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A falta de um plano de uso da madeira resultante do desmatamento da área onde será instalado o aterro sanitário de Guaraqueçaba, no litoral do estado, está fazendo a alegria de parte dos moradores. Eles encontraram na peroba abandonada, que pode ser facilmente recolhida, uma opção de renda.

Em alguns casos, entretanto, a atividade informal ganha traços de ilegalidade. Um pescador que não quis se identificar revende a lenha a restaurantes e ganha uns trocados. O problema está no jeitinho que ele encontrou para carregar a madeira: aluga um pequeno trator da prefeitura do município, pelo preço de R$ 15, que é colocado a serviço da comunidade fora do horário do expediente. "Ele (o funcionário da prefeitura, que não informou seu nome) está só quebrando um galho para mim", justifica o pescador.

Já o pescador Paulo Pontes, 31 anos, carrega a lenha em sua bicicleta e conta com a ajuda do filho Sérgio, 6 anos, para transformar as grandes toras em pedaços menores. "Não é para vender, vou usar em casa mesmo. É um jeito de economizar", diz.

O que preocupa a população de Guaraqueçaba não é a falta do plano de aproveitamento da madeira de lei, mas as possíveis conseqüências ambientais decorrentes da instalação do aterro, que deve entrar em operação até o fim deste ano. O depósito passará a funcionar à beira da Estrada do Bronze, a cerca de 50 metros de um córrego.

A comunidade da Vila de Poruquara, distante cerca de três quilômetros do aterro, é a que se sente mais afetada. O problema, segundo explica o presidente da associação dos moradores, Cristian Luiz Miranda de Oliveira, é que o córrego desemboca na baía do Poruquara. "Quem vai querer comprar nossa ostra sabendo que está perto de um lixão? Será que não vai contaminar mesmo as águas?", questiona. As 30 famílias que vivem no local têm no cultivo da ostra sua principal fonte de renda. O projeto foi implantado em parceria com a Emater e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há 15 anos.

O problema com a destinação final do lixo gerado em Guaraqueçaba é antigo. Há cerca de dez anos um lixão é mantido em área de proteção da Mata Atlântica, na beira da estrada de terra que dá acesso ao município, distante apenas cinco quilômetros do centro. Em junho de 2004, o Ministério Público firmou um termo de compromisso com a prefeitura, que tinha 120 dias para apresentar, entre outras coisas, o projeto de um novo aterro. "Até hoje não recebemos nenhum projeto. Estaremos executando a multa ao município", afirma a procuradora do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho. No lixão é despejada diariamente cerca de uma tonelada de resíduos sólidos gerados por 2 mil pessoas que moram na cidade.

De acordo com o prefeito Riad Said Zahoui, existe o projeto do aterro sanitário, que conta com licença prévia do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e do Ibama. Além disso, um pedido de autorização para a destinação final da madeira proveniente do desmatamento teria sido feita ao IAP, em dezembro do ano passado, mas não houve resposta. Sobre a utilização de um pequeno trator da prefeitura, alugado fora do horário do expediente, o prefeito disse que a denúncia será apurada. O presidente do IAP e secretário de Estado do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, foi procurado, mas não retornou as ligações.

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