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Adelino teria recebido US$ 9 mil por intermediar doação

Uma das irmãs levadas de São João do Triunfo para os Estados Unidos voltou ao Brasil e, conforme o deputado Fernando Francischini, disse à CPI que viu Lino recebendo US$ 9 mil dos pais adotivos pela intermediação da adoção. Se a informação for verídica, de acordo com o deputado, Lino pode ter desrespeitado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê, no artigo 239, a proibição da obtenção de lucro na intermediação de adoções internacionais.

Procurado ontem pela reportagem, Lino não atendeu ao telefone celular. Em entrevista dada por telefone no último dia 2, ele disse que não iria se manifestar sobre o assunto, mas que as informações que estavam sendo veiculadas sobre ele eram "inverdades". O presidente da Limiar também foi procurado, mas a informação é que ele não estava na sede da organização em São Paulo.

Sobre a ONG Limiar

Fundada em 1984, a Limiar mantém um abrigo de crianças conveniado com a prefeitura de São Paulo (SP). A ONG também possui um site (www.limiar.org) em inglês no qual afirma que coordena a adoção de crianças brasileiras para casais norte-americanos.

A Polícia Federal (PF) cumpriu, no início da noite desta terça-feira (9), em Curitiba, um mandado de busca e apreensão de documentos relacionados a uma investigação sobre tráfico de pessoas. A ação ocorreu na casa de Adelino Souza, no bairro Bigorrilho. Adelino, mais conhecido como Lino, é apontado como um dos representantes no Brasil da organização não governamental (ONG) Limiar, suspeita de intermediar adoções internacionais supostamente irregulares de crianças de São João do Triunfo, no Centro-Sul do Paraná. O mandado foi solicitado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, em andamento na Câmara dos Deputados.

Segundo informações da Polícia Federal, não havia ninguém na residência na hora em que o mandado foi cumprido. No local foram apreendidos documentos relacionados a adoções internacionais. Ninguém foi preso e não houve flagrante. Os materiais apreendidos, de acordo com a PF, foram encaminhados para a superintendência da Polícia Federal em Curitiba e, posteriormente, serão entregues à CPI do Tráfico de Pessoas.

O deputado federal Fernando Francischini (PEN-PR), que é membro da CPI e que assinou o documento de mandado de busca e apreensão na casa de Lino, informou que desde 1999, a ONG Limiar não tinha mais autorização para atuar no Brasil, mas que, mesmo assim Lino continuava usando o nome da organização para intermediar adoções. "Ele [Lino] enganou o Tribunal de Justiça e o Ministério Público fingindo ser representante [da ONG], como se tivesse autorização, e assim conseguiu realizar as adoções", informou Francischini.

De acordo com o deputado, a apreensão realizada em Curitiba nesta terça-feira é a primeira que ajuda a comprovar as adoções irregulares no Paraná, e que, além de São João do Triunfo, outras cidades do estado também podem apresentar casos semelhantes.

Suspeitas

Um depoimento dado na manhã desta terça na CPI para apurar o tráfico de pessoa, aumenta as suspeitas sobre a Limiar Brasil, com sede em São Paulo, que intermediava adoções de crianças brasileiras para casais norte-americanos.

O presidente da ONG, Ulisses Gonçalves da Costa, que depôs aos deputados, disse que a organização parou de intermediar adoções em 1999 e que Adelino de Souza, conhecido como Lino e residente em Curitiba, não é representante da ONG no país.

O vice-presidente da CPI, o deputado federal Fernando Francischini, apontou duas principais contradições no depoimento. A primeira é que há indícios de que a Limiar intermediou a adoção de sete irmãos que moravam com os pais biológicos em São João do Triunfo, no Centro-Sul do Paraná, em meados de 2005, para um casal dos Estados Unidos, e que Lino ainda consta como representante da ONG no site do Tribunal de Justiça do Paraná.

Conforme dados da CPI, a ONG intermediou a adoção internacional de 1,7 mil crianças brasileiras nos últimos 20 anos. Algumas dessas adoções foram de crianças que residiam em São João do Triunfo. O Ministério Público se manifestou anteriormente afirmando que todas as adoções tiveram autorizações judiciais e que os processos não tiveram irregularidades.

"É claro que alguém está sonegando informações", reforçou Francischini. O deputado chegou a pedir, durante o depoimento, a prisão em flagrante de Ulisses Costa, mas o presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), disse que vai encaminhar o caso para a Polícia Federal para que a instituição instaure um inquérito policial.

A reportagem tentou contato, por telefone, com Adelino Souza, mas as ligações no celular não foram atentidas ao longo de toda a tarde desta terça.

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