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Os pedestres curitibanos são os que mais reclamam da falta de educação dos motoristas. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito (Abramcet) em oito capitais brasileiras e quatro grandes cidades do interior de São Paulo. No total foram ouvidas 1,5 mil pessoas. Na capital foram 100 entrevistados e 62% apontaram a má educação dos condutores como a principal preocupação entre oito problemas listados pelos pesquisadores (veja gráfico). Nas demais cidades, em média 50% das pessoas ouvidas fizeram a mesma crítica.

O lojista Flávio Machado, 31 anos, concorda com a pesquisa. Mas para ele o problema está na falta de consciência tanto por parte do motorista que esquece que já andou a pé, quanto por parte do pedestre. Ele lembra do tempo em que viveu na França. "Lá basta o pedestre colocar o pé na via para os carros pararem, mesmo com o sinal aberto. E os pedestres também respeitavam mais. Se você estivesse saindo de uma garagem, o pessoal parava para dar passagem ao carro", conta.

O que o lojista diz faz sentido para a coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen. Por meio de uma pesquisa, que ainda está sendo concluída, a professora observou a dificuldade de motoristas e pedestres em reconhecer suas falhas. "O erro sempre é do outro. Um aluno até brincou dizendo que as pessoas terceirizam a culpa", diz. Segundo ela, um exemplo disso é que os entrevistados utilizam parâmetros diferentes para descrever um bom motorista e se auto-definir como um bom condutor. "Quando perguntamos o que é um bom motorista, ele responde que é aquele que dirige defensivamente. Mas quando perguntamos porque ele se considera um bom motorista a resposta aponta outros motivos", conta.

Para o responsável pela Diretoria de Trânsito (Diretran) de Curitiba, coronel Gilberto Foltran, o comportamento daqueles que dirigem está relacionado ao temperamento de cada um. "Não é por desconhecimento das leis de trânsito que o motorista erra", avalia. O Núcleo de Educação e Cidadania da Diretran mantém um programa onde diariamente uma equipe de educadores especialistas em trânsito visitam escolas, empresas e associações dando orientações. Em 2005, 82 mil pessoas foram atingidas pelo projeto. A mesma equipe treina guardas municipais para orientar motoristas nas proximidades de escolas municipais. Para agosto, o órgão estuda uma nova campanha para os motoristas.

A psicóloga especialista em trânsito Adriane Picchetto Machado considera que as campanhas educativas geralmente são muito limitadas. "Precisamos mexer com questões mais amplas de cidadania, focando uma mudança de comportamento", defende. Nesse sentido, Adriane defende que um programa seria mais eficaz. "As campanhas são mais limitadas. Com um programa teríamos uma abordagem mais profunda e pulverizada. E como duraria mais seria possível uma análise de resultado mais científica."

O universo de entrevistados na capital paranaense foi formado por 45 pedestres e 55 motoristas. Quando a pergunta é dirigida só aos condutores, 49% deles consideram que o congestionamento é o principal incomodo - o menor porcentual entre as cidades pesquisadas. Em média, considerando todas as cidades pesquisadas, 61% dos entrevistados apontaram o congestionamento como o fator mais irritante do trânsito.

Para diretor da Diretran, não existe congestionamento em Curitiba. "O que existe é um fluxo lento em determinadas regiões e em alguns momentos do dia." A recomendação é que o motorista planeje sempre seu trajeto antes de sair de casa e busque caminhos alternativos.

De acordo com o presidente da Abramcet, Sílvio Médici, o objetivo da pesquisa foi descobrir quais os motivos de insatisfação no trânsito do ponto de vista do condutor e do pedestre. A intenção é encaminhar os resultados do levantamento para os gestores de trânsito de cada cidade pesquisada, colaborando com o debate sobre políticas de gestão de trânsito e transporte nas grandes cidades. "Sempre defendemos o investimento no setor. Ainda pretendemos realizar este ano outras três pesquisas, também no sentido de orientar as ações de órgãos competentes", afirma o presidente.

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