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A eliminação seletiva de memórias deixou de ser apenas ficção científica - ao menos no caso dos camundongos. Um grupo de pesquisadores da Universidade da China Oriental, em Xangai, e da Faculdade de Medicina da Geórgia, nos Estados Unidos, conseguiu apagar recordações específicas do cérebro dos roedores sem danificar as estruturas neuronais ou prejudicar outras lembranças.

O estudo será publicado amanhã (23) na revista científica "Neuron". Os pesquisadores eliminaram memórias relacionadas a situações dolorosas e ao conhecimento de objetos previamente apresentados às cobaias.

EXPERIMENTOS

Os cientistas já sabiam que a enzima aCaMKII, presente no cérebro dos roedores, desempenhava um papel importante nos processos de memorização e aprendizagem.

Para conhecer melhor o funcionamento da substância, criaram uma linhagem de camundongos transgênicos que produziam, na parte anterior do cérebro, uma quantidade excepcionalmente alta da enzima.

Os pesquisadores também sintetizaram uma substância inibidora - a NM-PP1 - que, quando injetada nas cobaias, restabelecia os níveis normais da aCaMKII durante um intervalo de tempo limitado - normalmente 30 minutos.

Os camundongos geneticamente modificados foram submetidos, então, a diferentes testes de memória. Ficou claro que as recordações evocadas pelos roedores enquanto o nível da enzima estava alto eram apagadas de forma seletiva, irremediável e quase instantânea. Somente quando a cobaia estava sob o efeito da substância inibidora é que as memórias permaneciam intactas.

Os experimentos realizados compararam o desempenho dos camundongos na evocação de memórias antigas e recentes. Em ambas, as cobaias apresentaram déficits de memória quando não receberam a substância inibidora.

APLICAÇÕES

À reportagem, Joe Tsien, co-autor da pesquisa, afirmou que o conhecimento obtido poderá ser útil no futuro para tratar pessoas com stress pós-traumático ou com medos associados a lembranças desagradáveis. Mas ele considera que qualquer terapia vai demorar muito para chegar. "Provavelmente, não estarei vivo quando ela surgir", considerou Tsien. Ele também recorda que a estrutura do cérebro humano é muito mais complexa.

Para Sidarta Ribeiro, pesquisador brasileiro do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte - citado na bibliografia do artigo da "Neuron" -, o mais relevante na pesquisa não são suas possíveis aplicações. "As descobertas são importantes do ponto de vista do conhecimento básico", explica Ribeiro. "Elas lançam alicerces, pois revelam quais mecanismos moleculares são iguais ou distintos nos processos de aprendizado, consolidação e evocação da memória."

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