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Paulo Vinícius brinca no escorregador de uma parquinho no Hauer: equipamentos quebrados exigem cuidado extra | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Paulo Vinícius brinca no escorregador de uma parquinho no Hauer: equipamentos quebrados exigem cuidado extra| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Brincadeira pode acabar no hospital

Um estudo feito pela organização não-governamental Criança Segura mostra que as quedas representam 50% das causas de hospitalização pública de crianças entre 1 e 14 anos no Brasil. Muitos dos acidentes ocorrem no parquinho. Segundo o estudo, o risco de lesão é quatro vezes maior se a criança cair de um brinquedo alto, acima de 1,5 metro. A coordenadora da ONG, Luiza Batista, lembra que o lazer seguro é garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O poder público deve fazer sua parte, na segurança e manutenção dos brinquedos, mas a população também tem seu papel. "A responsabilidade vem de dois lados: tanto do poder público, quanto de quem usa", diz Luiza.

Juliana, de 9 anos, já sentiu na pele os riscos de usar um brinquedo sem manutenção. No ano passado, ela foi brincar no escorregador e, por estar no sol há muito tempo, a chapa queimou sua coxa. "Parei no hospital até", conta a menina. Laura, de 7 anos, também não teve uma boa experiência. Ela caiu pela lateral do escorregador e quebrou a clavícula, há pouco mais de um ano, conta a mãe, Aparecida de Souza. Ela recorda, também, de ter visto uma criança pequena ficar com a perna cortada em uma das chapas do escorregador.

Laura Tiemen, 10 anos, frequenta o parquinho do Parque Tingui e avisa que as tábuas de um dos equipamentos estão soltas e lascadas. "Os pais sobem para levar os filhos e acabam quebrando. Aí não dá para a gente usar. Imagina se a gente enfia uma madeira na perna?", diz a menina. Ela conta que já encontrou cacos de vidro de garrafas de cerveja, além de carteiras de cigarro.

Entre um pulo e outro, Paulo Vinícius tenta vencer os obstáculos enquanto brinca no parquinho infantil que a mãe costuma levá-lo, no bairro Hauer, em Curitiba. Ele tem 4 anos e nem sempre consegue se equilibrar nas barras de ferro que estão no caminho para alcançar a passarela que vai dar acesso a outro brinquedo. Ao chegar ao tão esperado escorregador, dois empecilhos: a placa de metal está um pouco solta e há uma grande poça d’água no final do brinquedo. Esses são alguns dos problemas encontrados em dez playgrounds visitados pela reportagem e que podem transformar a brincadeira em risco para a criança.

O Manual de Normas de Segurança para Playground, elaborado pela ABNT (NBR 14350) e Abrinq, determina que os brinquedos devem respeitar alguns quesitos, como ângulo dos brinquedos, fixação, tipo de pisos e materiais adequados (como plástico, aço ou ferro galvanizado e com pintura atóxica e madeira tratada). De acordo com as normas, todo playground deve ter um livro de inspeção e um especialista deverá emitir um laudo técnico anual.

Mas, na prática, a situação é diferente. Há brinquedos quebrados, lixos acumulados e falta de iluminação. O secretário Municipal do Meio Ambiente, José Antônio Andreguetto, afirma que a prefeitura faz manutenção constante, mas o vandalismo é um empecilho. "O dinheiro que gastamos com a manutenção de brinquedos estragados poderia ser revertido para outras melhorias. O poder público tem de fazer sua parte, mas a população também", lembra ele.

A limpeza e manutenção dos locais mantidos pela prefeitura são feitas dentro de um cronograma. Dependendo do lugar, a periodicidade varia entre 15, 20 e 25 dias. No verão, as inspeções são feitas mais seguidamente por causa do crescimento do mato. Quanto à falta de lixeiras, o secretário justifica que falta verba para colocar em todos os parquinhos da cidade. Ele aconselha a pessoa a levar seu lixo para jogar em casa, assim como é feito na praia, por exemplo.

A mãe de Paulo Vinícius, a teleatendente Fabiane Correa Chagas, 29 anos, toma sempre cuidado quando leva o filho a um parquinho novo. Ela concorda que a responsabilidade da manutenção é do poder público, mas também acha que os frequentadores contribuem para o estado em que os parquinhos se encontram.

Outro problema, diz Fabiana, é que nem sempre o playground é usado apenas por crianças. Muitos aproveitam o espaço para consumo de drogas, álcool e baderna. Segundo ela, é o que ocorre na Praça dos Menonitas, no Hauer, aos domingos. "É tanta arruaça que não arrisco trazer meu filho nos fins de semana."

Pelo mesmo problema, a família caminha alguns quilômetros para não frequentar o parquinho existente ao lado de casa, no Jardim Eucalipto, no Boqueirão. "Lá, realmente, está um abandono só", lamenta.

A dona de casa Hilda de Fátima Santiago mora na Rua Dr. Lauro Gentil, no Sítio Cercado, onde há seis playgrounds completos – com gangorra, trepa-trepa e escorregador – dispostos quase que lado a lado, por duas quadras. No entanto, ela tem que tomar cuidado redobrado com os quatro netos.

Uma das tábuas da gangorra, por exemplo, está quebrada. E o escorregador também não está em bom estado, fora do eixo. Na opinião dela, a segurança tanto dos brinquedos, quanto do bairro, são aspectos a serem levados em conta. "Se tivesse iluminação direta no parquinho, as famílias iriam usá-lo à noite e não haveria tanto vandalismo", diz. Quando a reportagem esteve no local, encontrou três adolescentes sentados em um dos bancos usando drogas.

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Roteiro

Dos dez parques visitados pela reportagem, seis apresentam problemas na estrutura e nos brinquedos. Veja quais são:

Pracinha do Bar do Farol, no Parque Barigui

- O que tem: balanças, escorregador e casa de árvore com obstáculos.

- O local: fica em uma pequena área cercada, com mesas e bancos. Mesmo com a presença de lixeiras, o local tinha lixo espalhado.

- Perigo: os dois tótens de madeira que separam as balanças estavam soltos ou quebrados, com a corrente torcida.

Parque Tingui

- O que tem: brinquedos feitos de troncos de madeira e metal.

- O local: pouca areia, mas pouquíssimo lixo.

- Perigo: Um equipamento que tem escorregador dos dois lados está com as tábuas soltas e trincadas. Havia cacos de vidros embaixo de um deles.

Parquinhos na Rua Lauro Gentil, no Sítio Cercado

- O que tem: são seis jogos completos de equipamentos infantis (gangorra, escorregador e trepa-trepa) espalhados pela grande avenida.

- O local: quase todos eles estão pichados. Não há lixeiras. Falta areia na grande maioria.

- Perigo: dois deles encontram-se com as madeiras das gangorras quebradas e com o escorregador torto. É comum encontrar cacos de vidro nas proximidades. Os parquinhos margeiam uma valeta sem nenhuma grade de proteção.

Bosque João Paulo II

- O que tem: tubos imitando minhocas, trepa-trepa e escorregador.

- O local: muito lixo espalhado.

- Perigo: o trepa-trepa e o escorregador com pintura bem descascada e com alguns pontos de ferrugem.

Praça das Tendas, no Sítio Cercado

- O que tem: trepa-trepa, gangorras, escorregadores.

- O local: pouca areia e não há cestas de lixo.

- Perigo: bancos de troncos de madeira podres, fora da base. Escorregadores baixos e com pontos de ferrugem.

Praça dos Menonitas, no Hauer

- O que tem: brinquedo construído em estrutura de metal colorida.

- O local: amplo, dividido em dois espaços.

- Perigo: água empoçada na saída da gangorra; placa de metal solta, na junção de uma com a outra na gangorra, e pintura descascada.

- Outros parques visitados: parquinho na Cândido Hartmann; no Vista Alegre, ao lado do Farol Machado de Assis; Parque São Lourenço; e Praça do Semeador, no Sítio Cercado.

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Serviço:

Reclamações sobre a manutenção de parques públicos devem ser feitas pelo telefone 156.

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