempo demais" e 44% contam que passam 4 horas por dia conectados – quase o mesmo tempo que ficam em sala de aula.

A procuradora da República Adriana Scordamaglia, integrante do Grupo de Combate a Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal de São Paulo, diz que a culpa da falta de controle no acesso dos mais jovens à internet não é dos pais. "Se alguém tem culpa nisso são os provedores, e até o próprio Estado, que não tem políticas públicas voltadas para conscientização e prevenção no uso da Internet. Os pais não sabem muitas vezes o que fazer", diz.

A ONG informou ter entrado em contato com alguns provedores no intuito de usar os canais como divulgadores da pesquisa. Apenas o Google, a Telefônica e o MSN fizeram algum tipo de divulgação do questionário, segundo Thiago Tavares, presidente da SaferNet.

Outros dados da pesquisa devem servir de alerta para os responsáveis. Das crianças e adolescentes que responderam ao questionário, 38% disseram ter sido vítimas de "cyberbullying", ou seja, constrangimento ou chacota virtual.

Encontros com desconhecidos, marcados pela web, não são raros: 27% dos jovens admitiram ao menos uma vez ter encontrado, presencialmente, alguém que conheceram pela Internet. Outros 54 disseram que algum colega já fez isso.

O receio dos pais se dá principalmente por conta do aumento de crimes na rede. Segundo o MPF, 90% da criminalidade praticada na rede é feita por meio de sites de relacionamento como o Orkut, por exemplo. Mesmo assim, o que não falta nos sites de relacionamento são perfis com fotos de crianças e adolescentes, muitas vezes expostas em páginas dos próprios pais.

Segundo a pesquisa, 72% das crianças e jovens publicam suas fotos na rede e 51% divulgam o sobrenome além do nome verdadeiro, algo que a ONG e o MPF não recomendam. Até o nome da escola e do clube que freqüentam são divulgados por 21%.

Os sites de relacionamento são citados como os preferidos por 80% dos jovens e crianças, mas na hora de se cadastrar adultos não participam – 66,71% contaram que se cadastraram sozinhos e sem supervisão.

De acordo com a ONG e o MPF, os criminosos geralmente entram em sites de relacionamento e, ao ganhar a confiança das crianças, migram para conversas virtuais em programas de chat instantâneos, como o Messenger, o mais usado na rede MSN.

"Há caso de adultos, no Messenger, por exemplo, que se passam por crianças para aliciar menores pela internet. Eles usam linguagem de criança, e muitas vezes trocam vídeos e fotos de outras crianças como se fossem eles. Eles têm um código acertado com as vítimas, inclusive para informá-los o momento em que os pais dessas crianças chegam no quarto, por exemplo", diz Thiago Tavares.

Os dados, considerados surpreendentes pelos responsáveis pela pesquisa, devem dar origem a uma cartilha de orientação.

A pesquisa mostrou que 42% dos pais e 40% das crianças e adolescentes já fizeram ao menos uma denúncia de crime na Internet. Os pais, de acordo com o levantamento, têm se mostrado interessados em obter mais informações sobre prevenção a crimes cibernéticos.

"Na pesquisa, 79% dos pais se mostraram dispostos a receber dicas de prevenção ou orientação. E 65% deles se prontificaram a ser multiplicadores de informação em relação a novas ações que devem ser adotadas para evitar esses crimes", conta o psicólogo Rodrigo Nejm.

A SaferNet, que oferece ao MPF denúncias relativas a crimes cibernéticos, colocou a pesquisa em seu site entre os dias 21 de julho e 30 de setembro. No total, o questionário fez 38 perguntas sobre os hábitos da família brasileira na internet.

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