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A paranaense Nariman Osman Chiah, de 21 anos, que não conseguia deixar o Líbano por causa de leis religiosas do país, decidiu correr todos os riscos por sua liberdade ao lado do filho, de seis anos, e contratou um grupo de guias especializados em atravessar a fronteira do país ilegalmente, com o objetivo de cruzar a Síria e chegar à Turquia. Segundo reportagem exibida no Fantástico, no domingo (7), com uma legislação ocidentalizada, a Turquia seria o porto seguro para o embarque da paranaense ao Brasil.

Na madrugada do último sábado (6), Nariman, que estava refugiada em um abrigo sob proteção de uma organização não-governamental e do consulado brasileiro, iniciou a travessia clandestina, a pé, grávida de cinco meses e com o filho, rumo à Síria.

O trajeto começou em Tripoli, no Norte do Líbano. O grupo cruzou montanhas e um rio, protegido pela escuridão da madrugada. "Foi cansativo, foi horrível, andando, caminhando com o meu filho. Era bastante pedra no chão, bastante lama, essas coisas", disse Nariman, em entrevista ao Fantástico.

De táxi, margeando o Mar Mediterrâneo, Nariman e o filho seguiram para Halep, no Noroeste da Síria. Como não tinham o documento de entrada no território sírio, Nariman e o filho, Abbas, não puderam deixar o país, e chegaram a ser ameaçados de prisão. "Foi um homem que teve um bom coração. Ele falou: 'olha, você passou pelas minhas mãos, por Deus. Não vou te prender, não vou fazer nada, mas saia daqui o mais rápido possível'", lembrou a paranaense, que afirmou que teve que dar uma 'gorjeta' para o policial da fronteira.

Nariman e o filho seguiram então para Homus, a quatro horas de Halep, onde tentariam conseguir a documentação exigida. De novo não foi possível, e de novo foram ameaçados de prisão. "Ele foi pior que o outro. Falou: 'Saia daqui rapidamente antes que eu prenda você'", contou. "Acho que ele teve um pouco de dó. Ele viu o sofrimento que eu estava".

No desespero, Nariman conseguiu, no domingo (7), contato com a embaixada brasileira em Damasco, na Síria. "Olha, faz três dias que eu não sei o que é dormir. Meus pés estão inchados, eu estou bem cansada. É horrível", afirmou. "Nem imagino como o bebê está".

O embaixador brasileiro em Damasco, Edgar Cassiano, se mostrou otimista quanto à possibilidade de Nariman retornar ao Brasil a partir da Síria. "Já fiz alguns contatos no Ministério das Relações Exteriores. Pretendo resolver esse assunto o mais rápido possível", afirmou ao Fantástico.

Cassiano vai apresentar ao Ministério das Relações Exteriores da Síria o pedido formal de remoção de Nariman e do filho para o Brasil. Segundo o embaixador, é um processo demorado, que pode durar dias, semanas ou até alguns meses. De acordo com o Fantástico, a idéia é fazer com que ela chegue em casa antes do nascimento do bebê, esperado para janeiro.

Família

Na cidade de Matinhos, no litoral do Paraná, a família de Nariman acompanha, com aflição, o desenrolar da história. "Está sendo muito difícil para mim, como está sendo para ela também", disse a mãe de Nariman, Mahassen Chiah, ao telejornal Bom Dia Paraná. "Agora com essa notícia de que vão ajudar ela, eu fico mais aliviada", afirmou.

"Se Deus quiser, que traga logo ela para cá", pediu o irmão, Ali Chiah. A família acredita que, com a ajuda das autoridades sírias e brasileiras, a paranaense pode voltar para casa. "Precisa de muita ajuda do governo para trazer ela o mais rápido possível para o Brasil. Nós não estamos agüentando mais", disse o pai, Osman Chiah. "Eu faço um apelo para o consulado brasileiro lá na Síria que faça de tudo para que ela possa voltar para cá, porque o lugar dela é aqui, não é lá", pediu o irmão Ahmad Chiah.

Entenda o caso

Nariman tenta fugir do Líbano desde que começou a sofrer agressões do marido, o libanês Ahmed Holeihel. No dia 21 de julho, ela foi barrada no aeroporto de Beirute, quando tentava retornar ao Brasil com o filho, no dia 21 de julho. O problema é que ela tem contra si uma ação aberta por seu próprio marido, Ahmed Holeihel, que a acusa de abandono do lar conjugal e seqüestro de menor, em um tribunal religioso.

De acordo com o cônsul-geral do Brasil em Beirute, Michael Gepp, essas acusações a impedem de sair do território libanês. Nariman disse à Gazeta do Povo Online que um advogado negociava a questão judicial no tribunal de Baalbek.

Ela foi para o Líbano com Holeihel no começo do ano. "No Brasil meu marido não me batia, ele tinha medo", conta. "Quando chegamos aqui é que começaram as agressões". No final de junho, Nariman fugiu de casa e procurou o consulado brasileiro para pedir ajuda para retornar ao país. Depois de ser barrada no aeroporto, Nariman e o filho foram conduzidos pelo consulado a uma organização não-governamental libanesa que presta auxílio a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. Sem agüentar a espera pela Justiça do Líbano, Nariman decidiu fugir para o Brasil ilegalmente no último sábado.

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