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Rodrigo com a mãe, Clarisse, durante uma visita dela ao filho na prisão, em 2009. Ela está na Indonésia lutando pela vida do filho | Arquivo da Família
Rodrigo com a mãe, Clarisse, durante uma visita dela ao filho na prisão, em 2009. Ela está na Indonésia lutando pela vida do filho| Foto: Arquivo da Família

Família diz que Gularte foi usado como "mula"

Mesmo de longe, Lisiane Gularte de Carvalho está a par do que se passa com o primo Rodrigo Gularte. Ela é a porta-voz da família, que a escolheu para dar entrevistas à imprensa como forma de filtrar as informações e tentar evitar a condenação pública a que Gularte tem sido submetido em textos jornalísticos.

"Ele está sendo mostrado como o traficante que nunca foi", diz Lisiane. "O Rodrigo nunca foi desse perfil que estão mostrando. Ele reconhece a gravidade do que ele fez, a família reconhece que ele errou, mas a pena é desproporcional." Se tivesse cometido o mesmo crime no Brasil, Gularte teria sido condenado a, no máximo, 15 anos de prisão, pena que poderia ser reduzida por bom comportamento. Possivelmente já estaria em liberdade.

Segunda chance

"O que estamos pedindo é uma segunda chance pra ele. Uma segunda chance a que todos têm direito", diz. A segunda chance, nesse caso, é continuar vivo, mesmo que preso para sempre.

A família não tem dúvidas de que Gularte foi apenas uma mula em um esquema de tráfico de drogas para a Indonésia. O líder do esquema, segundo Lisiane, seria um traficante de origem grega que mora no Rio de Janeiro. A estratégia dele seria aliciar jovens de classe média para transportar drogas para países asiáticos. Era exatamente o perfil de Gularte.

Legislação

Brasil já teve pena de morte

Houve um tempo em que o Brasil aplicava a pena capital. O último condenado foi Manoel da Motta Coqueiro, executado em 6 de março de 1855, em Macaé (RJ). Foi enforcado acusado de matar oito membros de uma família que trabalhava em uma de suas fazendas. Jurando inocência, pediu clemência ao imperador dom Pedro II, que não a concedeu. Provado o erro judiciário e a inocência do fazendeiro, dom Pedro II passou a comutar a pena de todos os condenados.

Mesmo constando no Código Penal do Império, a pena capital deixou de ser aplicada. Abolida em 1891, com a Constituição da República, foi legalizada apenas em casos de guerra. Em 1969, com a instituição do AI-5, o governo militar reintroduziu a pena de morte para crimes políticos, mas nunca a aplicou oficialmente. Banida da legislação em 1978, voltou a ser mencionada na Constituição de 1988, mas só para o caso de guerra declarada.

Autoridades indonésias informaram que oito condenados à morte por tráfico de drogas, entre eles o paranaense Rodrigo Gularte, serão transferidos para uma prisão numa ilha, onde serão executados, apesar dos apelos internacionais.

Eentre os condenados estão também os australianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran, além de homens da Indonésia, França, Gana e Nigéria e de uma mulher filipina. Segundo o governo indonésio, todos já esgotaram as opções legais e serão levados de suas celas na ilha de Bali para a prisão insular de Nusa Kambangan, ainda nesta semana.

A data das execuções não foi anunciada. Os condenados serão executados por pelotões de fuzilamento e serão alvejados em pares.

Especialistas em direitos humanos expressaram suas preocupações em relatórios que indicam que o julgamento de alguns dos réus não atendeu padrões internacionais de imparcialidade.

Perfil: Rodrigo amava animais e cresceu com pranchas de surf em Caiobá

Por Mauri König

Rodrigo Gularte nasceu em Foz do Iguaçu (PR) em 31 de maio de 1972, no berço de uma família de classe média alta. O pai, o médico gaúcho Rubens Borges Gularte, hoje vive na pequena cidade de Imbuia, no Vale do Itajaí (SC), e evita falar sobre o filho. A mãe, Clarisse Muxfeldt, herdeira de uma família de produtores de soja, hoje se dedica a evitar a execução do filho na Indonésia, buscando as assinaturas exigidas pelo governo do país no laudo psiquiátrico que poderá mantê-lo vivo.

Era fã do pudim de laranja da mãe. Desde criança adorava a natureza, sabia de cor o nome das mais diversas árvores, amava cães e animais domésticos em geral. Ainda em Foz, teve um macaco chamado Chico. O amor pelos bichos perdurou. Na prisão da Indonésia, cuidava dos animais abandonados.

Aos 9 anos, se mudou com a família para Curitiba, onde adorava andar de skate na Praça da Ucrânia, no Bigorrilho. Estudou na Escola Nossa Senhora de Sion e no Positivo, onde, em geral, as notas eram "excelentes", segundo familiares.

Rodrigo passou parte da infância e da adolescência entre a casa de praia dos pais no litoral do Paraná e a fazenda da família no Paraguai. Preferia a Praia Brava, em Caiobá, onde aprendeu a surfar ainda pequeno. Nas férias, costumava madrugar para pegar as primeiras ondas do dia, lembra a prima Lisiane Gularte de Carvalho. "Ele cresceu em Caiobá com uma prancha na mão."

Ao completar a maioridade, provocou um acidente de trânsito em Curitiba quando estaria sob efeito de álcool. Nessa época ele fez tratamento psicológico por uso de drogas. Depois desse episódio, fez uma viagem com amigos pela América Latina. Mais tarde, conheceu os Estados Unidos e a Europa.

Duas vezes tentou abrir um negócio próprio, sem sucesso. Primeiro uma creperia em Curitiba, depois um restaurante na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), onde morou por cinco anos até ser preso na Indonésia. Se dependesse do pai, seria médico. Não deu certo. Tentou três cursos superiores, não concluiu nenhum. O último deles, Letras na Universidade Federal de Santa Catarina, o fez se fixar em Florianópolis.

Surfista, alto e boa pinta, na capital catarinense se envolveu com a professora Maria do Rocio Pereira, 13 anos mais velha, e com ela teve um filho. Jimmy Haniel Pereira Gularte hoje com 21 anos, é autista. À imprensa catarinense, Maria afirmou que logo após o nascimento Rodrigo disse não ter condições de assumi-lo. Depois da prisão, não tiveram mais contato.

A família reconhece que Rodrigo errou no caso da cocaína nas pranchas de surf, mas diz que ele nunca foi um traficante, antes um jovem cooptado pelo tráfico que fez a viagem para sustentar o próprio vício.

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