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O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta | Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil
O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta| Foto: Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil

O vento gelado corta feito açoite nos altiplanos do Paraná, mas faça chuva, faça sol, seja domingo ou feriado, o inverno é a época do ano em que aparece uma legião de vendedores de beira de estrada nos Campos Gerais. São homens, mulheres e crianças que reforçam o orçamento doméstico com a venda do pinhão, que brota das araucárias nos meses frios de maio e junho. O fruto da árvore cuja abundância no passado chegou a dar nome à capital do estado, Curitiba, agora une três gerações de uma mesma família na barraquinha improvisada às margens da PR-151, perto da praça de pedágio de Carambeí, no limite com o município de Castro.

A aposentada Castorina Correia, de 57 anos, a filha Marilene da Silva, 19 anos, e a neta Rayane, de 1 ano e 10 meses, passam o dia todo em volta da caixa onde expõem os saquinhos de pinhão, no acostamento da rodovia. Normalmente Castorina fica de um lado da estrada e Marilene de outro, mas logo se juntam no lado de quem estiver com mais sorte. Elas chegam por volta das 9 horas e só saem perto das 18 horas. Rayane tem de ir junto porque a mãe diz não ter encontrado vaga na creche no distrito de Vila Esperança, onde moram. É preciso aproveitar a época e por isso não economizam esforços. Trabalham sábado, domingo e feriado, sob chuva ou frio.

Nos melhores dias é possível tirar até R$ 35, o que, segundo elas, não é pouca coisa para quem vive de aposentadoria ou de bicos. Marilene conta com a ajuda do marido nos "bastidores" do negócio. Para chegar às pinhas, ele tem de subir os quase 50 metros de altura das araucárias espalhadas por diversas propriedades particulares da região. Faz este serviço aos sábados, já que também trabalha no corte de madeira. Castorina, por sua vez, divide meio a meio o resultado das vendas com seus diferentes fornecedores. É um período para colocar as contas em dia. "Quando termina a época do pinhão, tem gente que até passa fome", diz Castorina.

Devastação

São 27 pontos de venda de pinhão nos quatro quilômetros entre a praça de pedágio de Carambeí e o trevo de entrada para Castro. Num deles está Maria do Carmo Canha, de 44 anos. A família mudou de Telêmaco Borba para Castro quando ela ainda era bebê. Naquela época os efeitos da devastação não eram tão visíveis. Até as lavouras de café e cereais cobrirem o Paraná, as araucárias eram tão comuns que os índios chamavam toda esta região de "curitiba", que na língua deles significa "imensidão de pinheiros". Daí nasceu o nome da capital do estado. A araucária também é conhecida como pinheiro-do-paraná. Hoje restam apenas 3% destas florestas no estado.

Maria do Carmo nunca foi à escola, não sabe ler nem escrever, tampouco conhece essa história de devastação, mas aprendeu desde cedo os valores nutritivos e econômicos do pinhão. Foi vendendo o fruto da araucária que ela ajudou o marido, operador de moto-serra sem emprego fixo, a criar os três filhos, hoje com 18, 20 e 30 anos. Por causa da bronquite, agora só vai à tarde para a rodovia, quase sempre acompanhada da nora e da neta de 2 anos. Apesar das dores na coluna, ela senta à beira da estrada e espera a boa vontade dos motoristas. Com sorte, consegue vender, em média, R$ 10 por dia. "Tem dia que não dá nada". O jeito, então, é ir tentanto até enquanto houver pinhão.

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