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A Vila Rocinha, no Boqueirão, foi cenário dos assassinatos: moradores afirmam que policiais participaram das mortes | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
A Vila Rocinha, no Boqueirão, foi cenário dos assassinatos: moradores afirmam que policiais participaram das mortes| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Acusado foi reconhecido por 4 testemunhas no inquérito

O coronel Jorge Martins passou a ser suspeito da série de crimes após um ataque ocorrido no dia 10 de novembro, na Rua Cleto da Silva. Na ocasião, morreram Luiz Cláu­dio Pontello, 40 anos, e Amílcar Eduardo Arndt, 24 anos. Um rapaz de 20 anos, que conseguiu escapar mesmo atingido por dois tiros, reconheceu o ex-comandante dos Bombeiros em fotografias e deu detalhes sobre o crime. Segundo o depoimento, o atirador cruzou uma ponte de madeira com a arma em punho, já disparando contra o grupo. Outras quatro pessoas, entre testemunhas e sobreviventes dos atentados, também apontaram a autoria dos crimes ao coronel Martins. A partir disso, a Delegacia de Homicídios relacionou os crimes e encontrou evidências de que Martins seria o autor dos ataques.

Além dos reconhecimentos, a polícia encontrou na casa do coronel uma caixa de munições compatíveis com as usadas em ataques. Os projéteis serão submetidos a perícias, em um futuro exame de confronto balístico. As investigações também apontam que um dos carros de Martins – um Ecosport – é idêntico ao utilizado em alguns dos crimes.

A polícia não confirma o que teria motivado a série de homicídios atribuídos ao coronel Martins, mas afirma que as mortes começaram semanas após terem sido soltos dois jovens – usuários de drogas –, acusados pelo assassinato do filho do ex-comandante, em ou­­tubro de 2009. "Entretanto, nenhuma das pessoas que teriam sido mortas pelo suspeito tem relação com a morte do filho dele", ressaltou a delegada Vanessa Alice.

"Ele é um homem muito perigoso", diz tia de vítima

"Estou apavorada." A declaração da tia de uma das vítimas assassinadas reflete o sentimento de muitos moradores da Vila Rocinha. Mesmo com a prisão de um dos principais suspeitos pelo crime, ela tem medo de sofrer represálias. "Sabemos que estamos lidando com um homem muito perigoso e não sabemos se outras pessoas estão com ele", diz.

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Coronel se entrega

O coronel Jorge Martins se entregou no início da tarde de ontem e, desde então, está preso no quartel-general da Polícia Militar, em Curitiba. À noite, o oficial prestou depoimento na Delegacia de Homicídios por quase três horas.

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  • Veja no infográfico a cronologia dos crimes

Testemunhas da série de assassinatos atribuídos ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, de 56 anos, e moradores da região onde ocorreram os crimes acusam policiais militares de participarem, ainda que indiretamente, dos homicídios ocorridos no bairro Boqueirão, em Curitiba. Segun­do o inquérito policial, Martins é suspeito de ter matado nove pessoas e baleado outras cinco, que conseguiram escapar com vida.

O clima é de medo no bairro. Segundo moradores, por volta da 1h30 de ontem, uma Ecos­port estacionou no local e os cinco ocupantes do automóvel desceram e revistaram pessoas que estavam na Rua Cleto da Silva, palco de quatro ataques. Quatro testemunhas ouvidas individualmente pela Gazeta do Povo contaram que os homens estavam armados, encapuzados e que trajavam roupas escuras ou cáqui. Após a abordagem, eles teriam deixado um recado: "O coronel manda lembranças". Dentre as testemunhas, está o pai de uma vítima.

Outros elementos e depoimentos evidenciam a participação de policiais já no primeiro ataque atribuído ao coronel Martins, ocorrido na madrugada de 8 de agosto de 2010, próximo à favela da Rocinha. Na ocasião, um usuário de drogas morreu no local e outro, no hospital. Um homem foi baleado, mas sobreviveu.

Segundo uma moradora da região, o ataque ocorreu poucos minutos depois que uma viatura da PM passou pelo local e abordou o grupo. Após o crime, os mesmos policiais teriam retornado e adulterado a cena do crime, antes da chegada do Instituto de Criminalística (IC). "Eles [os policiais] apareceram muito rápido e pegaram os cartuchos que estavam no chão", conta.

Um morador da Cleto da Silva relata uma ação semelhante ocorrida por volta das 6 horas de 1.º de janeiro deste ano, quando foram assassinados Vanusa Angioletti, que seria usuária de drogas, e o taxista Luciano Vecchi da Silva. De acordo com ele, policiais militares teriam passado diversas vezes pela rua ao longo da madrugada. "Eles [os policiais] jogavam luz de farolete dentro das casas. Não sei o que procuravam, mas ninguém dormiu naquela noite", contou. "A gente acredita que os próprios PMs avisavam o atirador que tinha drogados na rua", supôs.

"Ronda"

Fontes da polícia afirmam que testemunhas do primeiro ataque do qual o coronel é suspeito apontaram a "ronda" de policiais e que a cena do crime teria sido adulterada. Entretanto, a informação não entrou no inquérito policial porque os moradores tiveram receio em testemunhar oficialmente.

Em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem, a delegada Vanessa Alice, responsável pela Delegacia de Homicídios (DH) até o fim do ano passado e que presidiu o inquérito, diz que as investigações indicam que os homicídios foram cometidos pessoalmente pelo coronel Martins. Entretanto, confirmou que há indícios da participação de outras pessoas em ameaças a moradores da região onde os crimes ocorreram. Vanessa, no entanto, disse não ter informações se essas pessoas seriam policiais.

Segundo moradores ouvidos pela Gazeta do Povo, depois que as mortes começaram a ocorrer, os casos de ameaça supostamente cometidos por policiais fardados se multiplicaram. O medo pode ser explicado por detalhes do inquérito: duas pessoas te­­riam testemunhado crimes e sido ameaçadas.

Uma mulher de 28 anos afirma ter sido torturada pessoalmente pelo ex-comandante e por quatro policiais. O corpo dela está marcado por pontas de cigarro. O caso foi registrado no 7.º Distrito Policial (DP), no bairro Hauer. Segundo moradores, desde que as suspeitas sobre o coronel Martins se tornaram públicas, viaturas passaram a rondar a via com maior frequência. "A gente vive com medo. Se um homem da lei fez uma coisa dessas, qualquer coisa pode acontecer", disse um homem que mora próximo ao local.

Na mesma rua, há dois bares onde, segundo relatos, o coronel Martins chegou a frequentar por mais de uma vez. De acordo com testemunhas, nessas ocasiões, o ex-comandante se portava de maneira tranquila, cordial e nunca chegou a ameaçar as pessoas. "Ele [Martins] se sentava em uma mesa do canto, pedia alguma coisa para beber e ficava ali. Ele até puxava papo", conta um morador. A delegada Vanessa Alice confirmou que as investigações apontaram que o suspeito costuma "voltar ao local do crime".

Veja o mapa com a localização de cada crime

Correção

A Gazeta do Povo errou ontem ao publicar o nome do filho do coronel Jorge Martins assassinado em outubro de 2009. Ao invés de João, ele se chamava Jorge Guilher­me.

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