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Vestígios

Cambé teve missão com "mil almas"

O município de Cambé é outro que abriga vestígios de reduções jesuíticas, oriundos da missão San Joseph, construída em 1625. O sítio arqueológico foi descoberto por pesquisadores no final dos anos 1980, mas o anúncio sobre a existência do aldeamento ocorreu há apenas dois anos. De acordo com o diretor do Museu Histórico de Cambé, César Cortez, está sendo negociada a compra da área da Fazenda Dalmácia pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Ele acredita que a aquisição da área tornará o trabalho de preservação mais viável. "A princípio, temos uma extensão que seria de 15 alqueires. Como não temos prospecção, não sabemos até onde vai."

Cortez sustenta que há grandes chances de se encontrar na área mais materiais arqueológicos. O que não se sabe ainda é se será possível achar parte das ruínas da redução jesuítica. A estimativa é que a missão tenha abrigado cerca de "mil almas". "Sabemos, pelo estudo de outras missões no Paraná, que, normalmente, os jesuítas construíam uma capela, a casa dos padres, uma oficina e residências. Provavelmente, se a capela foi feita com material resistente, isso poderia ser encontrado", diz.

Orientação

Diversos fragmentos de cerâmica e instrumentos de pedra polida, como machado e pilão, encontrados na Fazenda Dalmácia, podem ser conferidos no Museu Histórico da cidade. Boa parte das peças, salienta Cortez, evidenciam uma produção indígena orientada por jesuítas. É o caso de bases de castiçais, peças com alça e recipientes para guardar água, de fundo achatado. "Antes do contato com o branco, a produção dos índios era outra. Tudo isso levantamos através de estudos multidisciplinares", acrescenta.

Entre mil sítios, Marialva é o mais recente

Indígenas ocupam o território paranaense há pelo menos oito mil anos. Como provas dessas civilizações, existem catalogados mais de mil sítios arqueológicos em todo o estado, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). O mais novo sítio arqueológico registrado do Paraná foi descoberto em Marialva, onde pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) já localizaram dezenas de ferramentas e cerâmicas típicas de tribos tupi-guarani. "Há cerca de 50 anos o solo da região sofre mudanças por conta da agricultura no local. Por causa do arado, por exemplo, a maioria das peças arqueológicas foi destruída", explicao professor Lúcio Tadeu Mota.

Somente na região Noroeste do estado, estima-se que existiam mais de 200 mil índios, segundo relatos dos padres jesuítas em 1580. A presença de padres espanhóis no Noroeste também deixou vestígios e deu origem a duas reduções jesuíticas: Cidade Real, localizada no hoje município de Terra Roxa, e Cidade Espanhola, em Fênix. "Isso é o que é oficialmente conhecido na região, mas existe muita coisa a ser estudada ao longo dos rios [Ivaí, Paraná e Paranapanema]. O potencial arqueológico da região é muito grande", afirma.

Tatiane Salvatico

Espécie de pterossauro é descoberta em Cruzeiro do Oeste

Uma nova espécie de pterossauro – réptil voador que viveu na Terra há cerca de 100 milhões de anos – foi descoberta em Cruzeiro do Oeste, no Noroeste do Paraná. A descoberta foi feita pelo Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (Cenpáleo), que comprovou que os fósseis encontrados há quase 40 anos na cidade eram mesmo de pterossauros.

O coordenador do Centro e um dos responsáveis pela pesquisa, Luiz Carlos Weinschutz, afirma que a constatação foi realizada após a análise de quase uma tonelada de material coletado no Sítio Paleontológico de Cruzeiro do Oeste, onde além da nova espécie, foram encontrados dezenas de outros pterossauros. O geólogo lembra que a região Noroeste do estado abriga diversos indícios de sítios paleontológicos. Ele conta que na década de 1970, o padre Giuseppe Leonardi documentou possíveis pegadas de dinossauros, próximas ao local onde foram localizados os pterossauros. "Acreditamos que com o reconhecimento da nova espécie ocorra uma corrida de pesquisadores e estudantes à região".

Weinschutz defende que, sob o ponto de vista da ciência, a descoberta pode mudar teorias a respeito da vida dos pterossauros. Além da nova espécie, o pesquisador salienta que foi a primeira vez na história da ciência em que foram encontrados ossos de pterossauros longe do mar. "Isso muda o conceitos na questão evolutiva das espécies."

Tatiane Salvatico

Frágil e finito. Assim pode ser definido o patrimônio arqueológico que um grupo de trabalho da Universidade Estadual de Londrina (UEL) pretende preservar no Pa­raná a partir deste ano. Em parceria com o Museu Histórico de Londrina e o Museu Paranaense, estudantes e professores do curso de História pretendem realizar ações concretas em prol de sítios arqueológicos com mais de 400 anos no Norte de Paraná. Os vestígios históricos já descobertos estão em Cambé, Itaguajé, Santo Inácio, Fênix e Ibiporã e remetem a fundações de missões jesuíticas destruídas em confrontos com paulistas e bandeirantes.

A diretora do Museu Histórico de Londrina, Re­gina Célia Alegro, explica que o objetivo da criação do grupo é reunir pesquisadores interessados em favorecer a preservação destas áreas. Trata-se de um trabalho de conscientização, que deve ser estendido ainda a crianças por meio de atividades educativas. "Também vamos estudar mais o assunto porque precisamos de novas pesquisas sobre esses sítios arqueológicos da região", comenta.

Herança

Ela salienta que o trabalho de resgate e preservação da herança cultural de outros povos e épocas é importante para lançar luz sobre aspectos históricos ainda desconhecidos pela maioria das pessoas. "Isso tem a ver com nossa identidade, com quem somos, de onde viemos e quais grupos e tradições existiram. Assim, podemos nos conhecer melhor enquanto sociedade e indivíduo", argumenta.

Para a arqueóloga Cláu­dia Inês Parellada, do Museu Paranaense, os estudos ajudam a refletir sobre o passado dos povos paranaense e brasileiro e as relações sobre sociedades que aparentavam ser diferentes, mas que se complementavam. "Temos hábitos que vieram do cotidiano indígena, como tomar banho todos os dias. Recuando um pouco no tempo, conseguimos entender um pouco nossa história", observa.

Resgate

A pesquisadora assinala que ainda é preciso uma movimentação do poder público para garantir, de fato, a preservação dos sítios arqueológicos. Em Ibiporã, por exemplo, há vestígios da missão jesuítica de San Francisco Javier, de 1624, que ainda estão em uma propriedade particular. Em Itaguajé, que tem documentada a fundação da redução de Nossa Senhora do Loreto, de 1610, também não há controle para visitas e pesquisas.

"Dentro da área tombada ainda temos posseiros. Tem muito material arqueológico que ainda pode ser recuperado e estamos aguardando uma decisão do estado para fazer isso", diz o secretário de Cultura de Itaguajé, Altair Damião dos Santos.

Ele comenta que na área que abriga o sítio arqueológico é possível estimar a área onde teria sido erguida a igreja pertencente à redução. Algumas das peças encontradas no local, como flechas, foram encaminhadas para o Museu Histórico de Santo Inácio, já que Itaguajé ainda não possui museu.

Fênix abrigou cidade "espanhola"

O município de Fênix abriga os vestígios arqueológicos da segunda fundação da cidade espanhola de Villa Rica del Espiritu Santo, de 1589. A cidade, antes erguida nas proximidades do rio Cantu, foi transferida para perto dos rios Ivaí e Corumbataí após epidemias de varíola e gripe. Segundo a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Inês Parellada, Fênix ainda é o município que concentra a melhor estrutura de visitação de ruínas jesuíticas no estado.

O museu da cidade fica dentro do Parque Estadual Villa Rica do Espírito Santo. Cerca de 400 pessoas passam pela área por mês. Os visitantes podem ver peças encontradas no sítio arqueológico, como uma urna funerária, cerâmicas produzidas por indígenas e ossadas da fauna que habitou a região.

Em Santo Inácio, onde foi fundada a missão de San Ignácio Mini, a preservação da área conta com o apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A cidade é a única do estado a ter uma arqueóloga contratada pela prefeitura, relata Cláudia. Há museu para visitação com artefatos indígenas e instrumentos usados por jesuítas. "Em Santo Inácio, Nossa Senhora do Loreto [Itaguajé] e Fênix, temos as ruínas de taipa de pilão, um tipo de construção ainda em uso no interior do Marrocos", acrescenta a arqueóloga do Museu Paranaense.

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