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Vistoria em minipresídio em Ponta Grossa constatou superlotação e a falta de condições de higiene aos presos: existiam 513 presos onde cabem apenas 172 | Josué Teixeira / Gazeta do Povo
Vistoria em minipresídio em Ponta Grossa constatou superlotação e a falta de condições de higiene aos presos: existiam 513 presos onde cabem apenas 172| Foto: Josué Teixeira / Gazeta do Povo

Meta

Transferência é desafiadora

O desafio de promover uma nova política no sistema carcerário, no entanto, ainda é grande. Para o presidente do Conselho Penitenciário do Paraná, Dálio Zippin Filho, o ideal é que os presos condenados não fiquem mais em cadeias, muito menos em delegacias. "O sistema penitenciário dá toda a assistência médica, psicológica e jurídica, além disso, o preso pode trabalhar e estudar. Isso não acontece nas cadeias e nas delegacias", explica. Ele acredita que a meta do governo estadual de zerar a quantidade de presos nas delegacias será alcançada pelas ações que já foram realizadas.

Para a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Paraná (OAB), Isabel Kugler Mendes, para alcançar essa meta é importante que o Judiciário trabalhe em conjunto. "Desde que haja a colaboração de todos, acho que é possível retirar os presos das delegacias, sim. Mas é preciso que os juízes trabalhem para que as medidas de execução penal sejam cumpridas, as transferências sejam mais rápidas", acrescenta.

O presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná (Sinclapol), André Gutierrez, lembra que a retirada de presos das delegacias é uma antiga reivindicação do sindicato para que os policiais que hoje trabalham na guarda de presos possam ir para as suas funções de investigação. Dos 3,5 mil policiais civis do estado, perto de 1,2 mil, segundo Gutierrez, trabalham em cadeias e carceragens. (MGS)

Interior

Unidades passarão à Seju

Para cumprir a meta de esvaziar as carceragens das delegacias, duas medidas principais estão sendo tomadas pelo governo estadual: a primeira é a constituição de uma comissão intersecretarial para avaliar a superlotação das unidades e, a segunda, é um decreto que deverá ser assinado no próximo dia 30 pelo governador transferindo unidades que hoje são administradas pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) para a Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju).

A minuta do decreto está sendo finalizada pelos técnicos da Secretaria de Justiça. A previsão é de que a transferência seja implantada a partir do dia 1º de agosto e envolva cerca de 10 cadeias do interior.

Conforme o diretor-geral do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Maurício Kuehne, é provável que o governador determine uma escala gradativa de transferência de unidades. A partir de agosto até o final do mandato, em 2014, as cadeias públicas de Ponta Grossa, Maringá, Londrina, Apucarana e Paranavaí estão entre as unidades que passarão à nova administração.

De acordo com Kuehne, a medida já estava prevista no programa de governo de Richa. Ele reforçou, no entanto, que a transferência precisa ocorrer acompanhada de maior investimento em recursos humanos e materiais. O cronograma de transferências ainda não está definido, mas o processo de mudança de administração de cada unidade deve durar cerca de um mês. (MGS)

Interatividade

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As delegacias e cadeias do Paraná ficaram com cerca de 3 mil presos a me­­nos em 2011 na comparação com o ano anterior. A queda foi de 19% em relação a 2010 e é a maior já re­­gistrada desde 2005, ano em que o Sistema Integrado de Infor­­mações Penitenciárias (Infopen) do Ministério da Justiça passou a con­­tabilizar o número de presos nos estados brasileiros. A meta do go­­verno estadual é zerar até 2014 o número de presos nas delegacias, lo­­cais com grande lotação de de­­tentos e que não estão preparados pa­­ra tal função, apontam especialistas.

Segundo o Infopen, em 2011 o sis­­tema administrado pela Secre­­taria Estadual de Segurança Pú­­blica tinha 13.122 presos sob custódia em carceragens de distritos po­­liciais e subdivisões da Polícia Ci­­vil. No ano anterior, havia 16.205 detentos nessas unidades. Em contrapartida, o número de pre­­sos nas 24 penitenciárias do es­­tado administradas pela Secretaria Es­­tadual de Justiça, Cidadania e Di­­reitos Humanos cresceu 3,56% no mesmo período, passando de 19.760 encarcerados, em 2010, pa­­ra 20.464, em 2011.

Os presos que não foram absorvidos no sistema penitenciário no ano passado acabaram sendo be­­neficiados por mutirões de revisão de sentenças e tiveram suas penas di­­minuídas ou ainda não chegaram a ficar reclusos. Esse é um dos reflexos da Lei 12.403, implantada em julho de 2011 e que garantiu que pessoas detidas por crimes con­­siderados leves (com penas in­­feriores a quatro anos) não fiquem encarceradas antes de serem condenadas. A mudança, conforme o ad­­vogado Décio Franco David, in­­tegrante da Co­­missão de Advo­­gados Crimi­­nalistas em Ponta Grossa, permitiu que os juízes ti­­vessem mais opções de medidas cautelares, que não a­­penas a prisão em regime fechado.

Como a meta é abrigar todos os presos no sistema penitenciário, o governo estadual coordenou duas medidas pontuais em janeiro deste ano. O estado retirou 220 detentos da delegacia de Paranaguá, no Li­­toral, e os colocou na Peniten­­ciária Central do Estado, em Piraquara, para resolver o problema de superlotação. Também trans­­feriu 30 presos da delegacia de Sarandi, no Norte do Paraná, pa­­ra o Complexo Médico Penal, em Pin­­hais, Região Metropolitana de Cu­­ritiba, após um surto de tuberculose.

Para garantir mais recursos para o setor, o governador encaminhou projeto de lei à Assem­bleia Legislativa criando o Fundo Pe­­nitenciário do Paraná (Fupen), que visa usar recursos vindos das penas pecuniárias ou alternativas. Hoje, os recursos são destinados ao Fun­­do Penitenciário Na­­cional (Fun­pen). A proposta ainda aguarda parecer da Co­­missão de Cons­tituição e Justiça da As­­sem­­bleia.

Unidade em Ponta Grossa: retrato do caos

Integrantes da Comissão de Di­­reitos Humanos da subseção do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) visitaram ontem o minipresídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Cam­­pos Gerais, e encontraram pre­­sos recém-operados e com fe­­ridas à mostra. A comissão visitou a unidade depois de denúncias de superlotação e más condições no local.

O prédio foi parcialmente interditado em maio do ano passado, mas no final de 2011 o governo do estado recorreu à decisão. No mês passado, o Tribunal de Justiça manteve a interdição parcial. A cadeia tem 513 presos onde cabem apenas 172. Com a interdição, o limite tolerável é de 300 presos. Nos próximos dias serão feitas 50 transferências para o sistema penitenciário.

"Constatamos dois problemas principais: a superlotação e a falta de condições para os presos", aponta a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, Isabel Kugler Men­­des. A comissão vai montar um relatório e encaminhar às autoridades estaduais.

Antes de retornar a Curitiba, os advogados se reuniram com o prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau Filho (PSDB), para pedir um médico na unidade. A prefeitura vai analisar o pedido. Hoje os detentos doentes são encaminhados ao Pronto Socorro Municipal.

A comissão conversou com os presos que ficam no setor de triagem, ou seja, enquanto aguardam transferência. As celas têm quatro camas de concreto, mas abrigam até 17 homens. "Aqui tem até escorpião", dizia um detento. "A gente se reveza para dormir, enquanto uns oito dormem, os outros ficam acordados", completava outro detento. A cela tem apenas uma lâmpada e um cano que leva água fria tanto para o consumo quanto para o banho. A ventilação é mínima. As condições propiciaram a propagação de tuberculose entre os detentos – no ano passado foram 12 casos e neste ano já são sete doentes.

Outra situação preocupante, conforme o membro da comissão Estevão Gutierrez Brandão Pontes é que a unidade tem quase 200 presos condenados misturados aos provisórios. No ano passado, a subseção local da OAB avaliou os processos de 300 presos que não tinham advogados. O mutirão, no entanto, resultou no pedido de cerca de dez pedidos de liberdade. O advogado Dé­­cio Franco David explicou que em 85% dos casos os presos respondem por tráfico de drogas e que, por isso, não cabe outra medida cautelar que não seja a reclusão.

Meta é abrir 6,3 mil vagas até 2014

Para cumprir o ideal de zerar o número de presos em delegacias no Paraná, a Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos pretende abrir 6.348 vagas no sistema penitenciário até 2014, último ano do mandato do governador Beto Richa. A maioria das vagas virá com as 14 penitenciárias que deverão ser construídas nesse período. Jun­tas, elas custarão R$ 160,8 mi­­lhões, e apenas R$ 29,8 milhões sairão dos recursos do tesouro nacional, enquanto que o restante virá de fundos federais.

Neste mês, foram criadas 1.480 vagas na Penitenciária Central do Estado em Piraquara. No próximo dia 30 será inaugurada a Penitenciária de Cruzeiro do Oeste, no Noroeste do Paraná, com 720 vagas. No dia 11 de abril, entra em operação a unidade de regime semi aberto de Maringá, com 330 vagas. Ainda em abril, será aberto processo de licitação para a construção de uma penitenciária em Piraquara, com 516 vagas. A inauguração da reforma da cadeia pública de Foz do Iguaçu, que passou a ser administrada pela Secretaria de Justiça, será em maio e abrirá mais 700 vagas.

Contratação

Para garantir o funcionamento das unidades que entrarão em operação começam a ser chamados a partir de 2 de abril os 285 agentes que passaram no teste seletivo realizado em dezembro do ano passado. Mais 138 agentes aprovados serão chamados nos próximos meses. Hoje, a Secretaria de Justiça tem 3.159 agentes penitenciários que atuam em 24 unidades. Conforme a assessoria de imprensa da Se­­cretaria, há previsão para a abertura de novos testes seletivos.

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