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Imagem do abandono: os poucos turistas que seguem até a estação de Paranaguá encontram um cenário desanimador | Angel Salgado/Gazeta do Povo
Imagem do abandono: os poucos turistas que seguem até a estação de Paranaguá encontram um cenário desanimador| Foto: Angel Salgado/Gazeta do Povo

História

Do imperador ao mendigo

A estação ferroviária de Paranaguá já recebeu visitas ilustres ao longo de sua história. Uma delas foi a de Dom Pedro II, em 1880, para inaugurar a estrada de ferro. A Princesa Isabel, em 1884, inaugurou um trecho da ferrovia.

A estrada de ferro Paranaguá-Curitiba por muito tempo foi a principal ligação de outras regiões do estado com o litoral, sobretudo para o transporte de mercadorias. Até a década de 70, segundo o historiador parnanguara Florindo Wistuba Júnior, a ferrovia foi muito usada para o transporte de passageiros. No entanto, com a construção da BR-277, em 1969, o trem passou a ser prioritariamente utilizado pelos turistas que vinham visitar o litoral. Com a privatização da estrada de ferro, na década de 90, o cenário voltou a se modificar. O serviço de atendimento aos turistas deixou de existir e o abandono do prédio ficou evidente. Sem movimento, a estação está tomada por cupins e ratos, além de servir de abrigo para mendigos e desocupados. (AS)

O trem de passageiros, que durante vários anos projetou Paranaguá no cenário turístico nacional, tem se tornado o pivô de uma briga entre a prefeitura e as empresas América Latina Logística (ALL) e Serra Verde Express. O motivo são divergências quanto ao cumprimento do contrato entre as operadoras e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ele fixa a obrigatoriedade da ida do trem até a estação ferroviária do município parnanguara nos fins de semana e feriados, mas a prefeitura reclama que o percurso não está sendo feito e estuda acionar as empresas na Justiça.

A Serra Verde, que é responsável pela linha de turismo, argumenta que o trecho não é feito por falta de interessados. O percurso entre Curitiba e Morretes dura em média três horas. Para chegar a Paranaguá são apenas mais 38 quilômetros, mas o tempo da viagem pode durar até duas horas, o que desmotiva os turistas a completar o caminho.

A demora, segundo a prefeitura, é decorrente de problemas com o descarregamento da safra nos terminais portuários, na altura do quilômetro 5 da ferrovia. "Neste ponto, as manobras dos trens de carga são constantes e causam um transtorno evidente ao turista. Daí o motivo para ninguém vir até o nosso município e optar por ficar em Mor­­­retes", diz o prefeito José Baka Filho.

A ALL, que opera os trens de carga, nega que as manobras para a descarga atrasem a operação do trem de passageiros. "É dada preferência total para a linha turismo nos dias de uso da empresa Serra Verde Express. A demora para se chegar a Para­­­naguá se deve ao respeito à redução de velocidade dentro do perímetro urbano", argumenta a empresa, por meio de uma nota.

Durante o percurso Morretes-Paranaguá, o trem segue em uma velocidade média de 10 km/hora e atravessa 38 passagens de nível. "A baixa velocidade também é justificada em razão da dilatação do trilho pela temperatura do ambiente. Para o turista não permanecer tanto tempo no vagão, nós damos a ele a opção de concluir a viagem em vans ou em ônibus", informa, também por nota, a Serra Verde Express.

As explicações não satisfazem o diretor da Câmara Se­­­torial de Turismo da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá, Rafael Guttierres Júnior. Segundo ele, na década de 90, antes da privatização da linha férrea, Paranaguá recebia o trem de passageiros diariamente e não havia problemas com horários. "Pontualmente, às 11 horas, o trem adentrava a estação. Tínhamos milhares de turistas visitando Paranaguá todos os meses. O turista vinha de trem e retornava de ônibus para Curitiba. O comércio gastronômico e as lojas de artesanato faturavam muito. Hoje a realidade é totalmente outra", diz.

Desvantagem

Apenas 10% dos turistas que utilizaram a linha da Serra Verde Express em 2010 optaram por ir até Paranaguá. De acordo com a operadora, dos 150 mil usuários da linha turística Curitiba – Paranaguá, 15 mil concluíram o percurso. "A preferência é por Morretes. Recentemente fizemos uma viagem com mil pessoas e todas elas desembarcaram e almoçaram lá", informou o presidente da operadora de turismo Serra Verde Express, Adonai Aires de Arruda.

Para ele, a ausência de um produto turístico bem-estruturado é o que coloca Paranaguá em desvantagem em relação a Morretes. "É inegável o potencial da cidade, mas as autoridades do município precisam fazer o dever de casa. Elas exigem o trem aos domingos em Paranaguá, mas os poucos turistas que chegam se deparam com uma estação abandonada, além do ponto de informação, o museu e o co­­­mércio fechados."

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