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Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que 40% dos suicidas procuram atendimento médico antes de tirar a própria vida. Na maioria dos casos, a procura não é por psiquiatras, mas sim por outros especialistas, principalmente clínicos gerais. Partindo desse dado, o Ministério da Saúde (MS) lançou recentemente a "Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio". O objetivo é orientar profissionais de saúde a identificar e a lidar de maneira correta com pacientes com potencial suicida, evitando-se mais sofrimento – calcula-se que um suicídio afete diretamente de seis a dez pessoas, entre familiares e amigos.

Inicialmente, o MS distribuirá aos 918 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do país o livro Prevenção ao Suicídio: Manual Dirigido a Profissionais das Equipes de Saúde Mental. A estratégia também prevê distribuição de outro manual, Suicídio, Sobreviventes e Famílias, voltado a pacientes que tentaram se matar e a famílias que perderam integrantes dessa forma. A intenção é estender posteriormente a distribuição às unidades básicas de saúde.

O coordenador da estratégia, o médico psiquiatra Carlos Felipe D’Oliveira, afirma que o manual é um meio de combater a falta de debate sobre o suicídio, o que, segundo ele, é um tabu em todos as esferas da sociedade – inclusive entre os próprios profissionais da saúde mental. "É muito comum ouvir dos profissionais de saúde que o suicídio não é visto no curso de formação", exemplifica.

Dado mais recente do MS demonstra que em 2004 houve 8 mil suicídios no país. A média é de 4,46 casos por 100 mil habitantes – porcentual baixo, levando-se em conta que a partir de 6 casos por 100 mil habitantes é considerado preocupante. No mesmo ano, o Paraná teve a quinta maior média do país: 6,75 por 100 mil habitantes. De acordo com o Sistema Integrado de Ocorrências Policiais (Siscop) da Polícia Militar, em Curitiba e região metropolitana houve 81 casos de suicídios em 2004 e 86 em 2005.

D’Oliveira ressalta que o primeiro passo para prevenir o suicídio é dar atenção a quem dá indícios de que está sem motivação para viver. "A pessoa não diz que não tem mais por que viver só para chamar a atenção, à toa. Se ela chega nesse nível é porque realmente está sofrendo e tem esperança de que alguém a ajude", enfatiza. Em relação ao profissional de saúde, D’Oliveira afirma que a atitude frente ao paciente não deve se limitar ao aspecto clínico. "Se a pessoa se desloca até um serviço médico para dizer isso, que pretende tirar a vida, ela deve receber atenção especial."

Fatores

O médico Élio Luiz Mauer, professor-chefe do Departamento de Medicina Forense e Psiquiatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda. Na sua visão, o suicídio não é um tema exclusivo da Psiquiatria. "A questão do suicídio não deve ser mantida no sótão. O suicídio é causado por uma soma de fatores em que todos podem de certa forma interferir", aponta.

Entre os fatores sociais, Mauer elenca dificuldades nos relacionamentos pessoais e profissionais e tendências anti-sociais, como o isolamento. Já entre os fatores clínicos, o médico psiquiatra aponta a depressão, a dependência química, doenças psiquiátricas no geral, tendências impulsivas e a dificuldade em lidar com a dor, principalmente em relação a doenças físicas graves, que resultam em limitações e dores prolongadas. O histórico familiar de suicídios também deve ser levado em conta (ler texto ao lado). "O profissional de saúde deve estar atento a esses indícios no momento do atendimento e encaminhar o paciente ao tratamento adequado", reforça Mauer.

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