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As famílias de quatro dos sete meninos mortos em 23 de setembro de 2004, no Educandário São Francisco, em Piraquara, reclamam da ausência do governo do estado depois da tragédia. Os parentes não receberam ajuda financeira para os funerais e não se tem notícia de indenizações pagas – já que os meninos estavam sob a tutela de um órgão público. A defesa do governo é que não foi nenhum educador ou agente de segurança o autor das mortes; e que não é sua incumbência arcar com despesas de sepultamento.

Justiça

Ivone Lima Cerqueira vive com um salário mínimo e não tinha dinheiro para sepultar o filho Jefferson Lima Cerqueira, um dos sete mortos na rebelião. "Ninguém veio falar com a gente. Eu não tinha dinheiro para o enterro. A única coisa que eu tinha era dor", conta a mulher.

O corpo do menino, na época com 18 anos, foi velado em uma igreja próxima ao bairro onde mora, na Zona Leste de Londrina. "Tivemos que pedir ajuda para os vizinhos e amigos, que pagaram as despesas do funeral. Nem cova a gente tinha. O jeito foi colocá-lo emprestado em uma sepultura do tio de um cunhado", lembra.

Com a ajuda de um advogado, em janeiro de 2005 Ivone entrou com uma ação na Justiça, cobrando indenização pela morte do filho. "Enquanto estava lá, o Estado deveria cuidar dele. Mas faltou custódia. Houve falta de prudência e zelo", afirma o advogado Juliano Tomanaga.

Na ação, é solicitada uma pensão de um salário mínimo até o ano em que Jefferson completaria 68 anos e uma indenização por danos morais de 500 salários mínimos (R$ 175 mil). No processo judicial, o estado apresentou defesa no mês passado e alega que não tem responsabilidade pela morte porque ela não foi causada por um agente penitenciário.

Para dona Ivone, o que faz sentido é que ele morreu dentro do Educandário. "Pouco antes do meu filho ir para lá, fui despedir dele no Ciaadi [Centro de Internação e Atendimento ao Adolescente Infrator e ele chorou dizendo que não queria ir. Parece que adivinhava que ia morrer. O pessoal do Centro disse que que ele ia aprender uma profissão, que ia ter psicóloga. Acreditei que lá ele podia sair do crime. Mas foi uma tragédia", afirma.

A família de outro londrinense, Oséias Carlos, com 16 anos na época da rebelião, também não recebeu nenhuma ajuda do Estado para o funeral. Em março de 2005, a avó dele, Vera Lúcia Pereira, entrou com uma ação de indenização.

Dúvidas

Valdecir Aparecido Mello Dalva cumpria medida socioeducativa no São Francisco por participação em um homicídio em Santa Maria, distrito de Santa Tereza do Oeste, Oeste do Paraná. Quando o crime aconteceu, tinha 17 anos e morava com a única irmã, Jorja Nunes Gonçalves, 42 anos. "Até hoje não sei qual foi o envolvimento dele no delito e por que morreu no Educandário", conta Jorja, que mora em Santa Tereza do Oeste, em condições precárias. Ela divide uma pequena casa de madeira com o marido e cinco dos sete filhos e paga R$ 150 de aluguel. O valor dos honorários do advogado fez com que desistisse de pedir indenização. Ela aguarda até hoje a ajuda prometida na época às famílias vítimas da rebelião. "O único apoio que recebi foi da prefeitura local, que organizou o sepultamento do meu irmão."

Pelos jornais

A voz fraca e pausada da aposentada Ana Luíza dos Santos, 75 anos, reflete a tristeza que sente ao falar do neto, Fernando Luiz Graciano, uma das vítimas da rebelião. Dois anos após a tragédia, ela ainda guarda a mágoa de nunca ter recebido a visita de alguém capaz de explicar o que aconteceu com o jovem, morto aos 17 anos. "O Fernando foi para um lugar e seis meses depois me entregaram o corpo dele cheio de furos", diz. "O que sei, descobri pelos jornais. Antes de morrer quero que alguém me dê uma explicação."

A aposentada, que vive em Jacarezinho, no Norte Pioneiro, educou o adolescente e sua irmã, que hoje tem 18 anos. A mãe do menino está internada há dois anos em uma clínica de recuperação para dependentes químicos e o pai cumpre pena por homicídio em Londrina.

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