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Roger Rumor oferecia aos participantes artefatos e lembrancinhas do mundo UFO | Sandi Bart
Roger Rumor oferecia aos participantes artefatos e lembrancinhas do mundo UFO| Foto: Sandi Bart

Enigmas

Abduzido a bordo de um Fusca voador

Por três dias, Curitiba foi palco de intensas discussões sobre os limites da ciência, território profícuo para análise de discurso e auditório atento para os mais diversos relatos de pessoas e suas relações diretas (ou não) com seres de outros planetas – o ideal antiquíssimo e inabalável do narrador benjaminiano, um cativador através da oralidade.

De bases alienígenas na Antártida a Federação das Galáxias, a simpática canadense Miriam Delicado marcou pelo discurso interplanetário-ecológico. Ela afirma ter contato permanente com extraterrestres altos e loiros através da telepatia e da meditação. Em sua primeira visita ao Brasil, comentou sobre o grande desafio que o povo brasileiro enfrenta para proteger a Floresta Amazônica e como os alienígenas se preocupam com o gerenciamento de nossos recursos naturais.

O eletricista João Caiana, que estudou até a 3ª série do Fun­damental, contou de modo simples e vibrante o dia em que abduzido com a família numa estrada rural de Iturama, triângulo mineiro. Segundo ele, por aproximadamente 50 minutos ficou com a esposa, a filha, a neta, a amiga da neta e um Fusca ano 72 dentro de uma espaçonave. Depois da inusual viagem, mudou até a forma de se alimentar, entendendo a vida como algo mais sensível. "Acredito que me escolheram para dizer de minha experiência porque eu sou determinado". Caiana saiu como candidato a vereador no pleito seguinte.

Céticos e negócios

Nem todo mundo entrou no clima do evento

Mesmo quem marcou presença no II Fórum de Contatados não necessariamente acredita em vida extraterrena. A recepcionista Mariana Domingues, evangélica, pensa que as aparições retratadas nos slides – as fotografias com umas luzes esquisitas –, nada mais são do que o próprio demônio multifacetado. "Não devemos buscar lógica em tudo. Foi o que disse ano passado ao meu professor de Filosofia do Ensino Médio. As coisas não têm lógica. A única coisa que importa é Deus. Gostaria de provar a todo mundo a sua importância. Essas luzes só aparecem a quem duvida", congrega.

Do lado de fora do auditório, Ricardo Alexandria tentava negociar pacotes de viagem para a Jornada Sagrada a Machu Picchu. Cristão, acredita na existência de outras moradas e soube que uma colega foi abduzida. Mas, no evento, estava interessado em negócios, principalmente em divulgar a empresa de helicópteros.

Por uma bancada extraterrestre

O professor e político Wilson Picler é convocado à mesa de abertura do II Fórum Mundial de Contatados para uma mensagem de boas-vindas. Sua fala apresenta a questão: a humanidade está (ou não) preparada para se deparar com povos de outros planetas. Para Picler, muita gente descrê da ufologia por motivações escusas. "As pessoas não querem aceitar que há civilizações mais evoluídas por interesses financeiros ou jogos de poder", afirma.

A noite acaba e Picler, apesar de não se passar por um homem exatamente discreto fisicamente em uma multidão, desaparece. Onde está Picler? "Tenho cara de quem se chama Wilson?", rebate um dos palestrantes quando questionado, olhando para um amigo. Na tarde seguinte, Picler está sentado no sofá do corredor. Recomenda "fortemente" a leitura de "Fogo no Céu: A verdadeira história de uma abdução", de Travis Walton (R$50), e "Terra Vigiada: Aliens observam e monitoram nossos arsenais atômicos", de Robert Hastings (R$60). Na última página de cada um dos livros, a logomarca do Instituto Wilson Picler de Responsabilidade Social.

Questionado se, ao defender os interesses da nação ufológica, ele não estaria inaugurando uma nova modalidade de lobby político, a bancada extraterrestre, responde que seria uma bancada de um homem só. "Muitos políticos têm medo de ETs porque eles leriam seus pensamentos e descobririam suas maracutaias", profecia.

É manhã de sábado e uma senhora de chapeuzinho bege canta na bancada em que os autores consagrados do meio ufológico autografam livros. Diz ser a "Canção da Terra e do Coração". "Atualmente, me chamo Terezinha", conta. Ela é uma das quase quinhentas pessoas inscritas no II Fórum Mundial de Contatados, Abdu­zidos e Testemunhas, que acon­teceu no fim de sema­na, no Centro de Curitiba. Acre­dita que a humanidade esqueceu a origem do centro do universo. À pergunta "mora na capital?", responde: "Estamos aqui neste mundo apenas de passagem".

No corredor ao lado, Bete Ro­drigues, uma das conferencistas de domingo, está sentada em frente aos livros da contatada venezuelana Martha Rosenthal. Bete conta que foi visitada por extraterrestres quando tinha oito anos. "Es­tava no meu quarto, pronta para dormir, quando um por­tal de luz emergiu em minha frente. De dentro, começou a sair um ser baixinho, bra­ço por braço, pele esverdeada com manchas cinzentas, ma­grinho, olhos oblíquos, a bo­ca como um rasgo, sem orelhas, feio, feio... Escondi-me de­baixo das cobertas. Quando me descobri, dei de cara com aquilo. Podia ter sido uma abor­dagem mais simpática, né?", conclui.

Desde aquela fatídica noite, a paulistana diz travar contato assíduo com extraterrestres. Em 4 de junho de 1986, por exemplo, foi abduzida quando estava próxima a um ponto de ônibus. As poucas lembranças são oriundas de sessões de regressão e hipnose. "Acho que faço parte de algum tipo de pesquisa, iniciada quando era pequena e que irá até o dia que eu morrer. O que me intriga: estão me pesquisando biologicamente ou psicologicamente?" Ela afirma ter um implante alienígena no dedão do pé direito.

Para um principiante em fóruns sobre extraterrestres, o evento organizado por Ademar José Gevaerd, diretor da Revista UFO e um dos estudiosos mais atuantes do meio, passa, à primeira vista, a impressão de um pequeno shopping center das coisas inexplicáveis do céu. Vendem-se camisetas temáticas, revistas, canecas, imãs de geladeira com a expressão "Eu Acredito!", réplicas de óvnis recicláveis, viagens a destinos "sagrados", mapas, DVDs, bonés e muitos livros, com os subtemas mais inimagináveis.

Eustáquio Rangel veio de São José do Rio Preto especialmente para o Fórum. É o seu primeiro evento presencial. Comprou, por R$ 50, "Fogo no Céu", o best-seller de Travis Walton, terráqueo que afirma ter passado cinco dias a bordo de uma nave espacial. Rangel é proprietário de uma empresa desenvolvedora de softwares e toca baixo numa banda de heavy metal. Tem uma filha de dez anos. "Ela acha os grays [espécie de extraterrestres cinzentos, de pouco mais de um metro] fofinhos."

Participantes acreditam que informações são omitidas

Júlio Gomes é um veterano no ramo. Aos 65 anos, frequenta eventos de ufologia há seis. "Quero saber mais, me aperfeiçoar." Acredita que os extraterrestres não querem nada conosco, apenas aprimorar nosso conhecimento, tomar conta da gente e evitar que nos destruamos mutuamente. Ele não tem o terceiro planeta do sistema solar em alta conta. "Somos um lugar medíocre, em processo de involução, um bando de imbecis e ignorantes. Digo ignorante não no sentido pejorativo, entende?". Tem certeza de que o governo brasileiro sonega informações valiosas sobre vida fora da Terra.

Na média, os participantes são homens, com mais de 50 anos, amante dos fenômenos astronômicos desde a infância, desconfiado dos serviços de inteligência do governo e espírita-espiritualista. Alguns poderiam muito bem passar por extraterrestres infiltrados.

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