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Uma sentença da Justiça de São Paulo contra a Eletropaulo trouxe à tona os riscos que as redes de alta tensão oferecem à vizinhança. Segundo a decisão, além do perigo de acidentes com o rompimento de cabos, as linhas de transmissão podem ter efeitos cancerígenos quando as emissões são superiores a um microtesla (densidade do fluxo magnético formado pela corrente elétrica que passa pelos cabos). Segundo a Copel, as linhas de Curitiba e região oscilam de um a 10 microtesla.

Teoricamente, o perigo não existe, porque é proibido construir na área de segurança das linhas (veja mapa ao lado). Na prática, porém, a situação é diferente: a reportagem da Gazeta do Povo visitou cinco bairros na capital e localizou cerca de 400 moradias debaixo das linhas. Em Colombo, na região metropolitana, duas escolas foram erguidas no traçado das torres. O assunto é polêmico e divide especialistas em saúde, eletricidade e física, ganhando espaço na Justiça.

Segundo a Copel, a Grande Curitiba tem 63 linhas de transmissão, que interligam 40 subestações de diferentes portes ou classes de tensão. A empresa não informa quantas famílias vivem debaixo das linhas, mas a reportagem encontrou casas na Barreirinha, Santa Helena, Santa Quitéria, Sítio Cercado e Tatuquara. Em todos os locais havia material de reciclagem depositado na faixa de segurança, principalmente papel velho.

Somente entre o Tatuquara e o Sítio Cercado há cerca de 270 casas. "A Copel já esteve aqui, ameaçou nos retirar do local", disse Mari Terezinha Gomes, que mora no Jardim Palmeiras. Os cabos passam em cima de sua casa. No Sítio Cercado há ainda torres no canteiro central da Rua Izaac Ferreira da Cruz, onde os biarticulados circulam. No outro lado da cidade, no bairro Barreirinha, há 15 casas numa rua particular, aberta embaixo de três linhas de transmissão, nas imediações da Rua Professor Guilherme Batler.

Em Colombo, na região metropolitana, a linha de alta tensão passa por cima de duas escolas públicas. O prédio do Colégio Estadual Helena Kolody, no Jardim Monza, por exemplo, fica ao lado da rede. A cancha de basquete debaixo dos cabos energizados. Na região há ainda escolas particulares e casas na mesma situação. Já no Colégio Estadual Lacerda Braga, no Alto Maracanã, há uma torre cravada dentro do pátio, ao lado do terminal de ônibus, que é vizinho ao colégio.Debate

Segundo o engenheiro eletricista Ricardo Luiz Araújo, gerente do Lactec (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento), não há nada que comprove o risco de câncer para quem vive próximo às linhas de alta tensão. "O Lactec juntou todo o material sério existente e não tem nada que comprove o problema. Na verdade, o risco é físico, de levar um choque se um cabo se romper", disse. Ele disse ainda que no caso da decisão judicial de São Paulo, o problema é urbanístico. "Quem mora nos bairros nobres não quer as linhas", avaliou. O Lactec é um dos maiores laboratórios especializados em medições de campos eletromagnéticos em linhas de transmissão no país.

Mas, para o médico oncologista Carlos Lima Júnior, especialista em radioterapia, com residência no Hospital do Câncer de São Paulo e que atualmente trabalha no Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, não é possível negar o efeito cancerígeno de exposições prolongadas a campos eletromagnéticos. "Não há uma resposta definitiva. Porém um estudo inglês com crianças que moravam próximo a redes de alta tensão constatou que havia uma associação entre leucemia e a proximidade das redes", disse.

O estudo foi publicado no ano passado no jornal científico inglês British Medical Journal. Lima Júnior explicou que as cerca de 30 mil crianças foram estudadas em três grupos. "O primeiro levava em conta as que viviam a mais de 600 metros, o segundo entre 200 e 600 metros e o terceiro a menos de 200 metros. O estudo concluiu que quanto mais próxima, mais riscos havia de se ficar doente", informou.

Já o médico Luiz Antônio Negrão Dias, superintendente do Hospital Erasto Gaetner, discorda. Ele disse desconhecer algo que indique alguma relação efetiva e comprovada de que esses campos de energia eletromagnética venham a causar câncer.

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