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Angola, Colômbia e Haiti estão interessados em replicar o modelo da Faculdade Zumbi dos Palmares, de São Paulo, até hoje a única instituição de ensino da América Latina com ampla maioria de alunos negros (87% do total). "Constantemente recebemos visitas ou visitamos universidades de outros países para trocas e intercâmbios", afirma à Agência Estado o reitor da instituição, o advogado José Vicente. No país, ele quer levar a experiência da faculdade, cujo campus fica na zona norte de São Paulo, para o Rio de Janeiro e para Salvador.

A faculdade, que concede cotas para negros ou pardos, terá 12 cursos superiores e duas pós-graduações até o fim deste ano, adianta Vicente, já contando com os atuais e mais procurados de Direito e Administração, e os de Tecnologia em Transportes, Pedagogia e Publicidade e Propaganda. Estão matriculados atualmente na Zumbi dos Palmares 1,8 mil alunos.

Às vésperas da celebração de 123 anos da abolição da escravatura no Brasil, no dia 13 de maio, Vicente avalia que a situação do negro no país está melhor do que anos atrás, mas "muitíssimo distante da situação minimamente adequada". Para ele, o tema ainda não seduziu o país e as forças políticas e sociais não conseguiriam compreender "o terrível prejuízo que sofrem todos, negros e brancos, pela não integração de verdade dos afrodescendentes na vida do País".

E continua: "Talvez, depois das mulheres, do idoso, do adolescente, do meio ambiente, do trabalho escravo, do consumidor, dos homossexuais, os negros - agora maioria dos brasileiros e a maioria da 'nova classe média' do consumo - tornem-se a bola da vez na agenda política, econômica e social brasileira".

Algumas pesquisas embasam os argumentos de Vicente, membro do conselho de diversas entidades, além do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), vinculado à Presidência da República. Há maior incidência de mortes entre jovens negros, aponta o Mapa da Violência 2011, elaborado pelo Instituto Sangari, em parceria com o Ministério da Justiça. Os negros também não tem presença expressiva nas universidades e nos altos cargos de grandes empresas, como demonstra a pesquisa "Perfil Social, Racial e de Gênero e Suas Ações Afirmativas -2010", feita pelo Instituto Ethos. Mulheres negras recebem menos anestesia e morrem cerca de sete vezes mais durante o parto, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o reitor, apesar dos números revelarem uma realidade vergonhosa, há avanços e iniciativas internacionais como o estabelecimento pela Organização das Nações Unidas (ONU) de 2011 como o Ano Internacional dos Afrodescendentes. Vicente considera que isso contribui positivamente porque ajuda a conscientizar as pessoas sobre a questão. "Ajuda muito porque registra que as coisas ainda continuam irresolvidas, reafirma que os valores universais pelos quais lutamos continuam de acessos a poucos e nos alerta que o aumento desse fosso somente poderá nos levar ao conflito nunca à conciliação", analisa o reitor.

Segundo o presidente IBGE, Eduardo Pereira Nunes, ao comentar recentemente a divulgação dos dados preliminares do Censo 2010, a declaração da proporção de população negra aumentou, não porque aumentou a fecundidade do grupo, mas porque cresceu o sentimento de pertencimento. Para o reitor, o aumento da presença e designação de papéis relevantes para os negros nos últimos anos, como ministros de Estado, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), governadores, e em papéis em telenovelas por exemplo, contribuíram para o fenômeno.

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