O papa Francisco disse nesta segunda-feira (29) que não julga os homossexuais, mas que é contrário ao "lobby gay", em declarações feitas de dentro do avião que o levou de volta a Roma desde o Rio de Janeiro.
Ao responder perguntas de jornalistas durante uma coletiva de imprensa, o pontífice abordou a delicada questão sobre como responderia ao ficar sabendo que um clérigo católico é gay, embora não sexualmente ativo. Durante décadas, o Vaticano considerou o homossexualidade como uma "desordem" e o antecessor de Francisco, Bento XVI, formalmente barrou homens que o Vaticano considerava "profundamente" homossexuais de entrar no sacerdócio.
"Quem sou eu para julgar uma pessoa gay, de boa vontade, que busca o Senhor?", questionou o papa, em italiano. "Não podemos marginalizar estas pessoas."
A coletiva de imprensa tratou de vários assuntos e foi organizada às pressas a bordo do voo noturno de volta do pontífice a Roma, após uma visita de uma semana ao Brasil, onde milhões de pessoas se reuniram para vê-lo.
As declarações de Francisco sobre homossexualidade foram feitas após um escândalo surgido durante o pontificado de seu antecessor. Um relatório secreto do Vaticano, vazado pela mídia italiana, afirma que um grupo de clérigos homossexuais no Vaticano formou um "lobby gay" que vem secretamente aumentando seu controle no interior da Santa Sé.
O papa argentino disse que discutiu o caso com o papa Bento XVI, que renunciou no início de fevereiro. O agora papa emérito deu a ele uma caixa cheia de documentos e testemunhos do relatório interno, preparado por três cardeais octogenários, antes de deixar o cargo.
Francisco descreveu a diferença entre a possibilidade de existência de grupos de pressão no interior do Vaticano - o que ele definiu como um "problema" - e a potencial presença de sacerdotes gays nas fileiras católicas. "É preciso distinguir entre o fato de uma pessoa ser gay e a existência de um lobby", afirmou o papa. "O problema não é ter essa orientação. O problema é fazer lobby."
O pontífice, que havia se recusado a responder perguntas durante a viagem ao Brasil, reuniu-se com os repórteres por uma hora e 20 minutos em seu retorno ao Vaticano e discutiu seus planos de visitar Jerusalém em sua próxima viagem internacional.
Ele disse que as mulheres não devem ser ordenadas sacerdote porque a questão foi "definitivamente" estabelecida pelo papa João Paulo II. Porém, Francisco disse querer desenvolver uma "teologia da mulher", com o objetivo de expandir e aprofundar seu envolvimento na vida da igreja.
"O importante na reforma do banco vaticano é a transparência"
Na entrevista com os jornalistas à bordo do avião, Francisco também comentou a reforma do Instituto para Obras da Religião (IOR), o banco do Vaticano. Ele afirmou que não notou "resistência" dentro da cidade-estado com relação à reforma da Cúria e que não sabe como acabará a reforma da instituição, mas que o importante "é a transparência e a honradez".
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