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Tamarana – Dezesseis seguranças da Fazenda Três Jota, pertencente ao deputado federal licenciado José Janene (PP) - um dos principais acusados do escândalo do Mensalão -, foram presos na manhã de ontem, logo após expulsarem 32 famílias sem-terra que estavam acampadas no local, há quatro meses. Segundo relatos dos sem-terra, cerca de 30 homens armados entraram às 5h40 na fazenda, localizada entre Tamarana e Guaravera (Norte do Paraná), e mandaram todo mundo sair à força. Assustadas, as famílias fugiram rapidamente e não resistiram.

A Justiça havia concedido a reintegração de posse da fazenda de 70 alqueires em 15 setembro de 2006, mas o estado ainda não havia cumprido a ordem judicial. Segundo a Comissão de Mediação de Conflitos Agrários da Secretaria de Estado da Segurança Pública, a fazenda já estava na lista de desocupações a serem cumpridas e o plano de desocupação seria colocado em prática em breve.

Com gritos e ameaças, os seguranças teriam obrigado os trabalhadores a subir na carroceria de um caminhão, que os levou até uma cooperativa em Tamarana. "Chegaram ameaçando de morte e atirando. Tem gente com marca de carabina na testa", afirmou José Damasceno, coordenador estadual do Movimento Sem-Terra (MST). Sem se identificar, diversos trabalhadores relataram cenas de agressões e truculência: "‘Vagabundo, pilantra, vai embora daqui agora senão vai morrer.’ Foi assim que fui acordado", afirmou um sem-terra, de 63 anos, exibindo uma marca na cabeça. "Rasgaram a minha barraca e me chutaram", narrou outro, sem saber para onde ir.

Reação

Para prender os seguranças, 40 policiais militares e civis foram deslocados para a fazenda perto das 9 horas e vistoriaram a área em busca de armas. Dois acusados de pistolagem foram presos pela polícia. Amauri Nogueira, 42 anos, estava na porteira da fazenda portando um revólver 38 e 12 balas. Wellington Bispo da silva, 20 anos, foi preso no interior da Três Jota com dois cartuchos calibre 12. Com eles ainda havia um capuz preto, um canivete e um celular.

Outros 14 homens foram levados para a Delegacia de Tamarana, autuados e liberados depois de assinarem um termo circunstanciado por "exercício arbitrário das próprias razões". "Eles fizeram Justiça com as próprias mãos", ressaltou o delegado-chefe da 10.ª Subdivisão Policial, Sérgio Barroso. Foram apreendidas também duas motocicletas. O chassi de uma delas não tinha correspondência com a placa e o chassi da outra estava adulterado. No chão, a PM apreendeu ainda uma garrucha e uma carabina, ambas de fabricação caseira.

Perto das 8 horas, o delegado recebeu uma ligação de Damasceno, informando sobre o suposto desaparecimento de um membro do movimento. "Espero que não tenha ocorrido o pior", afirmou o líder. Até o começo da noite, João Batista Barbosa, 28 anos, era tido como desaparecido pelo movimento.

À tarde, os sem-terra voltaram ao local apenas para recuperar pertences, alimentos e objetos – o que só foi possível depois de uma longa negociação com a Polícia Militar, que cercou a área com 16 policiais fortemente armados, seis viaturas e cães.

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