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Na região metropolitana, o costume de fazer vinho em casa integrou projetos turísticos como o Circuito Italiano, em Colombo; o Caminho do Vinho, em São José dos Pinhais; e o Circuito da Natureza, em Almirante Tamandaré. Em São José, por exemplo, a experiência ganhou forma em 1999, na área da Colônia Mergulhão (veja info), onde havia uma espécie de "rua do vinho", tamanho o número de moradores chacareiros envolvidos em produção para consumo familiar, mas não vendo mal nenhum em embalar para presente.

As plaquetas na frente, dizendo "Vendo vinho", foram substituídas por fundos de tonel, digamos, garrafais, trazendo nome das famílias em amarelo. O local – uma via de 14 quilômetros, pavimentada com blocos de pedra em quase toda a extensão – forma a principal artéria do Caminho do Vinho, cuja paisagem ao fundo merece uma "Tarantella" a 50 vozes – a Serra do Mar. Com exceção do barulho dos aviões a caminho do Afonso Pena, nem as cantinas, as pedras ou as placas parecem ter mexido com a rotina dos colonos, como a reportagem pôde conferir em busca dos "representantes de Baco na altura da BR–376".

Na primeira parada vive Giácomo Laureanti, italiano nato, 74 anos, pintor e escultor, atividades que mantém apesar de ter saltado de 7 mil litros para 25 mil. Dez passos adiante mora Leopoldo Bortolan, 72 anos, pouca conversa, uma bela cantina, duas mil parreiras e 40 mil litros/ano. Do outro lado da rua, Vito Pissaia, 71 anos, produz 10 mil litros/ano: os barris são de madeira, os porões em terra nua e o perfume da fermentação parece vindo por encomenda.

Ao lado de Giácomo, Leopoldo e Vito, a confraria são-joseense já enleou gente ainda em cueiros, como Lúcio Bellino, 29 anos, filho do siciliano Mário. Pai e filho colocam na praça 75 mil litros a cada estação e levaram o negócio tão a sério que a frente da casa virou um tonel gigante, passível de ser visto da chácara de Hamílton Daldin, na qual se produz 55 mil litros. A última parada, em frente à Capela Imaculada Conceição, é na casa de Eloir Pissaia, 50 anos, 32 mil litros/ano. "Desde quando faço vinho? Desde que me conheço por gente", calcula, sem querer, em nome da rua inteira. Somando tudo, são três séculos de uvas esmagadas.

Sem procuração registrada em cartório, Eloir é o memorialista do vinho nas divisas do Mergulhão. Retira fotos da parede para justificar porque a bebida é, como todo hábito, uma segunda natureza. "O papai levava o vinho para o vizinho. O vizinho fazia o mesmo. Era uma alegria. Foram os melhores anos da vida. Essa lembrança até hoje mexe com a gente".

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