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500 anos de idade é a longevidade máxima de uma araucária. O crescimento do pinheiro, no entanto, é mais lento que o do pínus ou do eucalipto (espécies não nativas). Por isso ela é preterida pela indústria madeireira para os processos industriais | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
500 anos de idade é a longevidade máxima de uma araucária. O crescimento do pinheiro, no entanto, é mais lento que o do pínus ou do eucalipto (espécies não nativas). Por isso ela é preterida pela indústria madeireira para os processos industriais| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

LEGISLAÇÃO

Corte ainda é permitido

O medo que muitos agricultores e cidadãos nas cidades têm de plantar araucária – em virtude do rigor da legislação – é infundado, segundo Mauro Scharnik, da Diretoria de Desenvolvimento Florestal do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). De acordo com ele, florestas de pinheiro plantadas podem ter até 100% da área cortada. "Muitas vezes, as pessoas não têm essa percepção. Não plantam porque acham que não vão poder cortar", reitera Scharnik. No entanto, é preciso informar ao IAP do plantio e obedecer critérios técnicos definidos pela portaria 063/2006, que disciplina o corte das árvores plantadas.

No caso das matas naturais (remanescentes), a possibilidade de corte também existe, mas limita-se a 15 m3 por propriedade – respeitando a Resolução 278 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2001. Além de poder fazer só um corte, dentro do limite estabelecido, no prazo de cinco anos, o proprietário da área tem de replantar dez árvores para cada araucária derrubada. Em algumas cidades, como Curitiba, existem também leis municipais que precisam ser consideradas. Scharnik, porém, não recomenda o plantio da araucária em áreas urbanas, próximo a residências e comércio, por causa do porte da árvore, cuja queda pode causar prejuízos materiais e até pôr em risco a vida de pessoas.

CURIOSIDADES

A plantação de araucária exige uma silvicultura de precisão. A seguir algumas observações dos especialistas sobre a espécie nativa do Sul do Brasil:

- A Araucaria angustifolia consta na lista de espécies ameaçadas de extinção pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama);

- O plantio do pinheiro exige: boas sementes, fertilização adequada do viveiro, preparação do terreno (retirada do mato e pedras, além de pouca umidade no solo); evitar a plantação em baixios e encostas muito inclinadas; controlar a presença de insetos e de plantas que possam competir com a araucária; o espaçamento entre as mudas deve ser de 4 metros por 4 metros.

- A primeira poda deve ocorrer de 3 a 4 anos após o plantio e a segunda, entre 7 e 8 anos. Em alguns casos, pode ser necessário fazer um desbaste de galhos.

  • 3 meses é o tempo que se leva para produzir uma muda de araucária e levá-la para o plantio

Há 15 anos pesquisadores alemães e brasileiros estudam como recuperar áreas degradadas da floresta de araucária, vegetação típica do Sul do Brasil. E eles garantem: os resultados são animadores. Além de desenvolver boas técnicas de plantio de mudas, de quebra os cientistas descobriram novas espécies de animais na mata. "Fazendeiros vizinhos começaram a nos procurar, interessados nos resultados. Eles perguntam: ‘Como vocês conseguem e a gente não?’", revela o pesquisador alemão e coordenador do projeto, Rainer Radtke. Ele conversou com a reportagem da Gazeta do Povo durante a 63.ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada em Goiânia (GO) entre 10 e 15 de julho.A base operacional dos estudos – uma área de mais de 4,5 mil hectares no município gaúcho de São Francisco de Paula (a 112 quilômetros de Porto Alegre), onde funcionava uma serraria, transformou-se na sede do projeto Pró-Mata (http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/ima/Capa), uma bem-sucedida parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), através do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IMA), a Universidade de Tübingen e a Universidade de Ciências Florestais de Rottenburg, ambas da Alemanha. "Nossa intenção não foi replantar floresta, mas descobrir a técnica e entender o ecossistema", explica Radtke. A parceria existe desde 1983, mas o projeto iniciou oficialmente em 1996.

Escolha

A escolha pela araucária (Araucaria angustifolia), também chamado de pinheiro-do-Paraná, baseou-se na necessidade de recuperação das espécies nativas da Floresta Ombrófila Mista – ecossistema típico do Sul e que integra a Mata Atlântica – e na carência de projetos de reflorestamento. A mata de araucária chegou a cobrir um terço do Sul do país, mas hoje ocupa apenas 2% da região. No Paraná, onde ainda há maior concentração, apenas 0,8% da cobertura vegetal está em bom estado de conservação. Por causa da madeira de boa qualidade, a espécie começou a ser explorada comercialmente a partir dos anos 1930 e, posteriormente, foi incluída na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.

Desde o início do Pró-Mata, mais de cem dissertações de mestrado e teses de doutorado foram elaboradas pelas três universidades. Entre os métodos de plantio e cultivo desenvolvidos está, primeiramente, o de não deixar a muda sob sol forte. O ideal é colocá-la em meio à vegetação secundária, para ter sombra e evitar os ventos fortes. As raízes, por sua vez, precisam crescer para baixo, sem espalhar nem enrolar. Além disso, a cada três meses é necessário retirar a vegetação ao redor das plantas, pois ela pode sufocar a muda.

Em meio à área do projeto, surgiram outras descobertas, como três novas espécies de sapos. Outros estudos contemplaram os insetos da região e os liquens – simbiose entre algas e fungos que indicam se o ecossistema está saudável ou não. Os temas resultaram em três guias de campo, com fotos, e traduzidos para o português, alemão e inglês.

Segundo Radtke, todas as descobertas se basearam em observações de campo. "O gado não entra mais nesta área e a paisagem mu­­dou. As áreas de campo foram di­­minuindo e, junto com a mudança, já desapareceram espécies de sapos que não se encaixaram nesse ambiente novo", esclarece.

Regeneração da mata não é o problema

Segundo os especialistas, a araucária não é uma espécie de difícil regeneração. Ao contrário. Além disso, as pesquisas no Brasil estão em estágio avançado, há muita literatura sobre o assunto e os métodos de cultivo são conhecidos. Ou seja, os motivos para não haver mais incentivos para se aumentar a cobertura de mata nativa são outros. "O que acontece em relação aos pequenos agricultores é que, como a legislação é muito dura, quando eles percebem que o pinheiro começa a se regenerar, acabam cortando antes que ele cresça. Se virar uma árvore de porte adulto, vão ter problemas depois. A legislação é muito punitiva", avalia a engenheira florestal Ana Paula Dalla Corte, pesquisadora da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef), ligada à Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Dalla Corte foi a coordenadora do estudo Atualização da Cobertura Florestal da Floresta Ombrófila Mista no Paraná, encomendado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e pela Secretaria estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) e concluído no início de 2011. O levantamento faz um inventário da mata de araucária remanescente no estado. Porém, a pesquisadora evita dar detalhes sobre o estudo, pois ele ainda não foi liberado oficialmente pelas entidades citadas.

De acordo com Carlos Roberto Sanquetta, engenheiro florestal e professor do Departamento de Ciências Florestais da UFPR, o pinheiro do Paraná normalmente tem um crescimento mais lento que outras espécies, inclusive as exóticas, como o pínus e o eucalipto. Na natureza, a árvore leva até 40 anos para chegar à maturidade plena (e 20 anos para começar a produzir pinhão). No entanto, os pesquisadores desenvolveram métodos para acelerar esse processo em até três vezes. "Temos conhecimento para usar em plantios para fins comerciais. Daria para dobrar a produção", afirma Sanquetta. Ao contrário do que muitos imaginam, o cultivo da araucária é totalmente legal e o corte é permitido.

"A madeira da araucária é excepcional, não apresenta rachaduras e tem um percentual de aproveitamento da tora muito grande", explica Ivar Wendling, chefe de pesquisas da Empresa Brasileira de Pes­quisa Agro­pecuária (Embrapa) Florestas. Além disso, diz ele, diversos produtos podem ser desenvolvidos a partir do fruto. Para ele, apesar de haver pesquisa sobre o tema, investimentos constantes são necessários.

Colaborou João Rodrigo Maroni

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