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Simpatizantes também sobem a Serra do Mar

Na tarde do último sábado, a estudante de Ciências Sociais Carolina Fernandes Zatorre Fileno, 26 anos, teve uma longa conversa com o filho de 11 anos. Ela queria saber se ele toparia acompanhá-la, e ao pai, à Pré-Parada da Diversidade – na Serra do Mar. Embora temendo pela crueldade dos colegas de classe, ao saberem, o garoto topou o desafio – de camiseta temática e tudo. O passeio veio a calhar. O casal aproveitou a deixa para falar sobre lições que se aprendem em casa, como tolerância à diferença e solidariedade. "Dissemos a ele que é importante ter atitude", explica Carolina.

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Já foi dada a largada para a 12.ª Parada da Diversidade de Curitiba, a Parada Gay. O evento, marcado para a tarde do próximo domingo (2), com saída da Praça 19 de Dezembro e expectativa de reunir 100 mil participantes, ganhou neste ano uma prévia no mínimo criativa: um passeio de trem entre Curitiba e Paranaguá. A viagem, feita na manhã de domingo, reuniu cerca de 160 pessoas, entre gays, lésbicas e transgêneros. Além da animada tripulação GLBT, a comitiva incluiu casais com filhos – os simpatizantes –, pesquisadores e jornalistas.

Três vagões da Serra Verde Express serviram de tribuna para que esse público tão diverso desse início, em plena Serra do Mar, ao principal debate da edição de 2007 da parada: a aprovação de uma lei complementar, a PLC 122/06, que criminaliza a homofobia. O movimento nacional que reúne assinaturas para pressionar o Senado tem sede em Curitiba, no Grupo Dignidade, e foi batizado de Aliadas.

Segundo Igo Martini, um dos coordenadores do Centro Parananse de Cidadania, o Cepac, parceiro do Dignidade, já foram conseguidas 15 mil assinaturas e a adesão de cerca de 600 ONGs em todo o país. O número de assinantes deve saltar para perto de 60 mil ainda esta semana, quando serão somadas as listas feitas durante três recentes paradas gays nacionais. A idéia é mandar a papelada para Brasília para apressar o processo.

O projeto anti-homofobia empacou na Comissão de Direitos Humanos, onde deve passar por correções antes de seguir para votação. "A questão GLBT exige mais discussão do que a lei do racismo. A dívida histórica com os gays não é visível. Além do mais, é um debate que se cruza com inúmeros outros. E que mexe com um tabu", ilustra Simone Valêncio, 33 anos, presidente do Grupo Dignidade.

Até o momento, 203 parlamentares já manifestaram adesão ao projeto. O maior obstáculo à futura aprovação é a bancada evangélica, que teme ser criminalizada se continuar suas pregações em que a homossexualidade é tratada como doença e distúrbio. Os católicos – que até então faziam dobradinha com os evangélicos nos senões à legislação – ficaram em banho-maria depois que o Papa Bento XVI reafirmou Roma como sede da única e verdadeira Igreja.

"É importante deixar claro que o movimento GLBT não pretende interferir na pregação de nenhuma religião. Somos uma sociedade laica e estamos defendendo um direito", argumenta Igo Martini. Os números com os quais as ONGs trabalham confirmam que a liberdade de orientação sexual está sendo violada. Levantamentos junto a participantes das paradas de Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Maceió apontam que 60% dos participantes já sofreram algum tipo de discriminação.

Além disso, de 1980 a 2006, o Brasil registrou 2,5 mil assassinatos motivados por homofobia – de acordo com pesquisa do Grupo Gay da Bahia. Dos estados do Sul, o Paraná é o que apresenta maior incidência. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), dos 26 assassinatos registrados na região de 2003 a 2005, metade foi praticada no Paraná. "Os dados de que dispomos são a ponta do iceberg. Simplesmente, a maioria dos casos nem é qualificada como crime de homofobia", diz a líder do Grupo Dignidade.

Em busca da melhoria do banco de dados, funcionam há dois anos, no próprio Dignidade e em Londrina, centros de referência mantidos pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, do governo federal. A unidade recebe denúncias, faz estatísticas e ajuda as vítimas na denúncia junto à polícia. O trabalho é difícil, pois a maioria dos que procuram o centro está em busca de apoio psicológico, temendo enfrentar as autoridades.

O centro de referência ainda não recebeu do governo federal a verba de R$ 100 mil – necessária para financiar o exercício de 2007 –, mas divulga dados do ano passado, quando apenas em Curitiba foram feitos 480 atendimentos. "São casos das mais diversas naturezas. Há quem nos procure prontamente, mas também quem amargue meses de espera, sem coragem de contar o que lhes aconteceu. Quando chegam até nós, querem desabafar. Somente cerca de 15% aceita ir à delegacia. Não resolve nada, pois não há uma legislação local, mas pelo menos dá visibilidade ao problema", explica um dos responsáveis pela unidade de Curitiba, Enéias Pereira.

O segmento de transgêneros – formado por travestis e transexuais – também faz coro por uma lei que puna atitudes homofóbicas. Novamente, os números não mentem. Carla Amaral, 34 anos, líder do Grupo Marcela Prado – que atua em parceria com o Dignidade – estima que seu grupo atenda cerca de 400 participantes. Cerca de 80% deles atuam como profissionais do sexo, principalmente por falta de oportunidade no mercado de trabalho. As transexuais formam o exército mais discriminado de todo o mundo GLBT, e o mais sujeito a agressões. Apenas no ano passado foram 15 assassinatos na capital.

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