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Árvores derrubadas na Amazônia: em dez anos, o Brasil perdeu em média 2,6 milhões de hectares. Na década de 1990, a média era de 2,9 milhões | Bruno Kelly/Reuters
Árvores derrubadas na Amazônia: em dez anos, o Brasil perdeu em média 2,6 milhões de hectares. Na década de 1990, a média era de 2,9 milhões| Foto: Bruno Kelly/Reuters

Entrevista

Roman Michalak, agente florestal da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa.

Como a Europa, a América do Norte, o Cáucaso e a Ásia Central estão aumentando suas áreas de floresta?

Vários fatores dão suporte aos números, e, apesar de existir um grupo de países com um alto índice de reflorestamento, o aumento da área de florestas é reportado em quase todos os países da região, independentemente do Produto Interno Bruto, população e outras características. Entre as razões para isto podemos mencionar fatores distintos que atuaram de maneira específica em vários países: áreas de floresta relativamente pequenas devido ao histórico de desmatamentos; aumento na produtividade agrícola e, consequentemente, maior concorrência por terras; aumento geral na percepção de que as florestas são positivas e um elemento desejável de paisagem; desenvolvimento econômico geral e, através dele, maior disponibilidade de recursos para o reflorestamento; a posse e as mudanças sociais em áreas rurais, que resultaram no aumento da disponibilidade de terras para reflorestamento; força relativa do setor florestal capaz de oferecer uma alternativa para a agricultura; capacidade técnica do setor florestal para reflorestar áreas tão grandes; e suporte político para se aumentar a área de florestas.

As diretrizes adotadas nessas regiões podem ser seguidas em países em desenvolvimento?

Seguramente os países em desenvolvimento podem obter a mesma experiência dos países da região da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa. Entretanto, vemos que a chave para mudar a tendência é ajustar a abordagem econômica geral, que é baseada na análise de condições locais e nacionais. Talvez soluções políticas sejam mais importantes aqui. Diretrizes para reflorestamentos podem ser elaboradas futuramente – se já não foram desenvolvidas – por especialistas nacionais. Obviamente, a experiência de países bem sucedidos na área seria de grande utilidade.

Países como o Brasil poderiam atingir um alto nível de desenvolvimento sem desmatar suas florestas?

No geral, pode-se certamente dizer que é possível, e isto é demonstrado por tendências atuais em alguns países que comprovam que o desmatamento não é pré-requisito para o desenvolvimento. Muito pelo contrário.

* Entrevista concedida por e-mail.

Enquanto o Brasil trava uma batalha há décadas contra o desmatamento, nações desenvolvidas registram aumento da área florestal. De acordo com levantamento da Organização da Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) divulgado no ano passado, a Europa registrou aumento de 2% de cobertura florestal entre 1990 e 2010. No mesmo período, as áreas da Ásia e do Pacífico cresceram 1% e as da América do Norte, 0,3%. Já a América do Sul e a África tiveram as maiores perdas líquidas anuais de cobertura florestal nos últimos dez anos: 4 milhões e 3,4 milhões de hectares, respectivamente. Ou seja, a soma de todos os ganhos em cobertura florestal foi menor que todas as perdas. A conclusão do estudo da FAO é que o desmatamento mundial diminuiu, mas segue alarmante em muitos países.

Veja os índices de cobertura florestal nos continentes e as causas por trás dos números de alta ou redução do desmatamento

O Brasil, uma das nações com maior cobertura florestal do mundo, também continua com saldo negativo, mas tem reduzido "significativamente" as taxas de desmatamento, aponta a pesquisa. O país perdeu em média 2,6 milhões de hectares de florestas anualmente nos últimos dez anos, comparado com uma queda de 2,9 milhões de hectares na década de 1990. Agora, um dos desafios é alcançar o desenvolvimento sem desmatar.

O coordenador do Programa Ama­­zônia da organização não governamental WWF-Brasil, Mauro Armelin, afirma que não existe mais o antagonismo floresta versus desenvolvimento. "O metro cúbico de madeira é mais caro que dez quilos de carne", exemplifica. Para Armelin, o país precisa reduzir taxas de desmatamento, com prioridade para o Cerrado, e recuperar áreas, com os olhares voltados à Mata Atlântica. O manejo sustentável com visão econômica também pode ser uma das soluções.

Causas

Segundo o relatório da FAO, os países que registraram crescimento florestal investiram em programas de plantações, expansão natural de florestas, atualização de leis e manejo sustentável com fins econômicos. Armelin acrescenta ou­­tros fatores: o fato de os países de­­­senvolvidos possuírem um sistema florestal bem mais simplificado do que o Brasil, como menos árvores e espécies, e de não terem mais o que devastar. Outro fator é a busca de serviços que envolvem desmatamento em outros países. O professor do Departamento de Ciências Flores­­tais da Universidade Fede­­ral do Paraná Alessandro Camargo Ângelo exemplifica que o Japão, que registra boa cobertura florestal, tem muitas madeireiras na Malásia. "Além disso, Inglaterra, França e Alemanha têm muito mais tempo do que nós e foram colonizadores, fizeram uso do benefício de outras superfícies."

O professor observa que os países que registram crescimento de área verde têm políticas muito bem definidas e valorizam a floresta economicamente. Ele diz que o Brasil é um país de extremos: "Ou se conserva tudo ou se derruba tudo". Para Ângelo, é necessário manter áreas resguardadas, como unidades de conservação; transformar as regiões já alteradas em alternativas de renda; e investir em tecnologia para o manejo sustentável. "Existe uma reserva muito grande de recursos nas florestas que serão impulsionadores do nosso desenvolvimento", diz.

Riquezas

César Augusto dos Reis, diretor executivo da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plan­­tadas, afirma que o país pode atingir o desenvolvimento sem desmatar. Ele explica que o setor que re­­presenta é um modelo ao "plantar espécies de eucalipto e pínus para evitar o consumo de madeira nativa". A organização calcula que em 2009 o país tinha 6,3 milhões de hectares de área de pínus e eucalipto e que o número cresceu para 6,4 milhões em 2010.

Leis ajudaram a conter a derrubada de árvores

O último levantamento florestal da FAO mostra que progressos significativos foram feitos no desenvolvimento de políticas, leis e programas nacionais envolvendo o tema. Desde o ano 2000, 76 países criaram ou atualizaram políticas florestais. Ainda segundo a pesquisa, desde o ano 2005, 69 países – principalmente na Europa e na África – promulgaram ou alteraram leis ligadas ao setor.

No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente espera um aumento da área florestal a médio e longo prazo. Para isso, investe em linhas de financiamento para a recuperação de passivos ambientais e estuda a possibilidade de incentivos fiscais para estimular a recuperação de áreas de reserva legal e de preservação permanente.

Também fazem parte das iniciativas ações de monitoramento e controle, ordenamento territorial e fundiário e de fomento às atividades produtivas sustentáveis, previstas nos Plano de Ação para Pre­­venção e Controle do Desma­­ta­­mento na Amazônia Legal e no Bioma Cerrado. Segun­­do o ministério, o Plano de Pre­­ven­­ção no Bioma Caatinga está em fase de finalização. Outra iniciativa é a regularização ambiental de imóveis rurais, estimulando iniciativas de recuperação de passivos ambientais.

Segundo o órgão, o desmatamento na Amazônia vem caindo ano a ano. Enquanto a taxa anual de desmatamento para o período 2003-2004 foi medida em 27.772 quilômetros quadrados, a estimativa de desmatamento para o período de 2009-2010 foi de 6.451 quilômetros quadrados – redução de 77%. A estimativa da pasta é que em 2015 o desmatamento seja 42% menor que a média para o período 2011-2015. Os biomas extra-amazônicos, no entanto, ainda não contam com um sistema de monitoramento sistemático e anual como o da Amazônia.

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