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Apesar das 14 notificações de morte passíveis de doação de órgãos nos dois hospitais credenciados em Ponta Grossa, não foi realizado sequer um transplante na cidade nos últimos 12 meses. De acordo com dados oficiais, em dois casos o potencial doador tinha problemas de saúde que inviabilizavam o transplante, e nos demais as famílias não autorizaram o uso dos órgãos. As últimas doações ocorreram no segundo semestre de 2004, depois que a Central de Transplantes do Paraná denunciou que, durante dois anos, não foram registrados casos de morte encefálica.

O zero na estatística contraria qualquer probabilidade estatística, de acordo com o coordenador da Central, Carlos D’Ávila. A situação se repete em outras regiões do estado, com números abaixo do esperado tanto em notificações de morte quanto em doações realizadas. Para o neurologista Carlos Henrique Camargo, que integra a equipe de captação de órgãos do Hospital Bom Jesus, muitas notificações de morte encefálica deixam de ser feitas porque os pacientes têm problemas de saúde que inviabilizam a doação. O médico ainda destaca que os internados nos dois hospitais de referência da região geralmente não têm o perfil de doador. Por conta desses fatores, Camargo acredita que o novo sistema de acompanhamento de potenciais doadores não resultará em mais transplantes. "Mas vai servir para que a secretaria da Saúde veja que não existe má fé, negligência ou omissão", avalia.

"Nós comunicamos todos os casos de morte encefálica", garante a assistente social Tânia Mara Britto, da equipe de captação da Santa Casa de Misericórdia. Ela espera que as medidas administrativas do governo estadual colaborem para melhorar o sistema, já que, para ela, o simples acompanhamento do trabalho já realizado pelos hospitais não irá trazer resultados. "Por exemplo, uma campanha que diga ‘doe órgãos’ é muito superficial. Quando abordamos a família, as pessoas não sabem o que é morte encefálica e que o doador não é mutilado", enfatiza.

O presidente da Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar), José Francisco Schiavon, alega que a culpa não pode recair somente sobre os hospitais, já que uma série de fatores, como famílias reticentes e pouca divulgação, impede os transplantes. Schiavon afirma ainda que houve redução nos acidentes de trânsito com morte, o que representaria menos casos de pacientes em condições de doar os órgãos.

Além disso, muitos hospitais não teriam estrutura para detectar e assumir toda a responsabilidade pela captação. Ele lamenta ainda que as entidades representativas dos estabelecimentos de saúde não teriam sido convidadas a participar de discussões sobre o assunto. "Antes de punir, tem de informar e conscientizar. Não é com sanções que vamos ter mais órgãos para quem precisa", pondera.

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