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Contratação

Má distribuição dos médicos promove sistema de "leilão"

Katia Brembatti

Com oferta de salário de R$ 35 mil, um hospital particular de Açailândia, no Maranhão, levou 40 dias – publicando anúncios nos principais jornais do país – para conseguir um médico ortopedista. O profissional que preencheu a vaga é do Paraná. O diretor do Hospital São Sebastião, Petrônio Gonçalves dos Santos, conta que a dificuldade para contratar médicos se espalha pela região.

Açailândia é o terceiro maior município do Maranhão. Tem cerca de 100 mil habitantes e fica a 70 quilômetros pavimentados de Imperatriz. A oferta de trabalho não incluía atendimentos do SUS nem plantões. São cerca de 70 médicos na cidade, um para cada 1,5 mil moradores.

Para o diretor, o governo é responsável pela má distribuição. "Tem que criar condições para levar os médicos para o interior. No Peru, por exemplo, o profissional recebe um diploma provisório quando se forma e só depois de passar dois anos em cidades pequenas é que ganha o definitivo." Ele também argumenta que enquanto o valor da remuneração para um procedimento cirúrgico for o mesmo em Curitiba e no interior do Brasil, o médico vai preferir ficar numa cidade grande. Petrônio assegura que o salário de R$ 35 mil não é o maior da região: somente nos locais em que o profissional tem um emprego público e outro particular é que a compensação financeira atrai o médico.

215.640 médicos

atuam no Sistema Único de Saúde, o equivalente a 55,5% dos 388.015 profissionais registrados no país. Os números são do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.

O Paraná é o estado da Região Sul com a menor proporção de médicos a cada mil habitantes. De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil, feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o estado conta com 19.813 profissionais para atender uma população superior a 10,5 milhões de habitantes – média de 1,87 médico para cada mil moradores. O Paraná é o 8.ª no ranking nacional, à frente de Goiás e Mato Grosso do Sul. Já a taxa de médicos por habitantes no Sistema Único de Saúde (SUS) é a metade da taxa média apresentada no país. Enquanto nos serviços públicos a razão é de um 1,11 médico para cada mil habitantes, a relação geral é de 2 para cada mil.

"Para um sistema de saúde público e universal, a presença de médicos no SUS é insuficiente", avaliou o coordenador do trabalho, Mário Scheffer. A meta do governo federal é atingir a média de 2,5 médicos para cada mil habitantes até 2020. "Mas sem atrair e fixar médicos em cidades menores essa meta não surtirá efeito prático desejado", avalia o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Alexandre Bley.

Sempre atrás

Na última pesquisa do CFM, divulgada no final de 2011, o Paraná já estava atrás dos estados vizinhos, com uma proporção de 1,82 médicos a cada mil moradores.

Se levar em consideração somente o número de médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) o Paraná também perde para os estados vizinhos. Com um total de 11.252 médicos profissionais, uma média de 1,06 profissional a cada mil habitantes, o estado está atrás de Santa Catarina (1,13) e Rio Grande do Sul (1,40). No ranking nacional, o Paraná é o 10.º colocado em índices de médicos que atuam no SUS para cada grupo de mil moradores. "Isso acontece devido à falta de perspectiva de crescimento na rede pública", afirma Bley.

Segundo o estudo, a maioria dos médicos está nas capitais, o que aumenta a desigualdade na concentração de profissionais. Nove capitais têm mais de cinco médicos por mil habitantes. O fenômeno se repete no sul do país: todas as capitais da região têm razão de médicos registrados acima da média nacional e superam as médias de seus estados. "Precisamos de um programa de regionalização para atrair os médicos a outras cidades", aponta Bley.

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