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 | Divulgação/Hans Von/Fundação Pe. João Câncio
| Foto: Divulgação/Hans Von/Fundação Pe. João Câncio

Manter viva a cultura de um país não é tarefa fácil. Se não houver quem trabalhe para preservar o passado, muitos dos valores se perdem. Pensando nisso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) criou o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, que anualmente tem reconhecido as instituições que ajudam a conservar os bens materiais e imateriais do Brasil. O prêmio, concedido desde 1987, é uma homenagem ao jurista e jornalista Franco de Andrade, que trabalhou durante 30 anos no Iphan e se dedicou à criação de políticas para cuidar da cultura popular. Conheça os trabalhos vencedores de 2008.

O vaqueiro da caatinga (foto acima)

De: Fundação Padre João Câncio (Salgueiro, Pernambuco). Categoria: Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial.

A figura do vaqueiro está ligada à cultura de Pernambuco desde o século 17, quando os colonizadores portugueses iniciaram a integração do sertão aos centros econômicos do nordeste, Salvador e Olinda. Nos campos do interior predominava a criação de bois e cavalos, que seriam usados nos engenhos – era o apogeu da cana-de-açúcar. Nas fazendas, o vaqueiro sempre foi figura central. Alguns dos costumes do passado perduram até hoje. Um deles é o aboio (espécie de canto), usado ao conduzir o gado ou para orientar um companheiro que se perde. A indumentária também mantém suas peculiaridades: é indispensável o uso do terno de couro, do chapéu e das botinas, para lidar com o gado na caatinga. Entre os diversos elementos culturais constitutivos da vida do vaqueiro destacam-se ainda as celebrações festivas, a música, a dança, a culinária e as crenças e rituais desse homem nordestino, além dos fatos que deram origem à Missa do Vaqueiro.

Cultura popular do Vale do Jequitinhonha

De: Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha (Araçuaí, Minas Gerais). Categoria: Divulgação.

O Vale do Jequitinhonha, formado por cerca de 80 municípios do nordeste de Minas Gerais e com quase 1 milhão de habitantes, é uma das regiões mais desfavorecidas do país, a despeito de sua diversidade e riqueza cultural. Na década de 70, quatro amigos oriundos da região se mudaram para Belo Horizonte e constataram que os migrantes da região tinham vergonha em revelar sua origem. Decididos a reverter esse quadro, iniciaram um trabalho de recuperação da identidade local e passaram a viajar por todo o Jequitinhonha. A iniciativa deles culminou na realização do I Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, mais tarde chamado Festivale, que logo se tornou o movimento sociocultural mais importante da região, percorrendo 18 cidades desde 1980. Um dos grandes momentos do Festivale é a apresentação dos Grupos de Cultura Popular, que são formados por pessoas da mesma família que transmitem seus conhecimentos de geração a geração. O Festivale procura mostrar a diversidade de manifestações locais como as folias de reis, os bois de janeiro, congadas, catopés, trança fitas, tamborzeiros, marujos, caboclos e batuques.

Museu do Pão

De: Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari (Ilópolis, Rio Grande do Sul). Categoria: Preservação de Bens Móveis e Imóveis.

O conjunto arquitetônico dos moinhos do Vale do Taquari, na Serra Gaúcha, é um admirável registro da imigração italiana do começo do século passado. As engenhosas construções de madeira significavam a conquista de uma vida autossustentável para as famílias recém-chegadas, que tinham o pão e a massa como base culinária e econômica. Em 2000, a professora e ambientalista Judith Cortesão foi uma das primeiras a apontar para a urgência da restauração, pesquisa e divulgação dos moinhos coloniais. De lá para cá, alguns voltaram a funcionar, como o Moinho Vicenzi. Em 2004, a criação da Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari foi o primeiro passo para a recuperação do Moinho Colognese. Depois da reforma, foi criado ali o Museu do Pão e Oficina de Panificação. O museu apresenta uma linha do tempo que resume 6 mil anos da história do pão e um pouco da saga da imigração italiana para a Serra Gaúcha. A Oficina de Panificação visa à recuperação da culinária tradicional e da capacitação de jovens para o exercício da profissão.

Parques Paleontológicos da Quarta Colônia

De: José Jerundino Machado Itaqui (Santa Maria, Rio Grande do Sul). Categoria: Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico.

A Quarta Colônia está localizada na região central do Rio Grande do Sul. Com uma área de 2,9 mil quilômetros quadrados e 60 mil habitantes, é formada por nove municípios: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins. O Rio Jacuí, que corta a região, ganhou projeção internacional pois é rico em sítios arqueológicos de grande relevância científica, onde foram descobertos restos do sacissauros agudoensis, animal de transição do período Triássico. O projeto de identidade do local começou em 1989 e desencadeou em diversas ações de preservação. A primeira se refere à criação, em São João do Polêsine, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica, que deve ser inaugurado esse ano. O centro pretende disponibilizar às universidades infraestrutura para o ensino e desenvolvimento de pesquisa. Em uma segunda fase, devem ser construídas três unidades museológicas.

Carnaúba, pedra e barro

De: Olavo Pereira da Silva Filho (Teresina, Piauí). Categoria: Pesquisa e Inventário de Acervos.

A publicação Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy é resultado da pesquisa desenvolvida ao longo de 40 anos por Olavo Pereira da Silva Filho, arquiteto, urbanista e especialista em restauração e conservação de conjuntos e monumentos históricos. A obra foi reunida em três volumes e ganhou o prêmio do Iphan na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos. O autor associa a pesquisa arquitetônica aos fenômenos sociais, econômicos e culturais, informando sobre a origem e evolução das cidades piauienses entre os séculos 18 e 20, além de abordar as condições de preservação desse acervo. A falta de referências sobre o material arquitetônico e urbanístico do Piauí motivou o arquiteto mineiro a fazer o levantamento, especialmente sobre os elementos construtivos ali utilizados: carnaúba, pedra e barro.

Para aprender na escola

De: Prefeitura municipal de Contagem (Contagem, Minas Gerais). Categoria: Educação Patrimonial.

Contagem, com cerca de 600 mil habitantes, criou uma solução diferente para ajudar a população a resgatar os dados culturais e patrimoniais do município. O "Programa de Educação Patrimonial: Por Dentro da História" visa à promoção, organização e divulgação de atividades educativas voltadas para a valorização e proteção da memória, a necessidade da preservação dos bens culturais e o fortalecimento da noção de pertencimento à cidade. Foi feito um concurso para a eleição do mascote de Contagem, o Contagito. Depois da seleção, foi criada uma turma de personagens que deram vida às histórias contadas em um livro infanto-juvenil. O programa inaugurou ainda o Curso de Iniciação à Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural, com carga horária de 600 horas/aula, que capacitou 20 jovens, na faixa etária dos 16 aos 24 anos, em sua maioria em situação de vulnerabilidade social.

Patrimônio Indígena (foto)

De: Instituto de Pesquisa Etno-Ambiental do Xingu (Canarana, Mato Grosso). Categoria: Apoio Institucional/Financeiro.

O Parque Nacional do Xingu, criado em 1961 e homologado em 1991 pelo governo federal, abriga em sua área 14 etnias indígenas. Com a demarcação das terras em 1978, muitos locais que pertenciam aos índios ficaram fora da área do parque, principalmente os lugares considerados por eles como sagrados, que guardam a história e tradição de algumas tribos. Entre eles está o Sagihengu, no Rio Culuene, um dos formadores do Rio Xingu, onde viviam a tribo kalapalo. Há também a caverna Kamukuwaká, dos waurás, à beira do Rio Batovi. Segundo a crença, a caverna é o local habitado pelo deus que protege os povos indígenas e onde teve início a tradição de furar a orelha, a qual marca a entrada dos rapazes no mundo dos adultos. Apesar de as tradições ainda serem narradas, a maioria dos povos indígenas não conhece esses lugares. Para não perder a memória da cultura indígena, o Instituto de Pesquisa Etno-Ambiental do Xingu iniciou um trabalho de recuperação.

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