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A escola perde alunos para a violência, a burocracia, a gravidez precoce e para ela mesma. Falta de qualidade é motor para o abandono. Confira histórias de quem ficou pelo caminho.

Educação 0 X 1 Burocracia

• Ana Paula Matias, 13 anos, mora na Rua Abelardo Barbosa, no Tatuquara. Na placa da via sem asfalto está escrito Chacrinha, entre parênteses. Mas a alegria do Velho Guerreiro não tem feito parte da vida da adolescente. Em 2007, ela entra no seu terceiro ano fora da escola, embora more há 200 metros de uma, o Colégio Estadual Monteiro Lobato. "Só fico dentro de casa."

• O abandono de Ana começou no dia em que chegou em casa toda esfarrapada. Tinha levado uma surra na saída do colégio onde estudava, o mal-afamado Guilherme Maranhão, hoje sob intervenção do estado. A mãe Valdeílda Santana, 42 anos, auxiliar de serviços do terminal do Pinheirinho, preferiu a filha fora da escola "do que morta". Uma das colegas da menina acabou sendo assassinada enquanto fazia o percurso de 40 minutos a pé até chegar em casa. O mais difícil foi remendar o soneto: como a menina permaneceu vinculada à sua escola anterior, encontrou entraves administrativos para ingressar numa instituição mais perto de casa.

• Quando conseguir finalmente voltar, Ana Paula deve ser uma das meninas mais velhas de sua turma de 6.ª série. O descompasso entre idade e série, assim como a repetência, figura entre as causas da evasão escolar. "Minha filha foi tratada como se fosse uma delinqüente", lamenta Valdeílda, ao descrever sua maratona pela transferência. A menina escuta. Quer cuidar de crianças quando crescer e acha estranho a pergunta da reportagem sobre o que espera do futuro. "Fazer faculdade? Será que existe alguma para mim?"

• A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informa que Ana Paula reprovou em 2005, não usufruiu da sua vaga em 2006 e mora numa região com grande concorrência por vagas.

Educação 0 X 1 Violência

Os números da evasão no país são incertos, mas a "prova das ruas" é certeira. Basta parar numa esquina e abordar jovens com a pergunta: "Você está na escola?" A proporção pode chegar à espantosa marca de quatro para um. O teste foi feito na miserável invasão Terra Santa, 2 mil moradores, e Vila Pompéia, 5 mil.

• Há três anos, a escola local, o Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, está em reformas. Os alunos foram abrigados num barracão, ao qual se chega de ônibus fretado pela Seed, ou atravessando um bosque, atalho para os três quilômetros que a turma tem de percorrer até chegar ao bairro da Ordem. Três meninas foras estupradas no alvoredo neste tempo – uma delas morta. Foi mais do que um bom motivo para fugir da escola. Outro agravante é a briga de gangues, que já fez muito garoto voltar esfolado.

• Tânia Ferreira, moradora do Terra Santa, tinha uma filha no Beatriz. Ela foi vítima da violência que ronda o bosque. A menina deixou a escola para se recuperar do trauma. Hoje, trabalha e tem a mãe como advogada: ela milita de escola em escola uma vaga e uma chance de recomeço para a adolescente. (JCF)

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