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Cartaz afixado na recepção do HPM, com exemplar da Gazeta do Povo para comprovar data (20 de fevereiro) | Divulgação
Cartaz afixado na recepção do HPM, com exemplar da Gazeta do Povo para comprovar data (20 de fevereiro)| Foto: Divulgação

Repasse de verbas está atrasado

Para contribuir com o cenário negativo do HPM, o repasse das verbas referentes ao mês de janeiro ainda não foi realizado pela Secretaria de Estado de Administração e Previdência. O superintendente do SAS (Sistema de Assistência à Saúde, ligado à secretaria), José Fernando Macedo, explicou que a falha ocorreu devido a problemas do IPTU do hospital, que, de acordo com ele, já foram resolvidos. "Antes de liberarmos o dinheiro, qualquer hospital tem que resolver qualquer tipo de pendência que tenha. Infelizmente, o problema foi detectado antes do carnaval, o que dificultou [solucionar a pendência], porque muita gente não trabalha. Isso foi resolvido essa semana, e o repasse será feito na segunda ou terça-feira [26]", afirmou o superintendente.

Com fim da greve, situação começa a voltar ao normal

Angieli Maros

A reportagem da Gazeta do Povo esteve no Hospital da Polícia Militar na quinta-feira (20) à tarde, quando encerrou-se a greve dos funcionários da limpeza. No local, a movimentação não era intensa. A entrada do setor ambulatorial estava tranquila, assim como alguns dos corredores internos da unidade.

No pronto atendimento, que seria o setor mais prejudicado do hospital, havia cerca de 15 pessoas. Alguns pacientes foram vistos saindo das salas de atendimento com receitas médicas na mão. Também foi possível verificar que, dentro da sala de atendimento, pacientes recebiam soro no braço. Nenhum funcionário responsável pela limpeza do hospital, no entanto, foi encontrado durante o período em que a reportagem permaneceu no local.

Fora do hospital, uma paciente, que não quis se identificar, disse saber que o hospital "estava em greve". Como tinha uma consulta agendada, ela relatou que não foi prejudicada porque esse tipo de atendimento foi mantido.

Outra paciente também relatou que estava ciente de que "tinha problemas no hospital", mas que sabia que não era com as consultas médicas.

Atrasos em repasses de verbas, greve de funcionários e interrupção no atendimento de parte dos pacientes são alguns dos problemas recentes enfrentados pelo Hospital da Polícia Militar (HPM), em Curitiba. Situação que acaba prejudicando o atendimento aos 40 mil militares e 130 mil servidores públicos civis que utilizam o hospital.

Durante a última semana, uma paralisação de empregados de uma empresa terceirizada que presta serviços de limpeza ao HPM causou transtornos a pacientes e ao corpo clínico do hospital. A greve terminou na última quinta-feira (21), mas expôs fragilidades da gestão da unidade. Segundo relatos de testemunhas ouvidas pela Gazeta do Povo, na falta de funcionários, soldados da PM e familiares dos pacientes chegaram a improvisar os serviços de limpeza. Para a Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai), a paralisação foi apenas "a ponta de um iceberg".

Na última semana, 66 servidores da PH Gestão de Pessoas, empresa terceirizada responsável por manter a limpeza e a recepção do HPM, cruzaram os braços por atraso nos pagamentos do hospital à empresa, suspendendo os serviços. "Simplesmente fomos comunicados de que teríamos que limpar os quartos. Minha cunhada trouxe produtos de limpeza e ela mesma fazia o serviço. Até roupa de cama a gente tinha que trazer de casa. Só vendo para acreditar", disse o economista Luiz Guilherme Moreira, cuja sogra, de 82 anos, está internada no HPM há mais de 20 dias.

Por causa da falta de pessoal na limpeza, o atendimento chegou a ser restringido no hospital. Um cartaz foi afixado à entrada, informando que somente vítimas de AVC, infarto ou traumas seriam atendidas. Outros pacientes eram encaminhados a outras unidades. O número de leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi reduzido de dez para três. Familiares relatam falta de material cirúrgico e de medicamentos. "Falta até gaze. Ninguém dava satisfação. Virou um caos", disse Elizabeth Ferreira., que também tem parente internado no HPM.

A Polícia Militar reconheceu que houve um atraso no pagamento da empresa que presta serviços de higienização, mas informou que a situação havia sido normalizada ainda na quinta-feira (21). "Essa situação aconteceu e já foi resolvida. Não tem como adivinhar quando o cara [funcionário] não vem. Mas isso foi uma questão pontual", explicou o diretor administrativo da unidade, Major Célio Luiz Banaszeski.

Gestão

Para o presidente da Amai, coronel Elizeo Furquim, a paralisação é reflexo da fragilidade da gestão do HPM. A unidade é custeada pelo Fundo de Atendimento à Saúde dos Policiais Militares do Paraná (FASPM), reforçado pelo repasse de verbas da Secretaria de Estado de Administração e Previdência (Seap). Segundo a Amai, o hospital vive às voltas com a falta de dinheiro, que impacta no atendimento prestado. Além disso, a entidade aponta que não há transparência ou prestação de contas por parte do hospital.

"A gestão do HPM é mantida em segredo. Há uma incerteza de recursos. O hospital não pode funcionar nesta fragilidade. A maneira como está sendo gerido está provocando insatisfação tanto de quem trabalha na unidade quanto de quem recebe os serviços", disse Furquim.

Entre os policiais, a sensação é de que a categoria está à deriva, sem garantias de que receberão atendimento de saúde adequado, caso necessitem. Tanto que nos últimos meses a Amai teve que entrar com 12 mandados de segurança na Justiça para que gestantes fossem atendidas em uma maternidade que mantém convênio com o HPM. "Para os policiais, ou é lá [no HPM] ou é SUS", resume o presidente da Amai.

Transparência

A falta de transparência da administração do HPM é contestada por Banaszeski. Segundo ele, por se tratar de um hospital de atendimento público, a utilização de todo o dinheiro repassado pelo estado é provada ao Tribunal de Contas. O major também afirma que o acesso aos investimentos feitos com a contribuição retirada da folha salarial dos policiais não é barrado. "Existem conselhos diretor e de usuários, que não fazem reuniões a portas secretas. Tudo é divulgado por boletins internos, nas atas, discutido em reuniões, que são públicas e fiscalizadas pelo conselho de usuários", informou.

Conforme o diretor, o hospital já tem um projeto para "consertar os problemas" da unidade, que, segundo ele, são ocasionados principalmente por problemas no caixa, liberações tardias realizadas pelo estado e falta de compromisso dos fornecedores.

Desde outubro de 2011 – quando o hospital deixou de atender apenas militares e abriu as portas para os servidores públicos estaduais, familiares e seus dependentes que moram em Curitiba e região metropolitana -, o atendimento no local cresceu 375%. "Estamos implantando uma serie de melhorias para amenizar isso. Se eu dissesse que [o HPM] não tem problemas, estaria mentindo".

Comandante tentou forçar policiais a contribuírem com o FASPM

Além dos repasses da Secretaria de Administração, o FASPM recebe contribuições dos próprios policiais militares. Até meados do ano passado, o repasse era obrigatório: 2% descontados em folha de pagamento. Com a implantação da remuneração por subsídio, as contribuições passaram a ser facultativas, equivalentes a 0,5% do que o policial recebe.

Entretanto, o Comando da PM tentou convencer os policiais a continuarem revertendo dinheiro ao FASPM. Uma circular interna de setembro de 2012, obtida pela Gazeta do Povo, mostra que o coronel Roberson Luiz Bondaruk deixou claro que haveria cortes em uma série de benefícios médicos aos policiais caso eles não contribuíssem com o fundo (acesse o documento clicando no link acima à esquerda). De acordo com o documento, os PMS que não recolhessem a contribuição não teriam acesso a "ressonâncias magnéticas, próteses, órteses, materiais cirúrgicos, medicamentos especiais, tratamento odontológico, cirurgias refrativas, hemodiálise, psicologia e alguns casos de ressarcimento".

A Amai reagiu à circular e entrou com pedido de mandado de segurança, visando garantir o atendimento integral aos policiais, independentemente da contribuição. Os argumentos foram acolhidos pelo juiz Roger Vinicius Pires de Camargo Oliveira, que deferiu o pedido. Ele entendeu que, "se a liminar não for concedida, a ‘Mensagem’ continuará a produzir efeitos, praticamente obrigando os policiais militares (até pelo princípio da hierarquia) a se inscrevem como contribuintes do FASPM".

De acordo com a administração do hospital, que negou que os policiais são obrigados a contribuir com o fundo, as contribuições são necessárias para manter a unidade, mas não são impostas. "Acontece que o fundo de saúde funciona como uma operadora de plano de saúde. Quando o Estado não consegue suprimir as despesas, a gente tem que assumir. A filosofia financeira é a mesma: se não tiver um número mínimo de adesão, não tem como funcionar", resumiu Banaszeski.

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