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9º Distrito Policial

Para reduzir a lotação de carceragem, OAB pede soltura de 18 presas

9.º DP abriga 66 mulheres em um espaço para 16. Comissão de Direitos Humanos da Ordem do Advogado do Brasil optou pela ação judicial depois de diversos alertas sobre as condições inadequadas

A comissão da OAB classificou a carceragem do 9º DP como um “pequeno campo de concentração urbano” | Rodolfo Buhrer - Gazeta do Povo
A comissão da OAB classificou a carceragem do 9º DP como um “pequeno campo de concentração urbano” (Foto: Rodolfo Buhrer - Gazeta do Povo)

Depois de ter vários pedidos de transferências de presos ignorados pelo governo do estado, a seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu recorrer ao poder judiciário. A preocupação desta vez é com a carceragem do 9º Distrito Policial (DP), no bairro Santa Quitéria, em Curitiba, que abriga 66 mulheres em um espaço construído para 16. Para diminuir a surpelotação, a entidade protocolou nesta segunda-feira (31) um habeas-corpus coletivo para que 18 detentas sejam postas em liberdade.

No últimos três anos, a Comissão de Direitos Humanos da OAB/PR tem vistoriado as carceragens das delegacias de Curitiba e região metropolitana. Na segunda-feira passada(24), a comissão esteve no 9º DP depois de receber a denúncia de que as visitas estavam restritas. Apenas parentes com comprovação poderiam visitar as detentas, ficando proibida a entrada dos companheiros delas, por não ter união formalizada.

O advogado Maurício Dieter, membro da comissão, disse que o problema das visitas é um dos menores da carceragem. Foi constatado que as presas são incapazes de dormir e se alimentar em condições dignas em razão da superlotação. Segundo o relatório da comissão "a carceragem é suja, fétida, mal ventilada, escura, fria e úmida".

Outro problema é o sistema de esgoto da carceragem está constantemente entupido. Dieter explica que apesar do cuidado das presas em manter o ambiente limpo, as condições estruturais facilitam a disseminação de piolhos, baratas, moscas e até ratos. Doenças de pele e respiratórias afetam todas as detentas, sem exceção. "O local pode ser considerado uma jaula, uma masmorra ou um canil, mas não um espaço destinado para o ser humano", explicou.

Tortura

Segundo Dieter, o tratamento dado às presas não condiz com a dignidade da do ser humano e pode ser caracterizado como tortura, um crime previsto no artigo 5º da Constituição, sendo proibida também pela Convenção de Genebra até mesmo durante períodos de guerra. A comissão da OAB classificou a carceragem do 9º DP como um "pequeno campo de concentração urbano".

O advogado afirma que é tortura submeter alguém a intenso sofrimento físico e mental. "Quando é preciso fazer o desentupimento do esgoto, as presas são colocadas na parte externa da delegacia e ficam até cinco horas na mira dos policiais do Cope. Isso acontece em dia de sol e em dia de chuva. É uma tortura psicológica", afirmou.

Dieter lembra que as detentas ainda aguardam julgamento, ou seja, não foram condenadas, são apenas suspeitas. Para o advogado, elas estão submetidas a um crime mais grave do que aqueles pelos quais foram presas. A maioria das presas é acusada de tráfico de drogas, furto e participação em roubo. "Não são crimes em que elas tenham praticado violência".

Transferência ou soltura

O pedido judicial, segundo o advogado, foi a última alternativa encontrada pela OAB Paraná para tentar resolver o problema. O documento foi assinado pelo presidente da OAB/PR, Alberto de Paula Machado, pelo presidente da comissão de Direitos Humanos, Cléverson Marinho Teixeira, e pelos advogados Guilherme Rodolfo Rittel e Maurício Dieter.

Eles pedem que as presas sejam transferidas para uma unidade "compatível com a dignidade da pessoa humana". Na impossibilidade de transferi-las num prazo de 48 horas, a ação pede que o Tribunal de Justiça envie alvará de soltura para as detentas.

O delegado Anderson Cássio Franco, do 9º DP, disse que não poderia comentar a situação da carceragem. A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), mas a secretaria informou que não falaria sobre o assunto.

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