Paraná é o estado do Sul com mais centenários

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Mais de um século de vida. A marca dos 100 anos de idade é comemorada por 727 paranaenses, conforme dados preliminares do Censo 2010. O estado é o primeiro do Sul do país em idosos centenários, o oitavo no ranking nacional. Em todo o Brasil, são 17 mil pessoas que ultrapassaram a barreira secular. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís­­ti­­cas (IBGE) e correspondem à contagem realizada pelos recenseadores até dia 24 de setembro. Em 2000, o Brasil tinha 24.576 pessoas com mais de 100 anos, um número 77% superior ao Censo de 1991, que apontava 13.865 anciãos. O aumento da expectativa de vida do brasileiro – 77 anos para mulheres e 69,4 anos para homens – e a maior longevidade sinaliza para a adoção de políticas públicas de atenção a idosos, que vão desde a assistência médica, previdenciária e de lazer, até a garantia de direitos e suporte social e familiar. "É um dado muito interessante porque vemos que estão ‘nascendo’ mais idosos do que crianças no Brasil e o serviço público está se voltando para essa realidade", comenta o presidente do Conselho Estadual do Direito do Idoso no Paraná, Bohdan Metchko Filho.

Os números do Censo 2010 ainda não foram finalizados, mas o dado preliminar mostra que as pessoas com mais de 100 anos recenseadas no Paraná representam 0,007% da população de 10,2 milhões de paranaenses. Nesse grupo está a ex-parteira de Castro, nos Campos Gerais, Benta Pinto Pedroso. No próximo dia 15, ela completa 110 anos comprovados por documentos.

Benta nasceu na localidade de Erval do Xaxim, na zona rural de Castro, em 1900, quando o município saía do ciclo do tropeirismo para entrar na era das ferrovias e a luz elétrica ainda era uma novidade. Ela recebeu a reportagem nesta semana com um ar alegre, vestido cor-de-rosa, lenço nos cabelos e unhas pintadas. Vaidosa, ela toma banho sozinha e não gosta que a filha a acompanhe no banheiro. Toma apenas medicamento para controlar a pressão arterial e prevenir problemas cardíacos. Nunca quebrou um osso e ficou poucas vezes internada.

Longevidade

A filha caçula Anair Costa, de 63 anos, acredita que a mãe chegou tão longe pelo estilo de vida que levou. Sempre trabalhou no campo, nunca bebeu nem fumou. Até hoje, se puder, ela costura balançando o corpo no compasso da agulha.

Os 110 anos não lhe trouxeram o inconveniente da perda da memória nem da visão, mas foram implacáveis com a audição. "Eu sei que você está falando, mas não consigo entender", disse.

Por 50 anos, Benta foi parteira e ajudou centenas de outras mães a darem à luz. Na época, ela não tinha horário para sair de casa e socorrer as mulheres em trabalho de parto. Anair lembra que saía a cavalo com a mãe em dias de chuva e atravessava o Rio Iapó em época de cheia para auxiliar as parturientes.

Quando era a vez de os filhos de Benta nascerem, as comadres que tinha feito ao longo da jornada como parteira a socorriam. Mas a rotina da sua preparação para o parto, tão presente na vida de Ben­ta, era por conta dela mesma: sozinha, sentido as contrações, deixava tudo pronto para o nascimento, esquentando água e separando os panos que seriam usados para re­­cepcionar o bebê. "Eu criei 15 fi­­lhos, mas foram 18 gestações. Três morreram ainda bebês", conta.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, Benta gasta de cinco a seis maços de vela por mês para enfeitar o oratório que montou em seu quarto na casa da filha Anair. Adormece ao entardecer, por volta das 18 horas, e só se levanta às 6 horas da manhã do dia seguinte. Toma seu café com leite e espera o almoço preparado pela filha. "Ela come arroz, feijão e carne. A carne não pode faltar", acrescenta a caçula. Depois do almoço tira um cochilo. Nesta sexta-feira, a rotina será quebrada com uma festa de aniversário promovida pela Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Castro. São esperados de 300 a 500 convidados no Parque de Exposições Dario Macedo. Entre eles, alguns dos 52 netos, 30 bisnetos, 20 trinetos e 7 tetranetos.